Oba!
Oba! Aconteceu...
Chefe
Osvaldo foi ao Jamboree do Brasil.
Beleza! Avistei do alto do morro a
entrada do Jamboree. Sorri de orelha a orelha. Quanto tempo eim? Pensei. É,
fazia tempo que não ia em uma atividade assim. Já estava “aperreado” de tanto
ficar em casa. Precisava escoteirar, andar por aí, abraçar alguém dizer Sempre
Alerta, Melhor Possivel ou Servir. Sempre recebi muitos convites, mas sempre
num cantinho estava escrito: - Taxa 20 paus. Pagando com antecedência 15 paus.
Como um Velho duro e aposentado como eu podia ir? De graça? E o Chefe na portaria
me cobrando? – Pendure meu amigo. O Chefe tá duro! Valha-me Deus. Estava mesmo
difícil fazer escotismo hoje em dia. Sem tostão sua vida escoteira não vale um vintém.
Mas vamos voltar a minha chegada ao Jamboree. Eu sabia que seria fantástico.
Impossível imaginar quanta gente presente. Quem sabe encontraria amigos meus
que fiz e nunca vi pessoalmente? Garbosamente marchei na trilha que me levava à
entrada do campo. – Cantarolava uma velha canção do passado: ♫♫♫Onde vais tu,
oh Escoteiro, com teu bastão lesto a marchar! Candência certa passo certeiro,
aonde vais tu a acampar?
Era ônibus, caminhão, automóveis e vi
muitos helicópteros sobrevoando. Escoteiro rico é outra coisa. Nada como
enricar, pensei. Duas patrulhas de jovens lindas da Suécia passou sorrindo. Deram-me
um tchauzinho. Beleza! Escoteirada bonita, alegre cheia de espírito de B-P para
acampar. No portão fui entrando seguindo a turma que chegava rumo ao local de
campo. Meu caqui estava soberbo. Bem passado, botões abotoados. Lenço de
Insígnia bem dobrado, nem Dom Casmurro na sua gravata soberba se comparava ao
meu lenço bem colocado. Minha botina preta brilhava. Só de raiva coloquei
minhas jarreteiras verde e amarela. Pensei em colocar meu distintivo de
Primeira classe e meus cordões de eficiência. Não podia, Chefe não usa. Não faltou meu penacho verde e amarelo de
Chefe de grupo. Chefe de Grupo? Boa Vado escoteiro, isto não existe mais. Agora
é Diretor Técnico. Puxa! Nome pomposo, garboso supimpa! – A minha mochila verde
garrafa do exército Inglês ainda estava no ponto. Minha faca John Rambo à
direita, minha machadinha Mundial fazia jus a sua fama. Meu cantil Guepardo
Western da última guerra estava cheio. Não levei nele água, levei o puro uísque
Chivas 18 anos. Afinal água se achava em qualquer lugar, uísque não.
Marchando soberbamente na entrada do
campo eu ia junto a uma patrulha escocesa, todos tinindo de uniformização com
seus saiotes Kilt coloridos. Lembravam-me o famoso tartan do Clã dos Maclaren.
Eu estava adorando. Finalmente ia acampar. Na cancela alguém gritou: - Ei
velhote! Aonde vai? Respondi cantando: ♫Prá longe eu vou, a pátria ordena, sigo
contente meu monitor... Ele fechou a cara. Não tinha jeito para cumprir o
oitavo artigo. Moço Chefe! Eu disse. Vou acampar, será só uma noite, pois logo
devo partir. Vim aqui matar as saudades de um tempo que não volta mais! – Ele
me olhou enviesado: - Fez a inscrição? – Eu? Eu não moço Escoteiro. Pensei que
ficar só um dia não precisava. Precisa sim. Sem ela não entra nem com suas
medalhas fajutas. Poxa! Fajuta minhas medalhas? Ganhei há tanto tempo e nunca
mais me deram outra. – Moço Escoteiro, me deixa ficar algumas horas somente.
