Conversa ao pé do fogo.
Os heróis não tem idade.
O que uma pessoa precisa para ser um herói? Coragem? Sabedoria? Alguém
disse que o herói é tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas. Possui a
liberdade de decisão, fraternidade para com o próximo, sacrifício e coragem,
sem faltar à justiça a moral e a paz. Ser herói não é ser egoísta e não ser
motivado pela simples noção de que ele agiu baseado nos princípios de se
mostrar como um. Suas motivações sempre serão moralmente justas ou eticamente
aprováveis mesmo que ilícitas. Pensemos que ser herói e preciso observar que o
heroísmo caracteriza-se principalmente por um ato moral. No escotismo a uma
gama enorme deles. Não só aqueles que ajudam o próximo, os que salvam vidas,
mas também aqueles que querem ajudar a formar homens de caráter e com
sentimentos nobres. Nosso país tem se esquecido de muitos. Quem foram o que
fizeram poucos se recordam. Só alguns alcançaram fama que por um motivo ou
outro são ainda lembrados pelos seus feitos.
Dizem que os heróis surgem em tempos difíceis, em fatos e atos que
merecem destaque. Alguns afirmam que os heróis não se fazem eles já nascem
assim. Caio Vianna Martins ajudou
muitos, mas não salvou ninguém. Tornou-se um herói e se mudou a história
escoteira foi com suas palavras que o fizeram um exemplo a ser seguidos por
todos nós escoteiros ou não. Nunca esqueci o que o Chefe Tolon um dia me disse.
Em um intervalo de um curso que dirigia, estava eu embaixo de uma castanheira saboreando
uma gostosa sombra quando chegou o Chefe Tolon. Ele estava fazendo o curso e
sentou ao meu lado. Ficamos conversando banalidades até que o assunto surgiu. –
Olhe Chefe desde pequeno que sempre procurei ajudar o próximo. No escotismo o
fiz em todas as sessões que participei. Mas quer saber? Nunca fui herói de
nada. Tentei sim, mas o que fiz não pode ser chamado de um ato de heroísmo.
Pensei em suas palavras. E eu cheguei à conclusão que também nunca fui
um herói no bom sentido. O Chefe Tolon me deu dois exemplos – Chefe, quando
Sênior estávamos indo para uma atividade aventureira, de bicicleta quando vimos
na beira da estrada um amontado de pessoas ajudando feridos e mortos em um
ônibus que sofrera um acidente. Paramos e os patrulheiros correram para ajudar.
Eu fiz o mesmo, mas confesso que não sabia o que fazer. Parei por uns instantes
pensando o que podia fazer. Ouvi gritos e pedidos de socorro. Minha mente
trabalhava para dizer quais as primeiras coisas que poderia ajudar ali naquele
momento. Isto levou alguns minutos. Bem no final ajudei sim com os parcos
conhecimentos de primeiro socorros que tenho. Mas Chefe eu demorei em tomar uma
decisão. Dizem que os heróis agem por instinto e resolvem o que fazer em poucos
segundos. Portanto não me considerei um herói.
Enquanto ele
narrava sua saga de herói fiquei pensando em Joaquim José da Silva Xavier o
Tiradentes. Pensei também em Alberto Santos Dumont. Não podia esquecer Heitor
Villa-Lobos e Monteiro Lobato assim como o Visconde de Mauá e os irmãos
Villas-Boas. Cada um deles foi herói ao seu modo. O Chefe Tolon não me deu
chance de pensar melhor sobre o que ele fez e logo contou o segundo fato que
aconteceu com ele – Chefe eu estava em uma sessão de cinema. Não estava cheio,
quem sabe dois terços de sua capacidade total. Cometi um erro que um bom Escoteiro
que sempre diz estar Sempre Alerta não comete. Não prestei atenção às saídas de
emergências, extintores e portas contra fogo. O filme aqueles antigos de
celuloide pegou fogo e se espalhou na cabine onde estava o projetor. A fumaça
saia dos buraquinhos e logo uma chama apareceu. Alguém gritou fogo. Outro
gritou mais alto que o cinema estava pegando fogo.
Eu levantei da
poltrona e olhei aquela balburdia de todos querendo sair por uma só porta. Vi
choro de crianças, senhoras gritando e claro os mais fortes empurrando os
demais para sair primeiro. Eu estático. Minha mente trabalhava para me dizer o
que deveria fazer. Enquanto isto crianças e mulheres eram pisoteadas e eu um
herói fracassado sem tomar nenhuma atitude. Isto demorou alguns minutos e logo
sai em disparada para ajudar os feridos. Sempre Assim, poderia ter evitado e
não ajudar os feridos. Se tivesse sabido onde estavam às saídas de emergências
e gritado calma para todos mostrando onde poderiam sair minha ajuda teria sido
melhor. Graças a Deus que não morreu ninguém. Mas uma dezena deles foram parar
no hospital. Bem aprendi a lição. Não entro mais em local fechado sem ver as
saídas de emergências, se estão fechadas a chave ou cadeado, sem perguntar quem
fica com as chaves e claro estar pronto para gritar se preciso e tomar a
liderança em qualquer emergência que aparecer.
Ouvi o toque
do Chifre do Kudu. O tempo livre para um lanche tinha terminado. O Chefe Tolon
saiu correndo para formar. Olhei para ele. Quanta juventude, quantos sonhos
quanta vontade de se sentir bem como um herói Escoteiro. Fui devagar à sala da
chefia. Pensava comigo mesmo se eu também fui ou seria um herói no lugar dele.
Eu sei que existem casos em que as pessoas sem vocação heroica protagonizam
atitudes dignas de um herói. Sei também que tem aqueles outros que demonstram
virtudes heroicas para realizar façanhas de natureza egoísta, motivados por
vaidade, orgulho, ganancia ou mesmo ódio. Um dos assistentes do curso fazia um
belo jogo com os cursantes. Adorava aquele campo escola. Era como se estivesse
saído da cidade de pedra e entrasse em plena natureza que só os bons escoteiros
sabem reconhecer.
Fico pensando quanto heróis escoteiros já tivemos. Acredito que muitos.
A maioria na clandestinidade. Quase ninguém saberá quem foi. Não temos um
programa para formar e fazer heróis. Ainda bem. Eu sei que o heroísmo é um fato
profundamente arraigado no imaginário e na moralidade popular. Feitos de
coragem e superação inspiram modelos em diversas situações. A atitude heroica
surge muitas vezes a partir da problemática imposta por um ambiente ou situação
adversa, cuja solução exige um feito grandioso ou um esforço extraordinário.
Fico feliz em ver que temos muitos lideres sejam homens ou meninos, mulheres ou
jovens participando do escotismo que de uma maneira ou de outra tem fibra de
herói e fazem o que podem pelo escotismo. “O Escoteiro caminha com suas
próprias pernas” ficou na história. Compete a nós chefes dar uma volta no
passado ou na história e trazer para o presente o valor dos nossos heróis e
mostrar a nossa escoteirada que também temos exemplos a dar.
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