Crônicas de
um Velho Chefe escoteiro.
Viajando
pelas estrelas.
Impossível! Eu volitava no
ar com uma facilidade incrível. A nuvem que me levava ao céu me deixou próximo
a um planeta desconhecido. Marte Vênus e Plutão ficaram para trás. Ele o
planeta brilhava tanto que achei que era uma estrela. Não era, olhei para baixo
e minha vista encheu de luz de várias cores. Em poucos segundos dei a volta no
planeta, todo arborizado. As sequoias gigantes ali não era páreo para as
maravilhosa árvores do Brasil. Enormes, copadas, em baixo tudo gramado. Quantas
flores... Milhares delas. Violetas, girassóis, rosas brancas, amarelas,
vermelhas e até verde e azul eu vi. Era incrível. E o perfume no ar?
Maravilhoso. Em todos os pontos daquele lindo planeta havia cascatas
borbulhantes, nascentes de águas cristalinas, peixinhos coloridos a nadar. Que
planeta era aquele? E a noite então as estrelas eram enormes, de todas as
cores, cometas iam e vinham como a dançar valsas na odisseia planetária do
infinito.
Eis que surgiu do nada um
belo acampamento Escoteiro. Enorme, gigante, milhares de patrulhas com seus
lindos campos armados sob o vento calmo que se mantinha no ar. Era belo demais.
Tinha que conhecer melhor tudo aquilo. Afinal era a primeira vez que me
transportava pelo espaço tão facilmente como se eu tivesse asas verdadeiras a
me levar onde eu queria ir. Desci até na entrada do acampamento. Um Velho
enorme, com um sorriso convidativo, com uma bata branca estava na porta: -
Interrompeu minha entrada. – Quem é você Escoteiro? Ele perguntou. – Pensei que
era São Pedro lá do céu aquele que ajudamos um dia na praça da estação onde ele
ficou por uma noite. Vi que não me reconheceu. – Vado Escoteiro, Excelência! -
De onde veio? Da Terra Senhor. – Não me chame de Senhor, não sou Deus, sou
simplesmente um representante dele neste planeta! – O que quer aqui? - Eu
chefão? – Ele me olhou enviesado como se estive pronto para me dar um peteleco
na orelha.
Pedi desculpas. Expliquei-me.
Ele disse: Se morreu ou bateu as botas é bem vindo, mas se estiver em sonhos,
chispa daqui! Não sabia o que dizer. Será que morri? Sonhar? Necas, havia anos
que não sonhava. – Acho que morri Dom Pedro – Se não me chamar de Dom Pedro de
novo lhe meto a mão na orelha e vai voltar para sua catacumba naquele inferno
de cemitério. – Calei. Então estava morto? – Entre, você foi Escoteiro por
muitos anos, aqui é o Grande Acampamento. Tem gente que gosta e outros não. Se
seguir pela direita, vai encontrar Baden-Powell e seus amigos que ainda fazem o
escotismo de raiz. Se for pela esquerda vais encontrar os politicamente
corretos (chefes que adoram o que a UEB faz) que morreram e não sabem que
esticaram as canelas. Eles resolveram ficar longe de B-P. Sempre disseram que
era um milico, gostava de marchar, amava ordem unida, tinha ideias retrógadas e
eles se achavam superior ao tal do Escoteiro Chefe Mundial.
E agora? Claro que era um
Bipidiano de mão cheia. Politicamente corretos são iguais a carrapato. Falam,
falam e não mostram resultados. Mas eles tem o dom de dizer palavras difíceis,
quem sabe copiadas pelos novos pedagogos e pensadores que até Rui Barbosa iria
cair duro no chão quando os ouvisse. Pensei com meus botões (olhei e não tinha
nenhum, nem de uniforme estava), olhei melhor estava pelado! Deus meu! Chegar
pelado ao grande acampamento? O Que B-P iria dizer? Só me restava ir para os
politicamente corretos da UEB. Afinal eles não dizem que o uniforme ou
vestimenta não mostra quem é Escoteiro? Que ser Escoteiro é estar vivendo seu
espirito em pensamento? Portanto se estava pelado seria bem recebido. Escolhi e
parti para onde São Pedro me indicou.
A trilha estava suja,
cheia de papel de balas. Assustei com tantos tocos de cigarro espalhados pelo campo.
– Politicamente Corretos do inferno. Até aqui eles vem mostrar que não tem
espírito Escoteiro? – Vou até lá dar uma lição neles. Cheguei ao campo, era só
adultos. Meninos e meninas tem alma boa, não ficariam ali de jeito nenhum.
Quando me viram um gritou! – Olhem! É o Chefe Osvaldo! Aquele metido a besta
que se acha o tal no escotismo! Vamos amarrá-lo em uma árvore, fazer uma
fogueirinha e botar fogo! Vai ser lindo ver o velhote gritar feito um calango
seco. – Calango seco? Nunc ouvi falar, mas estes tais de politicamente corretos
não perdem a ocasião para inventar. Pernas para quem vos quero. Virei um
corisco entre as arvores. Tentava volitar e não conseguia. Pegaram-me, me
amarraram na árvore. Olhe pelado, toma vergonha, logo você um Velho babão chegando
aqui assim? Tu tá frito Chefe, pois morto já está!
Puseram fogo e vi que
eles se formaram em um grande circulo e começaram a dançar o Tchan! O fogo me
queimava. Um deles chegou perto e falou no meu ouvido: Chefe! Se vestir a
vestimenta está perdoado! – Gritei alto; - Bota mais fogo na fogueira malditos!
Nem morto? Caramba, eu não estava morto? Senti de novo a Célia me acordando.
Malditos pesadelos. Agora estavam frequentes. Marido, se continuar assim vou
levar você para o Doutor Sapiência aquele psiquiatra da UEB. Ele é Escoteiro e
vai ajudar. – Célia! Gritei. Nunca! Na mão dele vou sofrer, pois vai tentar me
convencer que Baden-Powell já era! Levantei, coloquei meu uniforme, arrumei
minha tralhas na mochila e com a ração B, parti sem rumo por aí!
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