Conversa ao
pé do fogo.
O dia que os
chefes escoteiros foram parar no xilindró.
Ouve um tempo, há muito
tempo lá pelo final da década de sessenta que me colocaram na função de
Comissário Regional em Minas Gerais. Matuto do interior eu era bamba em nós,
fazia mais de setenta escoteiros e marinheiros, um expert em Morse e semáforas
e enviava mensagens com as bandeirolas subindo e descendo numa velocidade
incrível. Era um mateiro de mão cheia. Meus campos de patrulha eram demais.
Andei por este mundo de Deus em uma bicicleta ou a pé. Sabia me orientar pelas
estrelas, tirava de letra as constelações no céu. Com meu chapéu de abas largas
rodei em locais inóspitos, acampei em picos famosos, cheguei a ir de carona em
Manaus. Mas não sabia viver nos meios da Corte. Entedia bulhufas de leis de
normas o escambal. Até hoje não sei por que o Escoteiro Chefe um dia me chamou
a sede regional e disse:
- Vado Escoteiro, me
indicaram você. Disseram que vai dar conta do riscado. Não me disse o que fazer
como fazer quando fazer e onde fazer. Pedi uma semana de prazo para pensar. Ele
me deu cinco minutos. Afinal era o Presidente das Lojas Brasileiras na época
uma empresa de tirar o chapéu. Arthur Basbaum não disse quem me indicou. Fiquei
calado por cinco minutos. Aceitei sem mesmo consultar a Célia. Achei que
precisava aprender e conhecer o escotismo em meu estado. Coloquei minha bota de
sete léguas e rodei cidades, conheci chefes, grupos e o escambal. Risos.
Desculpe, adoro a palavra escambal, ela engloba tudo que penso. O tempo foi
passado, o primeiro Conselho Regional (hoje assembleia) foi um fiasco. Que
sabia eu disto? Sozinho em uma mesa enorme quase peguei minha bússola silva
para me orientar. Passou um ano passou dois e então foi à vez de Boa Esperança.
Uma linda cidade próxima a Belo Horizonte, gente hospitaleira e amiga com um Grupo
Escoteiro excelente.
Nossos conselhos pela primeira
vez em minas passou a ser uma vez em uma cidade outra na capital. Em Boa
Esperança como em todas as outras cidades a fraternidade imperava. Nunca
esqueci o Conselho em São João Del Rey. Em nosso Conselho Regional não tinha “sabidos”
donos da verdade, conhecedores de leis e normas. Havia sim um estatuto um
regimento interno e o POR. Mas o fator primordial era o abraço, a recordação de
rever um amigo, de fazer uma rodinha com todas as autoridades presentes e o Zé
das Quantas lá do sertão apertando a mão de todo mundo e abraçando quem podia
abraçar. À noite a abertura oficial. Presentes autoridades, gente da alta roda,
empresários e o escambal. De novo? Risos. Ao terminar e após o coquetel já eram
mais de dez da noite. Melhor jantar no hotel onde estávamos hospedados. Saímos
em bando juntos e pé, pois era apenas cinco quarteirões de distância. Uma turma
risonha, contando causos, uns cantando e eis que alguém viu um muro com
centenas de goiabeiras no terreno interno carregadas. Gente que coisa linda!
Maduras, divez de todo tipo.
Paramos para admirar. Um pequeno
toco encostado no muro e alguém subiu nele até o cimo. Começou a jogar goiabas
para os demais. Mas a aventura era boa demais para ficar olhando e esperando a
sua vez de receber. A maioria subiu nas alturas, os pés de goiabas entortando,
uma anarquia de chefes escoteiros sem igual. Era jovem, era Chefe, o padre da
igreja de Boa Esperança, o Padre João de Juiz de Fora, o Escoteiro Chefe Darcy
Malta, o Profissional da UEB nosso amigo, eu nossos assistentes, cinco chefes
femininas uma delas DCIM do Rio (prefiro não dizer o nome). Uma farra de chefes
sem tamanho. Todos na sua simples humildade de fazer uma traquina que fizeram
na sua juventude. Eis que o dono do terreno e das goiabas viu e não gostou.
Trouxe a policia. – O Cabo gritou: - Teje preso! Desçam todos. Vão todos para o
xilindró seus ladrões de goiaba.
Quando a turma se juntou após descer,
ele viu o Padre Tavino da cidade. Olhou de Banda e viu Seu Nonato o vice-prefeito.
Alguém raspou a garganta e não menos que Doutor Antonio o Juiz de Direto. O
presidente da região Coronel Aragão ficou envergonhado. O cabo sem jeito não
sabia o que fazer. Pediu desculpas. – Olhem turma vou facilitar para vocês,
pego a chave com o dono e todos podem “roubar” desculpem, podem tirar quantas
goiabas quiserem. A turma caiu na gargalhada. O Cabo não teve jeito se não rir também.
No dia seguinte apareceu no local do Conselho o proprietário. Pediu a Palavra
ao Presidente Regional Coronel Aragão do Exercito Brasileiro. – Gente um milhão
de desculpas, não sabia que os ladrões de goiaba eram gente tão ilustres. A
turma caiu na gargalhada. – Mas olhem continuou, abro meus portões para vocês.
Podem levar o que quiserem, Boa Esperança se sente honrada por tão ilustres “pegadores”
de goiaba. Kkkkkk.
Mentira? Não verdade.
Aconteceu. Quem sabe aumentei só um pouquinho? Risos.
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