Conversa ao
pé do fogo.
O Tesouro do
Condor – Um jogo inesquecível.
Uma explicação.
Publiquei nesta semana
um artigo chamado de Carta-Prego. Ouve muitos que comentaram e tiveram
interesse pelo tema. Êste complemento conta em forma de história Escoteira como
pode ser utilizada em um Grande Jogo Escoteiro. Carta-prego é um excelente meio
de aprendizado a aprender a fazer fazendo. Espero que ajude a dar ideias a
todos meus amigos chefes. Obrigado!
Faltava pouco menos de
meia hora para o encerramento da reunião de tropa. Estávamos em reunião de
patrulha a pedido do conselho de monitores, para discutirmos, sugerir e ver
como deveria ser o Grande Jogo que constava em nosso programa anual. Uma
tradição e nunca o deixamos de realizar. Olhos de Peixe tinha sido transferido
para nossa patrulha, a menos de cinco meses, ele tinha vindo de um grupo da
capital do estado e se deu muito bem conosco. Enquanto discutíamos, ele deu uma
sugestão que achamos excelente. Toda a patrulha votou a favor.
Na reunião do sábado
seguinte, todos souberam que a Corte de Honra havia aprovado e foi uma alegria
geral. Sabíamos como devia ser o jogo e sabíamos que o Chefe Lontra iria
melhorar com uma boa “pitada” de aventura. Uma semana antes do Grande Jogo
recebemos duas cartas pregos, uma para ser aberta no dia do jogo, às seis da
manhã na data prevista e a outra no campo, após o inicio do jogo, que seria
sinalizado por grandes rolos de fumaça que avistaríamos de onde deveríamos
estar localizados. Era ponto de honra, só abrir as Cartas Prego no dia e horário
determinado. Isto não tinha discussão e nem era discutido! Recebemos também quatro
bandeirolas amarelas, e a lista de materiais a ser levado: – lanche para um
dia, cantil, um par de bandeirolas de semáforas, uma bússola silva, quatro bastão,
uma machadinha, um facão com bainha, uma faca mateira. Na lista também dizia
para levar três lenços Escoteiros sobressalentes; estojo de primeiros socorros,
uma lona para chuva, meias reservas, dinheiro para duas passagens de ônibus. Não
esquecemos nada.
O Chefe nos avisou que seria um
jogo movimentado e iriamos percorrer distancias enormes para isto ir com um calçado
adequado. Para mim foi uma espera angustiante do dia do Grande Jogo. Seria o
meu primeiro na patrulha. Dormia e acordava pensando no grande dia. Às seis
horas da manhã em ponto, a patrulha já estava a postos, na Praça São Miguel próximo
ao ponto de ônibus. Ali seria aberta a primeira carta prego. Gostaria de
esclarecer que a Patrulha Águia, era composta de sete escoteiros, eu (Zé
bolinha ), Pinga Fogo, Zé Colméia o monitor, Fu Manchu, Olhos de Peixe, Picolé
o sub e Pé de Bode (só apelidos que usávamos
na época). Todos primeiras e segundas classes, ou seja, uma patrulha bem
“escolada”.
A primeira Carta Prego
dizia:
1) – Vocês devem tomar o ônibus de Carirí,
que irá passar as 06h25min, descer no ponto final. Ali pegar a Rua das Flores,
ir ao seu final. Lá encontrarão uma estrada carroçável, segui-la por 2 km (usar
o passo duplo). Após se orientarem (ver bússola) tomar o rumo ENE, mais ou
menos 67,5 graus, percorrer mais 800 metros, atravessar um pequeno córrego cuja
água é boa para beber. Não se esqueçam de deixar lá um sinal de pista alertando.
2) Seguir o córrego até sua nascente por
200 metros. Ali montar o campo assim especificado: - em forma de pontos
cardeais (um x) com mais ou menos 15 metros de uma ponta a outra e vice versa.
Colocar em cada ponto um bastão com uma bandeirola amarela, (o bastão deverá
ser fincado no máximo com um palmo de fundo). No meio do x, ficará o totem de
patrulha, colocado na mesma maneira. Devem fazer um pequeno cercado de 2 x 2
metros usando madeira do campo e cipó. Mais tarde saberão para que.
3) – Ao inicio do jogo, as demais
patrulhas também estarão como vocês (eram quatro), como o campo armado e
idêntico em algum lugar próximo. Fora da vista. Aguardem o inicio do jogo, que
pode demorar de uma a duas horas. Fiquei em posição de alerta e mantenha um
escoteiro de vigia.
4)
Nada mais dizia. Sabíamos
que as outras patrulhas estavam nesta hora fazendo o mesmo. Aguardamos aproximadamente
uma hora e meia. Avistamos em um morro próximo, rolos de fumaça, com o sinais
de “O jogo já começou – guerra”. Abrimos imediatamente a segunda carta prego e
ela dizia:
1) - Vocês devem colocar os lenços presos
pelo cinto, (proibido amarrar) somente dois palmos para dentro da calça, e
defenderem como puderem as quatro bandeirolas em volta (amarelas) e
principalmente o totem Se ele for tomado vocês todos morrem perdendo o jogo.
Neste caso aguardar novo contato.
2) – Se defendam das outras patrulhas
para não perderem o lenço, pois assim serão considerados mortos e devem receber
ordens do “matador” que irá conduzi-lo para o campo de prisioneiros próximo a
chefia.
3) – Cada patrulha deverá ter um campo
próprio e cercado que fica no centro próximo do bastão totem, para no caso de
fazerem prisioneiros.
4) – O objetivo do jogo é defender as
bandeirolas e principalmente o totem e ao mesmo tempo ir aos demais campos de
patrulha e tentar tomar o totem deles.
5) – A patrulha que conseguir mais vidas
(tirar os lenços), tomar as bandeirolas ou ter o maior número de bastão totem,
é a ganhadora.
6) É proibido – Lutas, brigas, palavrões
(olhem a lei escoteira) e discussões inúteis;
7) É aceito – Qualquer tipo de truque,
força (sem denegrir a imagem), ou qualquer situação a ser criada para ganhar o
jogo.
8) O jogo terá a duração de seis (seis)
horas, a contar do sinal de o Jogo já começou – guerra. O sinal de fumaça “O
jogo já terminou – paz” determina a paralisação imediata do jogo e todos devem
retornar ao campo da chefia fazendo antes a limpeza do local utilizado.
9) Lembrem-se, vocês devem proteger o seu
campo e também atacar os demais. Como fazer e o que fazer fica para o conselho
de patrulha resolver. Estaremos toda a chefia em local privilegiado, vendo
vocês através de potentes binóculos. Onde veremos qual a patrulha mais esperta
e a mais não tão honesta! (naquela época não havia telefone celular, se fosse
hoje, seria proibido). Boa sorte Patrulhas da Tropa Mafeking!
Começamos o jogo. Seu
desenrolar foi o esperado. Muitas surpresas, muitas alegrias e até um pouco de
confraternização. Todo ano era assim, um Grande Jogo uma surpresa e a
satisfação de ter participado. – O
prêmio foi uma flor de lis de lapela para cada participante. O que posso dizer?
Bom jogo e caça livre!
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