Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Leis, normas princípios,
regras e o escambal!
Eu tive uma época que fazia
muita continência para os mais velhos, os chefes, os monitores e quando via um
dirigente ficava durinho quem nem pau de sebo nas noites de São João. Mas
sempre tive liberdade para escoteirar. Meu livro da vida tem páginas e paginas escoteirando,
em uma época de mamãe e papai legal. Mãe! Vô acampar! Posso pegar a ração B? –
Vem cá que te ajudo filho! E lá ia eu com a Patrulha, pegando uma estradinha,
uma trilha, uma serra montanhosa ou até mesmo um vale florido locais que amava
acampar e cantar meu Rataplã.
Dizem-me que hoje tudo mudou.
A modernidade, a esperteza de “enricar” cobrando para acampar, as diretrizes
impostas cerceando a liberdade de ir e vir, o ECA feito pelos homens sem
perguntar aos meninos se isto é bom, e os sabidões escoteiros a dizerem para
onde o menino sonhador deve ir. Nossa! Eu nunca poderia ser escoteiro hoje. Sêneca
bom sujeito dizia que se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás
pobre. Se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico. Danado de
Sêneca inteligente!
Não quero tirar a liberdade de
pensamentos de ninguém ou a forma de curtir e expressar o escotismo como gosta
de fazer. São tantos a dizerem que o escotismo mudou sua vida, que agora é outro
eu prefiro não comentar. Prefiro deixar o tempo passar e ver se daqui a dez, trinta
sessenta anos o pensamento é o mesmo. Eu cá no meu canto do mundo, vejo muitos
me procurando para ser meu amigo e quando escrevo o que não gostam, se mandam
sem nada dizer. Quá! Ancê só ficô um muncadinho chefão? Num gostô? Se manca entonse!
Pois é, hoje tô mais prá lá do
que prá cá! Não preciso mais prestar continência a ninguém. Não me registro em
nenhum lugar. Sou um passarinho que gosta de voar sem rumo e direção. Se me
querem bem saio de braço dado, como dois irmãos que se querem bem. Ao
contrário, se se acham importantes demais, se tem uma visão firme do bom
escotismo que deve ser feito, eu digo: - Asta lá vista, Baby! O Barão de
Montesquieu era mestre em dizer que liberdade é o direito de fazer tudo que as
leis permitem. Mas quá! Que liberdade é essa?
Eu fui em minha vida escoteira
muitas vezes desafiado, amado, desprezado e chacoalhado no meu ego de menino homem
sonhador. Dei belas gargalhadas nas minhas andanças escoteiras. Vibrei com a
natureza em flor. Em uma jangada de piteira no Rio Paraopeba, dormi o sono do
Beija Flor e acordei molhado ao cair da Cachoeira dos Macacos. Bati palmas para
o nascimento de um pintassilgo que caiu do seu ninho e eu o voltei para o
lugar. Eram “coisas” descobertas que valiam uma vida escoteira e não tudo
programado para ser como os homens dirigentes hoje querem.
Danadamente cresci. Matuto do
interior fui jogado como Chefe de um campo sênior. Vibrei! Gritei! Amei cada
dia vivendo com aquela rapaziada de um passado que nunca esqueci. Fizeram-me
importante. Chamaram-me Comissário e Adestrador. Quatro tacos chefão! Disse o
Diretor geral. Logo eu um matuto que só sabia escoteirar. Foi então que comecei
a entender Mahatma Gandhi ao dizer que quando alguém compreende que é contrário
à sua dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhum tirania pode escravizá-lo.
O menino mineiro escoteiro virou
homem. Não mais saia para lobear. Sua bicicleta pneu balão deixou de existir, a
carretinha que cantava musicas eternas no óleo das rodas de madeira se calaram.
Agora era ver homens se digladiando. Cada um tentando ser mais importante. Sempre
a dizer que na sua vida escoteira se dizia o meu menino, o meu Monitor, a minha
Patrulha a minha tropa e o meu grupo. Tudo meu. Quanto pagou? Ser Insígnia,
diretor, presidente, mostrar que tem mil idéias para fazer o escotismo melhor.
Melhor? Como o meu ou o seu?
Eu naquela luta de “criolo doido” recorria
quando podia a um emérito pensador: - Apague Chefe as minhas interrogações.
Porque estamos tão perto e tão longe? Faça o favor me ajude a acabar com as
leis da física, mesmo sendo escoteiro será que dois corpos não podem ocupar o
mesmo lugar? Mineirinho “Turrão” fui empurrando minhas ideias até ver que nem
tudo que reluz é ouro.
Hoje vivo de
histórias. Chamam-me de contador de histórias. Uma honra! Mas saibam que fiz
escotismo. Escotismo dos “bão”. Melosamente digo que entendo pacas. Já não
posso mais correr mundo. Botar uma mochila nas costas, escolher o vento sul e o
vento norte para achar o meu caminho. Vejo valentes dirigentes até hoje
usurpando o poder que Baden-Powell não deu. Não sabem abraçar, dizer desculpe,
eu não queria ofender! Não sabem ou desconfiam que a Lei do Criador do
Escotismo têm tudo para atender o que ele pretendeu dar aos homens e mulheres
de boa vontade.
Um dia vou “bater as botas” ainda
não decidi se vou a escoteira ou natural. Lá no buraco fundo não me olharei no
espelho, ele não vai dizer que sou feio, ele não vai dizer nada. Tudo vai se
decompor. Se for prú céu eu não sei. Mas de uma coisa eu sei, levo comigo a
paz, a fraternidade e o amor. E termino com Allan Kardec: - Todas as leis da
natureza são leis divinas, pois que Deus é seu autor. Abrangem tanto as leis
físicas como as leis morais.
Um grande e fraterno abraço.
Quem sabe um dia todos irão entender que não tem o melhor, não existe o chefão!
Afinal somos ou não somos todos irmãos?
Nota - Quanto escrevo o que não
gostam uns ficam outros se vão. Mas eu ainda me dou o direito de discordar, de
achar que o caminho da estrada não é o que percorremos. Se tivéssemos um
pouquinho de boa vontade, de ouvir o outro que quer falar seria bom demais. Todos são peças importantes no trabalho em equipe,
cada um representa uma pequena parcela do resultado final, quando um falha,
todos devem se unir, para sua reconstrução. Motivação, parceria, trabalho em
equipe, o segredo do sucesso. Nada mais a dizer.
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