Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Estamos fazendo um escotismo de resultados?
Você sabia que dos dez países que em 1910 começaram a fazer escotismo no
mundo o Brasil era um deles? Você sabia que somos relativamente à população
local o menor em efetivo Escoteiro entre eles? Se hoje temos uma população de
jovens em idade escolar de quarenta e cinco milhões e menos de 65.000 jovens
participam do escotismo, quanto dá isto em termos percentual? Se desde 1910 em
tempo algum alcançamos pelo menos um por cento dos jovens brasileiros que
poderiam estar participando do escotismo, onde estamos errando? Pensando bem
isto é relevante? Pelo sim pelo não, alguns dizem que não sabemos aplicar o
programa e por isto não tivemos sucesso no crescimento Escoteiro nacional. Se
isto é fato, se a metodologia de Baden-Powell deu certo em dezenas de países do
mundo e no nosso não, porque ainda não soubemos corrigir nossa maneira de
atuar?
É fato que quanto mais
fortes fossemos mais resultados obteríamos. Verdade? Pensando nos resultados
propostos que seria a formação do caráter, honra ética entre os jovens e que
dentro de um programa factível, agradável e aceito de maneira espontânea sem
caráter de obrigação, não devíamos pelo menos ter alcançado um efetivo de pelo
menos quinhentos mil membros escoteiros? Muitos de nós estamos perdendo as
esperanças de colaborar na formação da juventude e chegamos a duvidar se
estamos no caminho do sucesso que Baden-Powell deixou para nós. Estamos
desacreditados? Nossos alicerces de homens formados na filosofia ainda é uma
utopia? Alguns afirmam que continuamos com as mesmas ideias e mudamos o que não
era para mudar. Claro, há discordâncias, mas o fato é que não obtivemos resultados
reais.
Nunca foi feito uma pesquisa,
uma consulta, um mutirão, ou mesmo um estudo junto às unidades locais (Grupos
Escoteiros) tentando ver in-locum o porquê não estamos crescendo. Nossas
lideranças Escoteiras ou se sentem auto-suficientes ou esqueceram ou não dão o
menor valor em ouvir as bases. Eles mudaram a estrutura, normas, mas em tempo
algum fizeram realizar entre os membros escoteiros uma discussão sobre este
tema e outros que foram impostos pela alta cúpula escoteira. Sabemos que é
somente pelos resultados que podemos saber se atingimos nossos objetivos.
Ensinar é aprender. Ensinar não é só transmitir conhecimentos. Sabemos que um líder
atuando não tem o vírus da sabedoria e do sucesso como um todo. A fase da
autocracia sem a verdadeira democracia mostra que os resultados nunca serão bons.
A organização
Escoteira no Brasil hoje funciona através de uma liderança representativa.
Muitos acreditam que ela é a melhor maneira de desenvolver e fortalecer o
escotismo brasileiro. Não se pensa em outra forma de direção e isto nunca
esteve em discussão. Tornou-se um tabu falar sobre este tema. A própria
liderança que decide tem menos de 0,2% dos voluntários adultos e são eles que tomam
decisões que são acatadas por todos sem discutir. Não existe transparência.
Tudo é feito sem consultas, sem pesquisas e poucos ficam sabendo até que se
torna realidade. A representatividade que deveria existe não existe. A maneira
atual de participação através de encontros nacionais, seminários, congressos, assembleias
não tem dado bons resultados. Só não vê quem não quer. Carecemos de um
marketing profissional e aquele que deveria produzir bons resultados através da
apresentação pessoal ficou aquém do esperado com as novas mudanças da
uniformização.
Ficamos órfãos e sem
representatividade nos meios sociais, educacionais, políticos e empresariais.
São poucos aqueles ex-Escoteiros com bons exemplos defendendo nosso valor e
nossa forma educacional. Não temos bons conferencistas e os exemplos para dar a
sociedade brasileira mostrando nossos valores são mínimos. Continua a velha
formula estereotipada de mostrar o que não temos e nem podemos provar. Nosso
efetivo sofre todo ano o efeito sanfona. Quando chegamos a um numero um pouco
melhor eis que seis mil em um só ano abandonam as fileiras Escoteiras. A evasão
até hoje não foi bem estudada pelos nossos lideres. Muitos nem se preocupam e
fazem dela uma maneira de introduzir novos membros com pensamentos iguais sem
contestação.
Infelizmente ainda não temos
meios para que possamos em uníssemos mostrar como poderíamos chegar lá. O sonho
de uma sociedade formada pela filosofia escoteira ainda não aconteceu. Uma mentalidade
única é o que acontece na maioria de nossa liderança. Não se discute não se
estuda o essencial dos resultados e alguns mais privilegiados explicam o inexplicável.
Acham assim que são os mais inteligentes
e espertos, que sabem tomar as decisões certas e que com seu poder irão consertar
o mundo escoteiro; sempre se julgam os melhores e mais capazes que os outros.
Seria isto mesmo? Impossível responder. Nossa politica de resultados caminha há
passos de tartaruga. O dia que tivermos mais ouvidos, mais compreensão, mais
fraternidade sem prepotência quem sabe podemos atingir o nível do caminho para
o sucesso conforme escreveu Baden-Powell.
Enquanto isto vamos ficando
para trás no efetivo escoteiro nacional comparativamente a diversos países do
mundo.
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