Logo vou embora! – Nem pensar, sem pagar a taxa aqui não entra, nem se fosse
Baden-Powell não entraria de graça! – Coitado do velhinho até hoje é amaldiçoado
pelos grandões que não dão o mínimo valor de seus métodos.
Olhei para ele. Merecia uma
bastonada na cuca. Tentei ser Cortez. Afinal sou educado prá xuxú. – Ele gritou
com seu companheiro: - Leandro Staff vá chamar vinte chefes do Staff e os donos
do poder. Este velhote precisa de uma lição. Não demorou e logo chegou uma
turma de chefes de fazer inveja. Cada um mais horroroso que o outro. Os donos
do poder chegaram logo. Eu já os conhecia de nome. Eram quatro. Alguns
estupendamente bem uniformizados, outros daquele jeito que todos conhecemos.
Camisa solta, sandália, lenço amarrado nas pontas, cabeludo e barbudo. Bem cada
um veste como quer quem sou eu para condenar! Kkkkkk. – Então é você? Um
gritou. – Eu? Eu sou um pobre Velho Chefe Escoteiro, que não tem onde cair
morto excelência. Melhor mostrar respeito. Afinal eram os donos da EB e eu não
podia abusar. – Ele continuou: Aqui não entra, nem pagando. – Nem pagando
doutor? Tem fiado? Tem caderneta para pagar no fim do mês? – Necas, aqui gente
da tua espécie não acampa! – Mas Eminência, que espécie sou eu? – Outro
respondeu: - Espécie naftalina. Só vive no passado e acha que seu tempo era
melhor que o nosso!
Ah! Ah! – Então era assim? Escorraçado
do Jamboree só porque sou um Chefe naftalina? Desta vez não ia deixar de
barato. Chega de ser marido da barata. Agora era usar minha força de Ulisses,
do tronco de Stallone, do sorriso brejeiro de Schwarzenegger. Fiz a velha pose
de Shaolin. Lembrei de Jackie Chan, Bruce Lee e Jet li. Afinal não fui campeão
de Briga de Galo quando era um raquítico Escoteiro? Não entrei na caverna do
Morcego e enfrentei a morcegada só de cueca? Essa turma do CAN e do DEN iam ver
quem era eu. – Um deles apitou. Sempre o danado do apito. Gostam demais dele.
Vieram correndo dezenas de chefes armados até os dentes. – Agora você vai
enfrentar o Staff da UEB. Só chefes sem curso, sem Tropa, sem Alcatéia e
verdadeiros carniceiros escoteiros. Puxa vida! Ia falar um palavrão, mas não
sou disto.
Que seja! Não posso entrar? Tudo bem,
mas vocês vão conhecer a força de um Velho Chefe Escoteiro, conhecido como Vado
Escoteiro, que foi o III Escoteiro escriba da Patrulha Lobo. – Lembrei da pose de
Daniel San, o famoso lutador de Karaté. Que “Pat” Morita, o Senhor Miyagi me
socorra. A luta foi “braba” peguei um membro do CAN pelo “cangote”. Notei que a
sua camisa era verde. Turma danada gostam de mudar. Antes era preta depois azul
escuro agora é verde. O que mais que vão inventar? Levei um sopapo na testa
outro na “zoreia” e tudo começou a rodopiar. O chão era pequeno demais para
mim. Acordei caindo da cama e a Célia como sempre correndo para me socorrer. –
Mulher! Gemi. Apanhei prá xuxú. Esta turma do CAN não é mole. Agarram no cargo
e não querem sair e nem me deixaram entrar no Jamboree! – Ela sorriu. Sabia que
eu estava ficando senil. Pois é mulher, seu marido não está com nada. Ela deu
uma gargalhada. – Porque não vai para a varanda ver o sol se por atrás das
montanhas? Montanhas? Hummm! Ela também estava como eu. Ali não tinha mais
montanhas. Sumiram na modernidade da vida!
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