Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quarta-feira, 29 de abril de 2015

A morte do Traje, antigo uniforme Social.



Conversa ao pé do fogo.
A morte do Traje, antigo uniforme Social.

             Está chegando sua hora. Pelas determinações da UEB ele vai desaparecer. Foi-se como folha seca no vento na tempestade. Não sei se vão sentir saudades. Ele se pudesse falar diria: - Alguém me perguntou se eu devia acabar? Os que me usam deram seu aval? Então porque me mandam o exilio para não voltar nunca mais? Mas um Traje não fala. Ele é só uma peça de uniforme. Já não tinha mais serventia, pois um novo surgiu. Uma vestimenta, orgulhosa toda pomposa. No seu nascimento baladas foram tocadas, tocaram os clarins da glória quando ela apareceu. Chefe e Escoteiros que lá estavam ficaram abobalhados. Em um espetáculo digno de um perfeito Fashion Week Escoteiro ele foi apresentado. Uma verdadeira apoteose. Tocaram os clarins e os tambores, a melodia rebombou pelo salão. Já treinados os modelos e as modelos entraram como se estivessem se apresentando em um evento no Anhembi. Gisele Bündchen se estive lá estaria boquiaberta! Os chefes presentes ficaram perplexos! Um espetáculo sem igual! Palmas Escoteiras, gritinhos de fãs ecoaram pela apresentação espetacular. Cada um dos modelos exibia um tipo, dizem que eram dezoito! Valha-me Deus! Em um canto vestindo algum humilde Chefe Escoteiro o Traje tentava se esconder. Era demais para ele.

            Muitos queriam comprar. Perguntaram se haveria um leilão para os que estavam ali alvoraçados em corpos de jovens modelos. - E o pobre do traje não sabia onde colocava sua cara. Abriu os olhos e os ouvidos e como bom lobinho ouviu dos lideres: Você vai desaparecer seu bagunçado! Vai para a Tonga da milonga do cabuletê e nunca mais vai voltar. O Traje chorou. Por quê? Pensou. O que eu fiz de mal? Se muitos do movimento me desmoralizaram eu tenho culpa? Quando eu comecei a vestir os astutos chefes do passado que me pediram eu era endeusado. Diziam que eu era um Uniforme Social. Só para atividades sociais e em apresentações que requeriam uma melhor presença dos chefes. Eu não era ainda responsável para vestir os jovens. Eu era para os adultos que achavam que a calça curta não pegava bem para colocar o lenço no Maluf, no Lula, No Jânio ou um politico qualquer. Precisavam de um traje a caráter.

           Ai foi à abertura para todos. Um abre-te Sésamo para a escoteirada me vestir. Até que foi bom, mas então começou o desleixo. Senti-me desmoralizado em alguns casos. A calça de tergal que eu me orgulhava agora era qualquer uma. Uns mudaram a cor, outros abusavam com a maneira de vestir. Em nome dos humildes sem dinheiro calças cinza qualquer serviam. Se eu fui feito com a amostra de um pedacinho do pano da camisa e da calça, que meus pais que me criaram enviaram a todos os grupos no Brasil, para não haver desmoralização e mudanças, agora isto. Escarneciam de mim. Ninguém tomou uma atitude. Cada ano mais e mais me alteravam. E veio os famosos do forte e me deram um sopapo dizendo: - Suma! Tem dois anos para desaparecer! Sabe Chefe, sabe Escoteiro e Escoteira, eu chorei muito. Eu sabia que muitos meninos me compraram com dificuldade, agora eles vão ter que comprar o outro?

           Um dois anos se passaram. A vestimenta sorria agora ela era a Chefe. Mandava e desmandava. Faziam seus preços, enriqueceu alguns, empobreceu outros que como pais não podiam gastar. Muitos disseram que ela foi democrática quando introduzida no grupo. Cada um podia escolher o que quisesse afinal ela a caçula dos uniformes brasileiros e tinha preferencia. Os donos do poder queriam acabar com tudo, mas aconselhados deixaram o Velho caqui na berlinda. Isto era tocar em um ninho de marimbondos. O que vemos hoje? Impuseram um uniforme. Na ânsia de faturar fizeram tantos tipos que a gente fica sem saber se existe uniformidade. Meninos e meninas escolheram o que acharam mais bonito. Nos grupos uma miscelânea de escolhas. Enfim, o traje teve seu tempo que agora esta vencendo. Ele ficará na lembrança daqueles que um dia o usaram e daqui a trinta cinquenta anos ninguém mais vai lembrar-se dele. A nova safra Escoteira, a que estará na ativa, pois durante este tempo a evasão consumiu quase todos do passado terá outra visão, mais moderna, mais atual.


            Adeus Traje. Eu o adotei e em 1975 fiz o meu primeiro. Só para atividades sociais. Não segui a onda de muitos. Mantive meu orgulho em vesti-lo. Até hoje o tenho, claro sempre refazendo, pois a pelanca de velho e a barriga vai mudando com os tempos. Não vou abandoná-lo nunca! De tempos em tempos vou sair por ai, nas asas da minha imaginação para dizer que ele foi digno enquanto existiu. Não me importa se ele foi proscrito, exilado, banido, expatriado, desterrado, degredado e vetado. Eu sempre amei o caqui. Ele é meu companheiro por toda a vida. Não sou contra a vestimenta, mas gostaria de ver mais disciplina mais igualdade e que a vistam com orgulho e não como estão fazendo hoje. Quem sabe um dia os donos do poder irão acabar com estas entendendo o que se passa. Enquanto isto quase 6.000 associados Escoteiros deram no pé. Em um ano quase oito por cento desistiu do escotismo. Motivos? Tem muitos. Nem sei se a vestimenta tem culpa. Que cada um escolha o seu motivo. Eu como bom crítico Escoteiro falo escolhas absurdas que só trazem desmotivação para muitos que um dia pensaram que o escotismo era sério! Sei que é sério, mas a comunidade civil está assustada. Não está em alto e bom som: - A culpa de tudo é dos dirigentes! Foram eles que fizeram toda esta balburdia!

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