Vado
Escoteiro, está rindo de que?
Boa pergunta. Hoje é
sábado dia de escoteirar e eu aqui sem ter aonde ir e nem poder caminhar. Uma
chuvinha fina cai refrescando o ar. Pela manhã fiz uma reunião importante.
Presente meu pulmão, minha perna e algumas partes que me pediram para não expô-las
ao ridículo. Comecei me vangloriando do passado, pernas que percorriam quilômetros
em cima de uma bicicleta, que andou por boa parte dos recantos do Brasil. Olhei
para meu pulmão e disse para ele onde um dia me levou. Em ar rarefeito em minas
e cavernas, em picos e montanhas e em tantos lugares e ele nunca me decepcionou.
Com os demais falei o que não devia e por este motivo fica em “OF” atendendo ao
pedido deles.
Eles ficaram calados. Sabiam que não
tinham argumentos para retrucar. Não sabiam o que pedir, aonde ir e o que fazer.
Lavrei ata dobrei a bandeira, arrumei meu lenço (detesto ele fora do lugar) e
após um cafezinho e um biscoito de maisena liberei a todos para continuar a fazer
o melhor possível. Sem perceber vi que o tempo estava partindo. Minha avó Rosilda
por parte de pai gostava de um ditado popular. Sorria para mim sem dentadura
(mas era linda sim senhor) e dizia: Vado, perguntaram pró tempo perguntando
quanto tempo o tempo tem, e sabe o que ele respondeu? O tempo? O tempo tem
tanto tempo quanto tempo tem. Meninote, onze anos, franzi a testa e não entendi
nada. O tempo passou e hoje entendo agora muito bem.
Gosto de me
considerar um matuto mineiro, do “inté”, do “nois faiz” do “Cotero” que até
hoje não se acostumou com tantas coisas modernas. De novo repito que não sou
letrado, viajado nas “estranjas” e nem “deploma” eu tenho. Aos sábados é sempre
assim. Todos escoteirando e eu “coçando”. Isto me faz uma “baita farta”. O
jeito é “escapilitar” e botar a mente para escoteirar. No faz de conta pego
meus dedos que mesmo tremendo ainda obedecem e mando que eles teclem o que a
mente mandar teclar. Às vezes saem coisas boas, outras não. Sei que gostaram
quando comentam ou compartilham. Curtir é uma obrigação e agora apareceu os
tais símbolos smiley, emoji, emoticons que são de matar!
Mas o que vou
escrever agora? Perguntam meus dedos e minha mente. Sinceramente? Não sei.
Lembrei quando no passado quando desciam a ripa na chulipa pelos meus erros de português
de concordância e o escambal. Melhorei? “Necas de catibiriba”. Ficava tão
triste que pensava em voltar a estudar na Escolinha do Bairro. Iam me aceitar?
De raiva peguei meu bastão de um metro e sessenta, duas e meia polegada de circunferência,
ponteira e aço e um belo totem da Patrulha Lobo e fui ao meu portão abri e
fiquei ali em posição de sentido vez ou outra fazendo a saudação. Vado! A
bandeira em saudação! A vizinhança sorria...
Cansei, sentei na minha cadeira de braços,
fechei os olhos, ouvi baixinho os pingos da chuva que caia na telha e logo
sorri. Lindos acampamentos de outrora, chuvinha fina, a gente sentado em volta
do fogão, um cafezinho saindo, o som da mata com os respingos pequenos e
insistentes e Monte Alto contando Histórias. Viajei no tempo. Olhos tristes ao
lembrar, mas alegres por ter estado lá. Voltei à realidade deixei minha mente
procurar no dicionário se existiam palavras que eu gostava de usar. Badenianos,
Caqueanos, Matutagem, Escoteirar, ombrear, sebo nas canelas, mochila no
costado, pé na taboa, apoquente a dor de dente, Trilha do Elefante, Mata do
Tenente, escorregar na lagartixa e o melhor que mais gosto... Fraternos abraços!
Três horas. Quantos
jogos já foram realizados? Quantos tombos no costado? Lembrei-me de um
visitante que percorrendo as salas do Palácio de Buckingham encontrou uma
preciosidade escrita na parede: “Senhor, ensina-me a ser obediente às regras do
jogo... Ensina-me a não proferir nem receber elogio imerecido... Ensina-me
Senhor a ganhar, se me for possível. Mas Senhor, se eu não merecer, acima de
tudo, ensina-me a perder”! Demais não? Entro e vou para a sala. Assistir o que?
A mente continuar a passear no passado. Gente fiz coisas demais!
Sem perceber lembro-me
do poeta e o que ele escreveu bate fundo no meu coração nesta hora: - Lá onde mora o amor, não há dor, não há tristeza, lá
tem cor, lá tem riqueza, lá tem bem, lá tem nobreza. Lá onde mora a amizade não
há rancor, nem falsidade, lá tem respeito, lá tem verdade, lá tem afeto, lá tem
cumplicidade. E fecho a crônica dizendo:
- “Entrou
por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra. Minha história
acabou um rato passou quem o pegar poderá dele aproveitar. E assim terminou a
história”...
Nota de rodapé: - “Acorde! vá trabalhar ou escoteirar! você
só tem um dia na vida, portanto aproveite cada minuto. Dormirá melhor quando
chegar a hora de dormir, se tiver trabalhado ativamente durante o dia inteiro”.
A felicidade será sua se você remar a sua canoa como deve. Desejo de todo o
coração que tenha sucesso e na linguagem escoteira: “BOA REUNIÃO E BOM
ACAMPAMENTO” – Baden-Powell.
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