Crônicas de um Chefe Escoteiro.
No Mundo maravilhoso dos remédios!
Você vai falar de
remédios? Bah! Dirão alguns. Eu não. Adoro-os. Não sei viver sem eles. Calma,
quem sabe você é novo e ainda não experimentou viver neste mundo maravilhoso
dos remédios. Pergunte aos mais velhos. Eles irão dizer maravilhas. Um dia se é
que já não chegou lá você vai chegar. Tudo começa pontualmente quando uma linda
e deliciosa dor aparece em nosso corpo. Neste dia sensacional que nunca mais
vai esquecer você vai visitar a um amigo dileto. O seu médico. Bem se você
depende da linda ajuda do governo, tem de marcar uma consulta. Mas isto não
preocupa. Esperar sempre fez parte dos brasileiros. Você conversa com parentes,
amigos, vizinhos e todos eles tem um remédio para você. Três ou quatro meses
depois o grande dia chega. Você espera calmamente sentado na sala de espera, ar
condicionado, com poltronas reclináveis e jogando. O que? Sim, jogando, pois é
costume deles fazer um jogo do Kim para você ver quem está lá, o que está nas
paredes e você vai vendo, lendo, um soninho e pluf! Quatro ou cinco horas
depois finalmente você é chamado.
Este é um momento mágico
e maravilhoso. Sublime. Inesquecível! O Doutor claro não vai olhar para você.
Alguns convidam para sentar outros não. Ele mexe na mesa, olha no computador.
Com muito custo pergunta – O que você tem? Que linda voz ele possui. Você pensa
que gostaria de ter uma assim. Você fica magnetizado! Depois de intermináveis dois
ou três minutos termina o seu espetacular colóquio com seu lindo médico. Se for
médica melhor. Você fica a admirar sua feição severa, ar de quem trabalha muito
e você pensa até em ajudá-lo. Afinal ele é médico. Um Doutor. Seu erro foi o de
não ter chegado e dito para ele de joelhos – “Louvado seja nosso Senhor Doutor
medico”! E então começa um momento mágico. Ele escreve lindamente! E com uma
voz de Sansão lhe dá uma receita e diz, compre estes remédios e faça um exame
de sangue e mais este e mais este. Você fica boquiaberto com a inteligência dele.
Nem olhou para você e sabe o que tem. Claro ele não fala para voltar, mas você
já sabe que é assim. Quando sai você fica maravilhado. Agora está começando sua
linda e fantástica farmacinha caseira. De graça? Sim! Sim! Você sorri. Nunca
tem todos, mas pelo menos dos cinco da receita eles têm um! Obrigado governo. Obrigado! Você ajoelha e
agradece a Deus e a presidente Dilma. Ops, obrigado Também Doutor Geraldo
Alckmin.
No dia marcado
você vai fazer exame de sangue. Uma agulhinha doce e suave, você vê seu sangue
saindo aos borbotões, que coisa linda pensa você. Enchem vinte ou trinta
vidrinhos e mandam você voltar dez dias depois. Dão-lhe dois frasquinhos e
dizem – Encha na frente e atrás! Gente, como diz esta turma por aí – Galerinha!
Que beleza! Chegou minha vez! Ai você já sabe, entrou no maravilhoso mundo dos
remédios. Agora você pertence ao clube dos que exaltam suas doenças. É
maravilhoso isto. Eles riem e ficam horas falando o que sentem. Existem coisa
melhor que entrar na roda dos felizes faladores de doença? Eu? Eu tenho dor nas
costas, uso o remédio tal. E eu? Eu sou diabético. Tomo tais e tais remédios.
Que lindo! Melhor que falar do Corinthians. Deus me livre. Enfim, os remédios vão
aumentando. Um, dois, três, cinco, oito ou quinze. Tem alguns que usam mais.
Tome cinco pela manhã, quatro no almoço e o resto à noite. E lá está você
adorando a nova vida da turma dos “remedianos”.
Aí você que é
Chefe Escoteiro começa a aprender a viver com eles. Cada dia mais feliz. Lá
está você chamando – Lobo, Lobo, Lobo! E a lobada forma em circulo, hora do
Grande Uivo, você levanta os braços vê as horas e dá um pause. Hoje isto é
fácil. Sempre tem um laptop a mão. Hora de dois ou cinco remédios. Corre toma e
volta para o Grande Uivo. Lindo isto! Já pensou? Em um belo acampamento, um
lindo jogo noturno – Os caras pintadas contra os Selvagens do lago Negro. Lá
esta o jogo andando, todos vibrando, e você olha no relógio, hora dos remédios.
Pause de novo. Sai correndo e toma oito de uma vez! Melhor, você está dirigindo
o Cerimonial, chega o distrital – Chefe vim lhe entregar a Insígnia de Madeira!
Você ri, pula de alegria, olha no relógio. Dá um pause sai correndo e toma seus
remédios e volta. Quer vida melhor para um Chefe Escoteiro?
Eu adoro. Todos os
dias olho para minha farmacinha. Vejo as bulas. Eu amo as bulas. Meio difícil
de ler e entender, mas é um amor o que elas dizem. Celia me diz – Marido! Amanhã
pegue as vinte receitas e vá ao postinho buscar os remédios! Se não for só no
mês que vem! Que beleza! Que alegria! De novo lá, ver aquela turma deliciosa
que lá trabalha sem rir, sem falar e de vez em quando levantam os olhos como a
dizer: Meu Senhor, posso lhe ajudar? Claro elas não falam, mas seus semblantes
são assim formidáveis. Olhem eu não preciso mais de ler as receitas. Já sei de
todos os horários e quais são. Entrei para a faculdade farmacológica para
tentar decorar tudo. Hoje orgulhoso eu digo – Consegui! Sei quais horas tomo os
meus vinte e cinco remédios!
Aguardo ansioso você
chegar à minha idade. Terei mais um para conversar onde dói, o remédio que toma
e me receitar milhares. Você sabe que vai ser bem divertido. Vou lhe dar um
vigoroso flácido aperto de mão, um abraço ofegante, uma tosse gostosa e
convidar para sentar, pois de pé não dá. E vamos ficar ali conversando,
conversando e eu aprendendo que o sal misturado com alho é bom para isto, que a
folha de manga cozida é boa para aquilo. Que a batatinha frita com peixe seco
sara na hora! Isto é que é vida! Sou feliz e não sabia! Remédios? Ame-os ou
deixe-os!
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