Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Sorria e ouça um gostoso Grito de
Patrulha.
Vez ou outra nos passa
despercebido à união, a força e a vontade de ser mais um na patrulha quando
ouvimos o Grito de Patrulha. Eu sempre parei e sorria quando via uma turminha
em volta do bastão, com ele elevado no ar, um grito gostoso para ouvir e olhe
nunca me importei se a letra era assim ou assado. Não afirmo, mas posso dizer
que para mim o Grito de Patrulha é uma das maiores místicas e tradições no escotismo.
Tem um simbolismo que encanta. Tenho receio que amanhã ele seja extinto. Muitos
dos nossos simbolismos, místicas e tradições estão sendo engolidas pela
modernidade. Cada Grito tem um estilo, uma maneira, uma sonora entoação que dá
uma marca própria à patrulha. Aqueles que ali estiveram nunca mais irão
esquecer. Onde a patrulha esteve aquele sonoro som cantante ficará para sempre na
história. Conheço patrulhas que deu seu grito em altas montanhas, picos
enormes, florestas inóspitas e me empolguei com uma que resolveu dar o grito
dentro de uma jangada caindo em uma bela cascata de águas cristalinas e
enfumaçadas.
Outro dia li aqui que um
jovem queria idéia de um Grito de Patrulha. Assustei. Não pode pensei. O Grito
não é dele é de todos na patrulha. E afinal era uma patrulha nova? Se não o
antigo devia por tradição permanecer. Quem hoje na sua idade avançada não se
lembra do seu grito? Já pensou retornar a velha casa escoteira e ver tudo
mudado? Outro grito? Que tristeza! Eu já vi homens e mulheres voltando e
pedindo para segurar o bastão e ali junto aos novos dar o grito que no passado
marcou suas vidas para sempre. Não existe o melhor grito, isto não. Melhor
grito é o da minha patrulha, da sua e assim dirão os milhares que um dia
passaram por lá e sempre irão lembrar-se dos seus irmãos de patrulha e do seu
grito. Outro dia um disse para mim: - Chefe eu dei um grito de patrulha naquele
acampamento regional! Bacana – Bacana mesmo. Hoje não, os encontros nacionais e
regionais na maioria das vezes são participantes individuais, patrulhas não vão
mais unidas, não há grito a não ser se alguns se reúnem e resolvem fazer o seu.
- Sabe Chefe aquele
Jamboree na Inglaterra realizado no Olympia? Aquele bem no coração de Londres?
Eramos mais de 8.000 escoteiros de 34 países. Nossa patrulha deu um grito bem
no centro da Arena. Fomos ovacionados. Quer saber como era nosso grito? –
Arrankakuenca lelenca. Lita Talita Rá rá... Raposa! Danado de grito pensei
comigo quando meu amigo Chefe Jovelino me contou. Mas ele se orgulhava. Afinal
foi o primeiro jamboree mundial e Baden-Powell estava presente! Isto é bom
demais. Dar um grito e não esquecer são coisas de escoteiros que vão guardando
tudo no coração. Coração! Como cabe lembranças e coisas gostosas que acontecem
com a gente. Eu conheci milhares de patrulhas. Adorava vê-las dar o grito,
adorava ver o sorriso e sabia que o melhor sorriso era do novato, do noviço ou
pata-tenra. Ele quando começa se sente mais um da turma. Ele acredita que seus
sonhos de aventureiro estão prestes a começar.
Eu sempre digo e
repito. Grito de Patrulha é eterno, constante, imortal, imutável e infinito.
