Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Místicas e tradições. Uma Corte de Honra.


Místicas e tradições.
Uma Corte de Honra.

                Não era grande, quem sabe pequena, mas era linda. Devia ter uns quatro metros por seis. Para uma sala de Corte de Honra até que era grande demais. Exceto os monitores e os chefes da Tropa ninguém mais tinha permissão para entrar a não ser se convidado. No armário com chave ficavam os livros de atas. Todos confidenciais. Está devidamente anotado que a primeira patrulha de Monitores do Grupo Escoteiro Mar da Galileia construiu a sala com os braços dos seus primeiros monitores. Nenhum adulto colocou a mão. Construíram a mesa, as cadeiras, o armário e fizeram questão de pintar por dentro e por fora com uma linda cor verde garrafa, cor que se mantem até hoje. Todo ano, nas férias lá estão os monitores dando uma nova mão de tinta. Havia um sonho de muito para entrarem lá, mas era proibido.

                  Havia todo um ritual quando um novo Monitor assumia e até esta mística ninguém sabia como era. Comentavam que havia uma espada, uma bandeira da Corte de Honra e até um cálice onde se brindava com vinho a chegada do novo Monitor. Verdade ou não se tornou uma lenda que ninguém até hoje soube a verdade. Contam também que quando começaram a se reunir ali o Chefe da Tropa entrava primeiro com uma manta azul escorado em um Cajado de pedras preciosas. O que bebiam? Ninguém sabia. Verdade ou não por mais amizade que um Escoteiro tivesse com um dos monitores não conseguia arrancar uma silaba de como era por dentro, o que faziam lá, quem era o Presidente e o escriba. Judá foi o primeiro Monitor. Até hoje todos sabiam que Judá se tornou uma lenda na tropa e quando se pensava nele imaginava-se um jovem forte, alto, sorridente com uma aureola na cabeça.

               Suas reuniões aconteciam sempre no terceiro sábado de cada mês. A Tropa gostava de ver o cerimonial dos monitores entrando na sala da Corte de Honra. Era só o que podiam ver. Há um jardim em volta da sala e até hoje cada Monitor escolhe uma flor planta e fica responsável até passar para o próximo quando se aproximava sua época da Rota Sênior. A pequena sede da Corte de Honra de longe era linda. A cor verde garrafa, as telhas pintadas de marrom e as flores em volta davam a ela um aspecto juvenil, alegre e parecia que lá dentro se encontraria a felicidade. Ao término do Cerimonial de bandeira as patrulhas ainda ficavam reunidas por quinze minutos. O Monitor passava o comando ao sub dentro dos padrões existentes e se despedia dos patrulheiros com um Sempre Alerta firme e partia rumo à sala da Corte de Honra.

                   Não havia disse me disse, o que se falava lá ficava a não ser quando decidiam as atividades e decisões que afetavam o programa ou a honra da tropa, entrega de condecorações, distintivos, cordões de eficiência e ortoga do Distintivo “Lis de Ouro”. Costumes ficam quando vem de tradições e nisto a Tropa Rio Jordão fazia questão de manter. Trinta e cinco anos de existência e tudo funcionavam a contento. A Corte de Honra nunca abusou de sua posição e ninguém seria julgado sem direito de defesa ou mesmo sem a presença dos pais. Nos fogos de Conselho sempre ao terminar um Monitor se aproximava da fogueira, levantava seu braço direito, saudava com um grito de guerra a Tropa Rio Jordão e repetia para todos os presentes às tradições que nunca foram colocadas em duvida e passadas de gerações em gerações.

             - Era uma cerimonia simples. Em pé cada um em seu lugar previamente marcado aguardavam a ordem do presidente da Corte, sempre o monitor mais antigo. O Chefe era o primeiro a entrar. Ele convidava o presidente que convidava os demais. O presidente da Corte de Honra tomou a palavra – Todos deram as mãos e fizeram um silêncio de um minuto. Era dedicado a todos os monitores que um dia participaram da Tropa Escoteira Rio Jordão. Logo em seguida se viravam para o pavilhão Nacional, composto por uma Bandeira do Brasil regiamente colocada em um bastão com tripé no canto da sala – A bandeira em saudação! Firme e descansar. O próprio Monitor fez a oração de abertura – Senhor meu grande Monitor, dá-me a bravura dos Bandeirantes, a Coragem dos Guerreiros. Dai-me Senhor a humildade dos monges, a lealdade dos cavaleiros, a honradez dos justos, a força dos animais, a limpidez das águas e um coração que saiba ouvir, entender, e amar aqueles que me cercam. Assim seja!

                  A sala da Corte de Honra não diferia de tantas outras. O Pavilhão Nacional, um pequeno armário de parede, uma foto de Baden Powell e outra de Jesus, uma banqueta que servia para manter a bilha de água, copos de papel, uma mesa com seis cadeiras. Na mesa forrada com uma costura de arremate simples de cipós entrelaçados e devidamente lixados, dois livros, Escotismo para Rapazes e uma Bíblia. O Presidente convidou o Monitor da Patrulha Camelo e investido com o Escriba a ler a ata anterior. Feita a leitura foi assinada sem discussões pelos presentes. Um tema era esperado por todos. Afinal todos os anos a tropa fazia um grande acampamento e o último durou dez dias. Este ano não seria diferente. A cada ano mais e mais o acampamento se transformava. Grandes Jogos, grandes excursões, jornadas épicas foram feitas com sucesso absoluto na Tropa Rio Jordão.


                   A reunião da Corte de Honra nunca ultrapassava hora e meia. O Chefe dava os avisos e o presidente pedia ao escriba que lesse a ata. Ela só seria assinada na próxima reunião da Corte de Honra. Nada mais havendo ele agradecia a Deus pela oportunidade, dava a volta à mesa apertando a mão esquerda de cada um. O intendente servia um café quente que ele mesmo trazia de sua casa. No armário sempre havia uma pequena lata onde biscoitos doces e salgados eram armazenados. Todos se serviam e uns olhando para os outros sempre pensando na próxima reunião da Corte de Honra.

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