Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O último dos Caqueanos.


Conversa ao pé do fogo.
O último dos Caqueanos.

                   Nada contra de quem gosta da comprida caqui, amarela, cinza, azul, branca, roxa, verde e agora marrom e azul. Desbotada ou não. Nada contra. E olhe nada contra para quem gosta da vestimenta, desde que se apresente com garbo e boa ordem. Afinal somos uma associação cuja sociedade nos cobra sobriedade e apresentação. Já dizia B.P que um escoteiro bem uniformizado é nosso maior Marketing. Eu sou duma estirpe antiga, raça que aos poucos vai se extinguindo. Mesmo sabendo que o uniforme caqui não é uma tradição de centenas de anos, para mim ele é o único que vesti e vestirei em toda minha vida escoteira.

                    Muitos dizem que não somos uma organização militar. E dai? Se apresentar com garbo e boa ordem é militarismo em digo bah para eles. Uns tolos que nem sabem fazer um bom nó de Copenhague debaixo d’água. Risos. Sei que hoje se deu a liberdade de escolher o que quiser. Afinal a vestimenta tem tudo para oferecer aos novos chegados ao escotismo. São dezenove tipos para escolha. Prefiro meu caqui que tem uma só cor, um só estilo e ainda me dá aquela sensação de bem estar quando uso a bermuda curta. Lembro que nas inspeções meu Chefe fazia questão de ver se estávamos apresentáveis. Chapéu de abas retas, lenço bem dobrado, botões abotoados, meiões com frisos retos e sapatos engraxados.

                   Lembro que minha mãe sorria quando chegava sábado, eu na minha velha rotina ia conferir pela manhã como estava o brilho da fivela do cinto, das estrelas de metal e se o sapato estava bem engraxado. Claro a calça e a camisa deveriam estar bem passadas. E a dobra do lenço? Tinha que ser perfeita. Eram padrões da minha época e hoje a modernidade não se prende mais a estas exigências. Um amigo Chefe me disse que muitos jovens não entravam no escotismo por causa do uniforme. Achavam ridículo a calça curta. Bem já ouvi de alguns que não entram porque esta vestimenta não esta "com nada“. Questão de gosto não é mesmo?

                   Baden-Powell foi nosso exemplo. Quantas vezes me disseram que eu tinha postura militar? Tinha mesmo e sempre me orgulhei dela. Para mim uma base da nossa disciplina. Afinal os sinais manuais, as ordens de comando, o serpentear das patrulhas na formação ou jogos não é também meio militar? Dizem que critico muito a escolha da vestimenta. Eu? Never! Critico como foi idealizada por meia dúzia sem consulta a maioria. Eu sei que escolhas são escolhas e normas mesmo que não vindo do pensamento da maioria devem ser analisadas.

                  Lembro que em 1976 quando surgiu o social hoje vulgarmente chamado de traje estava eu em um curso avançado de calça curta. O dirigente educadamente me perguntou por que não estava como os demais com o traje. Fiquei sem jeito e quando retornei mandei fazer um. Agora só o usava em ocasiões especiais. Tive a honra de conversar quase uma hora com dois Governadores do meu estado e vários prefeitos sempre envergando o meu caqui com orgulho. Calça curta sim senhor! Quando jovem fazia questão de pegar dois ônibus ou ir de bicicleta para a sede devidamente uniformizado. Hoje fico triste ao saber que tem alguns chefes que vestem o uniforme na sede. Péssimo exemplo!

                 Nos velhos tempos era maravilhoso ver dirigentes de bermuda curta e Chapelão. Fiquei admirado quando vi o disco do Trio Irakitan com eles de bermuda curta. Marketing nota 10! E hoje? Temos algum cantor famoso que gravou músicas Escoteiras usando a vestimenta? Sei não. Fico triste quando vejo em uma sessão os jovens vestindo diferente, uns de um jeito outros de outro. A tal da camisa solta não dá para engolir. Já está virando uma preferencia nacional. E a cobertura? É cada um usando o que achar mais lindo. O chapéu de pano, de couro e outros é demais. Já vi até um dirigente usando um chapéu de cowboy.

                  Fico pasmado ao ver fotos de cursos, membros da equipe vestindo suas vestimentas como acreditam estar em uma atividade informal. Será que este é o exemplo atual? Já não discuto mais os tipos que aparecem com seus uniformes e vestimenta. Tem cada tipo de tirar o chapéu! Adianta comentar sobre garbo e a boa ordem? Necas! Tem até chefes que me criticam por isto. Paciência, agradar é difícil e sei que até B.P teve seu dia de tristeza quando lhe disseram que o escotismo não iria durar muito. Disseram-me uma vez que o escotismo tinha dois caminhos. O antes da vestimenta e o depois. Haveria filas enormes de jovens nas portas dos Grupos Escoteiros para se matricularem. Sei não. Vestimenta a quatrocentos paus não é para qualquer um.   

            “Mormente” eu uso a minha bermuda caqui curta dos velhos tempos e digo a ela com um sorriso de Velho babão: - Adoro você! Ainda tenho saudades do social vulgo traje. Sumiram com ele sem ao menos perguntar a plebe escoteira se ela concordava. Não sei se estarei vivo para ver como será o garbo daqui a vinte anos. – Tenho imensas saudades do meu passado, e isto eu sei que muitos não gostam, mas fazer o que? Quantas vezes de calça curta eu tive a honra de estar no Palácio da Liberdade conversando com o Governador Magalhães Pinto de Minas Gerais? O cara entendia “pacas” de escotismo. Cumprimentei o Presidente Juscelino que me convidou a subir no seu palanque em minha cidade com ela.


             Mas o que não esqueço nunca e jamais esquecerei foi quando sênior com minha patrulha cheguei de bicicleta a Malacacheta, na época um pequeno arraial perdido em Minas Gerais, o povo rodeando quando paramos na praça e alguém gritou; - Olhem! São Escoteiros do Brasil! Já ouvi falar deles! E no meio da multidão um gritou bem alto: Sempre Alerta! - E em 1965 descendo o Rio São Francisco em uma “Gaiola” (barco a vapor) quando chegamos a Juazeiro? Alguém nas margens nos viu e gritou: São Escoteiros! Corram todos, pois a Gaiola vai partir! Pai e mãe venham ver! Bão demais! São coisas que a gente nunca mais esquece. Que Deus permita que os vestimenteiros possam um dia lembrar-se das suas aventuras como eu me lembro das minhas. Então o mundo será pequeno demais para eles!

Nota: - Muitos dos modernos chefes de hoje me criticam quando fico aqui a escrever sobre garbo e boa ordem. Pode ser que eles tenham razão. Mas fico encucado em ver que não vejo e não ouço ninguém falando bem do escotismo na imprensa falada, escrita e televisada. Salvo é claro em alguns programas sem nenhum ibope ou de emissora com prestigio menor. Afinal temos ou não respaldo nos meios educacionais e empresariais?

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