Grandes jogos
Escoteiros.
O Tesouro do
Condor – Um jogo inesquecível.
Faltava
pouco menos de meia hora para o encerramento da reunião de tropa. Estávamos em
reunião de patrulha a pedido do conselho de monitores, para discutirmos,
sugerir e ver como deveria ser o Grande Jogo cujo programa anual marcava a sua execução
para o próximo mês de outubro. Era uma tradição e nunca o deixamos de realizar.
Olhos de Peixe havia sido transferido para nossa patrulha, a menos de cinco
meses, ele tinha vindo de um grupo da capital do estado, mas se incorporara
como se fosse o mais antigo. Enquanto discutíamos, ele deu uma sugestão que
achamos excelente. Toda a patrulha votou a favor.
Na
reunião do sábado seguinte, ficamos sabendo que a Corte de Honra havia aprovado
e foi uma alegria geral. Nós tínhamos uma idéia do jogo, mas sabíamos que o
Chefe Jessé iria melhorar, e claro, dar uma grande “pitada” de aventura. Uma
semana antes da nossa atividade, recebemos duas cartas pregos, uma para serem
aberta no dia do jogo, às seis da manhã do dia do jogo e a outra no campo, após
o inicio do jogo, que seria sinalizado por grandes rolos de fumaça que
avistaríamos de onde deveríamos estar localizados.
Sabíamos
e era ponto de honra, só abrir as Cartas Prego no dia e horário determinado.
Isto não tinha discussão e nem era discutido! Recebemos também quatro
bandeirolas amarelas, e a lista de materiais a ser levado: – lanche para um
dia, cantil, um par de bandeirolas de semáforas, uma bússola silva, quatro bastão,
uma machadinha, um facão com bainha, uma faca mateira. Não olvidar de levar
três lenços sobressalentes (lenços do grupo), estojo de primeiros socorros, uma
lona para chuva, meias reservas, reserva financeira para duas passagens de ônibus.
Como cada um de nós tinha o seu bastão foi alertado para não nos esquecermos de
levar.
Todos
deveriam estar preparados para uma atividade movimentada e para isto levar um calçado
adequado. Claro, não direi o que passei na semana anterior, na espera deste
grande jogo, que seria o meu primeiro na patrulha. Dormia e acordava pensando
no grande dia. Às seis horas da manhã em ponto, a patrulha já estava a postos,
na praça próximo ao ponto de ônibus e abrimos a primeira carta prego.
Gostaria
de esclarecer que a Patrulha Águia, era composta de sete escoteiros, eu (Zé
bolinha ), Pinga Fogo, Zé Colméia o monitor, Fu Manchu, Olhos de Peixe, Picolé
o sub e Pé de Bode (só apelidos para
preservar os nomes). Todos primeiras e segundas classes, ou seja, uma patrulha
bem “escolada”.
Dizia:
(a Carta Prego)
1) – Vocês devem tomar o ônibus de Carirí,
que irá passar as 06h25min, descer no ponto final. Ali pegar a Rua das Flores,
ir ao seu final. Lá encontrarão uma estrada carroçável, segui-la por 2 km (deve
ser marcado com o passo duplo). Após se orientarem pela bússola tomar o rumo
ENE, mais ou menos 67,5 graus, percorrer mais 800 metros, atravessar um pequeno
córrego com águas límpidas e boa para beber.
2) Segui-lo no sentido nascente por 200 metros
e montar o campo assim especificado: - em forma de pontos cardeais (um x) com
mais ou menos 15 metros de uma ponta a outra e vice versa. Colocar em cada
ponto um bastão com uma bandeirola amarela, (o bastão deverá ser fincado no
máximo com um palmo de fundo). No meio do x, ficará o totem de patrulha,
colocado na mesma maneira. Devem fazer um pequeno cercado de 2 x 2 metros usando
madeira do campo e cipó. Mais tarde saberão para que.
3) – Ao inicio do jogo, as demais
patrulhas também estarão como vocês (eram quatro), como o campo armado e
idêntico em algum lugar próximo. Fora da vista.
4) – Aguardem o inicio do jogo, que pode
demorar de uma a duas horas. Fiquei em posição de alerta e mantenha um
escoteiro de vigia.
Nada
mais dizia. Sabíamos que as outras patrulhas estavam nesta hora fazendo o
mesmo. Aguardamos uns bons setenta minutos e eis que avistamos em um morro
próximo, rolos de fumaça, com o sinais de “O jogo já começou – guerra”. Abrimos
imediatamente a segunda carta prego e ela dizia:
1) - Vocês devem colocar os lenços presos
pelo cinto, (proibido amarrar) somente dois palmos para dentro da calça, e
defenderem como puderem as quatro bandeirolas em volta (amarelas) e
principalmente o totem Se ele for tomado vocês todos morrem perdendo o jogo.
Neste caso aguardar novo contato.
2) – Se defendam das outras patrulhas
para não perderem o lenço, pois assim serão considerados mortos e devem receber
ordens do “matador” que irá conduzi-lo para o campo de prisioneiros próximo a
chefia.
3) – Cada patrulha deverá ter um campo
próprio e cercado que fica no centro próximo do bastão totem, para no caso de
fazerem prisioneiros.
4) – O objetivo do jogo é defender as
bandeirolas e principalmente o totem e ao mesmo tempo ir aos demais campos de
patrulha e tentar tomar o totem deles.
5) – A patrulha que conseguir mais vidas
(tirar os lenços), tomar as bandeirolas ou ter o maior numero de bastão totem,
é a ganhadora.
6) É proibido – Lutas, brigas, palavrões
(olhem a lei escoteira) e discussões inúteis;
7) É aceito – Qualquer tipo de truque,
força (sem denegrir a imagem), ou qualquer situação a ser criada para ganhar o
jogo.
8) O jogo terá a duração de seis (seis)
horas, a contar do sinal de o Jogo já começou – guerra. O sinal de fumaça “O
jogo já terminou – paz” determina a paralisação imediata do jogo.
9) Lembrem-se, vocês devem proteger o seu
campo e também atacar os demais. Como fazer e o que fazer fica para o conselho
de patrulha resolver.
10) Estaremos toda a chefia em local privilegiado,
vendo vocês através de potentes binóculos. Onde veremos qual a patrulha mais
esperta e a mais não tão honesta! (naquela época não havia telefone celular, se
fosse hoje, seria proibido). Boa sorte Patrulhas da Tropa Mafeking!
Começamos
o jogo. Seu desenrolar foi o esperado. Muitas surpresas, muitas alegrias e até
um pouco de confraternização. Todo ano era assim, um Grande Jogo uma surpresa e
a satisfação de ter participado. Neste deixo para a imaginação de cada um em
saber quem foi o vencedor. Nota – O prêmio foi uma flor de lis de lapela para
cada participante. Quem sabe um dia farão um igual ou adaptado?
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