E o velho escoteiro sempre a me contar historias.
Chefe Ralph, ser ou não
ser?
Ralph aceitou
a mudança da sua cidade para Rio Vermelho. Afinal a proposta da sua empresa era
muito boa. Consultou Doda sua esposa e ela concordou. Ela não estava
trabalhando e só cuidava de Robertinho e Lorena, quatro e seis anos
respectivamente. A única tristeza de Ralph foi deixar o Grupo Escoteiro Estrela
Cadente. Afinal ele e o Josué foram os fundadores. Uma pena mesmo, pois o grupo
crescera e a o bairro inteiro aplaudia os escoteiros. Mas ele precisava pensar
em sua vida profissional e viu ali em Rio Vermelho possibilidades nunca
sonhadas. A despedida da tropa foi triste, mas Ralph fez tudo para deixar todos
alegres. Afinal somos ou não somos irmãos? E isto não é mais que um até logo.
Sempre que possivel virei aqui abraçar vocês! – O Anrê foi vibrante. Ralph
amava aquele grupo. Agora precisava seguir em frente. Lembrava-se de um filme
que assistiu - “Nada é para sempre” não era mesmo.
A empresa
comprou uma nova casa para ele. Todos estavam adorando e Ralph não perdia a
oportunidade de sair com a família. Um dia foram acampar em um sitio próximo de
um dos diretores da empresa. Claro não era um acampamento Escoteiro e sim um
camping divertido e gostoso. E não foi uma surpresa que ao subir um riacho para
procurar um bom remanso para pescar ele deu de cara com uma Tropa Escoteira.
Mas eles não estavam sós, havia lobinhos, seniores, guias e vários pais. Eles
chamavam de acampamento, mas acho que estavam enganados. Colocaram as barracas
em circulo onde todos dormiam. Os pais cozinhavam. Ralph riu baixinho. - Bem
pelo menos eles estão em busca da natureza e só isto já conta um ponto. No
entanto isto não é um acampamento nos moldes de Giwell. O importante era se
eles estavam felizes. Ralph encontrou o Chefe e se apresentou. Não foi assim àquelas
coisas o aperto de mão. Mas Ralph não se incomodou.
No sábado
seguinte foi fazer uma visita ao Grupo. Quem sabe ele poderia ajudar? Afinal
era um Escoteiro e participava do movimento desde lobinho. Colocou seu uniforme
caqui, seu chapéu Escoteiro, sua calça curta e se olhou no espelho. Estava
ótimo. Como era menos de cinco quarteirões foi a pé. Levou seus dois filhos
consigo só para eles saírem um pouco. Ainda não tinham idade. Chegou à sede do
grupo por volta de quinze para as duas da tarde. A reunião conforme foi
informado começava às duas e meia. Tinha poucos jovens e nenhum adulto.
Procurou-os e se apresentou a um por um. Eles estranharam e sorriram baixinho.
Ralph notou que eles não estavam acostumados com chefes a cumprimentá-los. Só às
duas e meia chegou o Chefe com uma sacola sem o uniforme. Sorriu para Ralph e
pediu alguns minutos, pois ele iria vestir o uniforme. Logo em seguida chegou
mais dois, também sem uniforme e entraram na sede. Uma senhora dos seus
sessenta anos também chegou com a saia e blusa, mas sem o lenço, foi também
para a sede.
Só às três
horas todos foram chamados para o cerimonial de bandeira. Agora os chefes
estavam uniformizados, mas esperaram alguns seniores que também foram se trocar
na sede. Ralph nunca tinha visto isto. Sempre achou que o uniforme faz parte do
Escoteiro. Ele é o melhor veículo para mostrar quem somos. Se os chefes davam
os exemplos claro que os demais também o seguiriam, pois achavam ter os mesmos
direitos. Na primeira oportunidade Ralph perguntou ao Chefe o porquê eles não
vinham de uniforme de casa. – O senhor sabe, o uniforme serve para padronizar
uma organização e mostrar o que somos. - Sem querer ofender – ele continuou,
tenho visto muitos dizerem que o escotismo a gente traz no coração e isto é
verdade, no entanto não significa que devemos andar sem ele. O próprio fundador
do escotismo já dizia que devíamos nos orgulhar do nosso uniforme.
O Chefe
tentou se explicar e falou e falou. Alguns vinham direto do serviço e outros
iriam para atividades fora de sua residência. Ralph pensou que isto era uma
desculpa. Quem sabe já acostumaram assim. Viu logo que isto poderia desanimar
os jovens, pois ele sabia que o sonho de todos quando buscavam o escotismo era
vestir o uniforme, sem o exemplo do Chefe isto poderia deixar a desejar. Ralph
quando foi ao Grupo pensou em pedir para ser um deles. Agora pensou muito se
deveria fazer isto. Notou que muitos dos chefes e seniores depois que saíram da
sede com seu uniforme não o cumprimentaram. Viu que ali a fraternidade não era
o que ele sempre conhecera. O Chefe o olhou ressabiado. – Olhe porque não vem
participar conosco? Nosso Chefe de Tropa tem faltado muito e já disse de sua
intenção em sair do grupo.
Ralph perguntou
se eles tinham Conselho de Chefes e quando seria a reunião. O Chefe disse que
não precisava. Resolviam ali durante as atividades tudo que precisavam
resolver. – Seria possivel o Senhor marcar um Conselho de Chefes para me
apresentar? Eu teria algumas observações a fazer. – Meu amigo ele disse, nunca
fizemos. Eu resolvo tudo. Apresento você na ferradura e pronto. Ninguém vai
contra meus desejos! – Ralph agradeceu o Chefe e disse que iria pensar. Já
estava resolvido que não ia participar daquele grupo. Um grupo onde o Chefe
determinava e mandava sem consultar a ninguém. Faziam um escotismo triste, pois
viu que nas sessões poucos sorriam e aquela de vestir o uniforme na sede? Isto
era duro de engolir.
Ralph nunca
mais voltou aquele grupo. Que eles fossem felizes, mas sem ele. Se eles
gostavam assim que assim fosse feito. Ele sabia que precisava de um grupo e
porque não começar um do nada? Não era difícil e até que foi fácil demais. Na
reunião de pais da escola dos filhos ele procurou a diretora e dai para começar
foi um pulo. Claro que ele manteve contato com os chefes do grupo que foi
visitar, mas sempre os viu tristes, como se ir para uma reunião escoteira fosse
uma obrigação e não um prazer. Sempre que ia para a sede ia cantando e todos
das ruas onde ele passava sorriam ao vê-lo passar. Era isso mesmo que ele
queria. Amava o escotismo e precisava mostrar a toda à comunidade do bairro que
escotismo era bom, era necessário para a formação sadia da juventude. O
uniforme era um auxilio para isto. Ele sabia que um Escoteiro bem uniformizado
tem um papel relevante para o reconhecimento do escotismo no mundo.
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