Conversa ao
pé do fogo.
Os jogos no
Movimento Escoteiro.
A importância
atribuída aos jogos pelos Ingleses data de séculos. Inúmeros jogos, hoje
difundidos em todos os países do mundo, são originários da Grã-Bretanha. Sempre
fizerem parte integrante da vida do povo inglês. Deve-se a John Atracam, Escotista
da Universidade de Edimburgo, o primeiro trabalho sobre o valor biológico do
jogo e a Spencer, uma das contribuições mais valiosas sobre a posição do jogo
no programa de educação física infantil. Para Spencer (1820-1903) a ginástica é
um sistema de exercícios factícios. Embora sempre melhor que a ausência de
exercício, jamais será um substituto de valor igual aos jogos.
Os jogos produzem
uma excitação mental agradável e exercem uma influência altamente fortificante.
A felicidade assim obtida é o melhor dos tônicos. Na Alemanha Guts Muths
(1759-1839) realizou grande obra consagrando seu nome como “avô da educação
física alemã”. O valor educativo dos jogos lhe mereceu atenção especial e uma
das suas obras dedicada a realçar o valor dos jogos como exercício e recreação
do corpo e do espírito é a primeira obra fundamental do gênero escrita por um Escotista
de educação física.
Mas ninguém exerceu
uma influência tão surpreendente, não só na Alemanha como em todo o mundo como
Groos, psicólogo a quem se deve a elaboração de uma filosofia do jogo, exposta
em suas obras básicas. Ele considerou o jogo sob tríplice aspecto do exercício
preparatório, da atividade complementar e da recreação, não deixando de
acentuar que a descarga alivia os impulsos (catarse) e deve ser também
considerada no estudo teológico do jogo. Na França foi elaborado e publicado
pelo Ministério da Guerra o “Regulamento Geral de Educação Física” dividido em
três partes: a primeira bases fisiológicas e pedagógicas, a segunda do
treinamento esportivo e a terceira da educação física.
Partindo do princípio
de que o jogo não pode constituir um método completo de Difusão do Conhecimento
Escoteiro, o texto original reconhece que o jogo é a regulamentação mais ou
menos metódica de movimentos instintivos que todo ser vivo é levado a realizar
espontaneamente ao sentir a necessidade de exercício. Afirma, igualmente, que o
jogo constitui a forma de ginástica mais apropriada para a infância porque se
adapta às aptidões físicas da criança como às suas exigências morais. É ao
mesmo tempo, higiênico e recreativo. Do ponto de vista físico não exige
esforços muito intensos nem contrações musculares excessivamente localizadas.
A sua prática é
acompanhada sempre de prazer e este constitui para a criança o mais notável
excitante da energia vital e o mais ativo estimulante para fazê-lo perseverar
no exercício físico. O extremo interesse que as crianças demonstram pelos jogos
e a alegria com que eles se entregam são tão importantes quanto os exercícios
que os acompanham.
Porque as crianças
jogam: - A criança joga para satisfazer um instinto. Desde a mais tenra idade
vemos que além das atividades de comer, beber e dormir, imprescindíveis para o
desenvolvimento orgânico geral da criança resta-lhe somente lúdica. O bebê não
joga para ganhar e sim para satisfazer um instinto primário de jogar. O mesmo
acontece nos períodos dos três aos sete e dos sete aos doze anos. No primeiro,
estando criança já na posse dos mecanismos perceptíveis e motores, o seu
desenvolvimento psíquico se dirige para os interesses concretos. As suas
funções de aquisição, a atenção, a memória, a associação são utilizadas com
maior intensidade. O mesmo acontece com a curiosidade, à observação e a atenção
que constituem tendências educativas.
No segundo, dos sete
aos 12 anos, surgem os interesses especiais e objetivos. Somente ao penetrar na
pré-adolescência, ao transpor o limiar da adolescência e no princípio desta,
surgem os interesses éticos e sociais aos quais está intimamente ligado o
instinto combativo. Despontam então as tendências e os sentimentos típicos do
desejo de ganhar. O amor-próprio muito desenvolvido, a vaidade exagerada que se
manifesta sob todas as formas, não só do ponto de vista de ser um bom jogador,
um ótimo esportista, como nos atributos físicos e exteriores, o arranjo do
penteado, o traje, a linguagem, os gestos, as atitudes estudadas são
revestimentos da intensa vaidade do adolescente.
O desejo de ganhar não
constitui o móvel da ação infantil de jogar. Esse desejo aparece mais tarde,
caracterizando o período adolescente. A prova que a criança joga para
satisfazer um impulso e não para ganhar está no fato observado diariamente e
com frequência espantosa de que, integrando uma turma, time ou grupo
evidentemente mais fraco que o adversário, nem por isso deixa de jogar. Joga
não uma, duas, três vezes, mas quantas lhe forem proporcionadas. Pouco lhe
importa perder ou ganhar. O que ela quer é jogar. No jogo individual, a saber,
de dois jogadores um contra o outro, sucede o mesmo.
A recusa de jogar quando
não há possibilidade de ganho dá-se raramente, sempre com crianças que, dotadas
de certas aptidões naturais como agilidade, velocidade ou força, colhem louros
nas competições individuais de que participam. Posto à frente de outra criança,
também dotada ou superior, manifesta desprazer em jogar. O seu sentimento de
superioridade abala-se fortemente. Reluta ao verse colocada diante de uma
situação nova, inédita, um adversário igual ou superior, embora da mesma idade.
Há um conflito interior que a faz sofrer. Não pode mais ser a primeira, a
melhor, a única.
Jogos no Escotismo. - Quando
os jovens falam de Escotismo, contando aos amigos as novidades, são os jogos
que causam a maior impressão, e isto não ocorre por acaso. O Movimento
Escoteiro, quando foi idealizado pelo seu fundador, Baden Powell, utilizou-se
sempre do efeito “mágico dos jogos”. Os jogos são meios pelos quais os fins
educacionais do Movimento são atingidos. Esta vontade natural de competir, tão
comum nos jovens, os acompanha desde a infância, dotando-os de espírito de
tolerância, da vontade de progredir, do respeito pelas regras e pelos
companheiros.
Breve continuação deste
artigo sobre jogos.
Nota de rodapé: - As bases do Jogo
Escoteiro – O Escotismo é a educação pela ação. Sugere atividades atraentes
onde se aprende a partir das experiências realizadas. Existe sempre um toque de
surpresa e emoção. - Cada ramo é motivado por um apelo próprio à faixa etária:
a fantasia dos Lobinhos; a aventura dos Escoteiros e Escoteiras; o desafio dos
Seniores e Guias. Um relato sobre jogos que terá uma continuação
posteriormente.
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