Não se muda. Não é porque o novo monitor não gosta e ele acha que deve ter
outro mais bonito. O Grito de Patrulha não é dele. É da patrulha, dos que
passaram por ela e dos que um dia irão estar ali com orgulho de ter sido mais
um. Conheço milhares de gritos. Cada um mais lindo que o outro. Já vi gritos
que dei risadas, já vi gritos que meu sangue ferveu de emoção. Já vi gritos que
atraíram multidões de escoteiros. Não importa o que diz importa o orgulho em
dizer. A tradição de um Grito de Patrulha deve ser contada, anotada e descrita
no livro da patrulha. Ali diz onde ela esteve quantos gritos deram o nome de
cada um que passou por ela. Quem foi o primeiro? Já pensou ele vivo e visitar a
patrulha e dizer? Demos o primeiro Grito na Montanha do lobo! Repetimos no
Itatiaia. Outra vez no Pico da Neblina. Bem não vamos querer tanto, não importa
onde, importa sim o grito dado com orgulho e sentimento no coração.
Hoje estão mudando
muito. Lembro-me que no passado um novo grupo começa com oito jovens. Seriam os
futuros monitores e Subs. Durante três ou quatro meses formavam a patrulha de
monitores, aprendiam entre si e com seu Chefe, até que um dia seria liberado a
participação de outros que já estavam inscritos. Estes esperavam ansiosos,
vontade de estar com eles, vontade de ter um espírito Escoteiro, mochila ás
costas caminheiros nas asas da imaginação. Aí sim, a nova patrulha se reunia. O
monitor explicava o grito e cada um dava sugestão. Conheci uma Patrulha Urso
que ficou dois meses discutindo seu grito. Sempre empate na hora de escolher. O
que fazer? O Conselho de Patrulha achou que o desempate deveria ser do primeiro
lobo que passasse para a Tropa. Demorou mais dois meses. Enfim foi escolhido o
grito: – Qui que code com o Urso ninguém pode! Risos. Nossa quase três meses e
foi este o escolhido? Olhe ele existe até hoje. Tem mais de quarenta anos de
idade.
Um grito de guerra é uma palavra ou frase
usada normalmente para incentivar e motivar um grupo de pessoas. Os gritos surgiram há muitos séculos atrás.
Dizem que o mais conhecido é do povo Maori que até hoje é copiado por equipes
de todos os tipos de esporte. Me lembro um pouco dele: - Te Rauparaha Haka (trecho) Ka mate, ka mate! Ka ora, ka ora!
Ka mate! ka mate! ka ora! ka ora! Tēnei te tangata pūhuruhuru Nāna nei i tiki
mai whakawhiti te ra Ā, upane! ka upane! Ā, upane, ka upane, whiti te ra! Hi! -
(É a morte! É a morte! É a vida! É a vida! É a morte! É a morte! É a vida! É a
vida! Este é o homem cabeludo Que fez o sol brilhar de novo Juntos! Todos
juntos para o topo! Juntos! Todos juntos para o topo, o sol brilha de novo!
Sim!) Se é bonito não sei. Só sei que o grito mais bonito é o da minha
patrulha, da sua ou a de todos nós! – Não vou comentar os gritos de Tropa, de
Alcatéia de grupo ou mesmo o da União dos escoteiros do Brasil. Aqui estou a
contar aos meus amigos do Grito de Patrulha. Ele sim um orgulho internacional
Escoteiro.
Não sei se você ainda
está em uma patrulha, tem um grito, a turma se junta toda vez que se encontram,
quando o Chefe chama, no final de um jogo de uma canção ou apresentação no Fogo
do Conselho. Eu digo sempre não importa o que está escrito, não importa se o grito é longo, curto, se é em português,
latim, francês, inglês, ou mesmo em linguagem galáctica ou em tupi-guarani. Não
importa mesmo. Mas sabem o que é mais importante? Nunca aceitar que troquem o
grito. Ele é uma tradição e tradições se mantem firmes no coração de cada um.
Não se esqueça de dar seu grito onde quer que estejam. Amo demais este
movimento. Amo demais as patrulhas, e sempre repito: - Que as patrulhas gritem.
Alto e em bom tom. Que mostrem a todos sua força, sua vontade seu orgulho em
ser Escoteiro. Grito de Patrulha, quem já deu nunca mais vai esquecer!
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