Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O preço vale a comenda?
Escrevi
este artigo há tempos. Mudei de opinião? Não. Nestas minhas andanças Escoteiras
nos últimos anos, dos quais 69 fazendo escotismo alegre e solto, de menino a
homem feito, eu passei por tanto na vida que pensei que hoje nada me
surpreenderia. De vez em quando me pergunto: - Que escotismo é este? Que
escotismo estão fazendo diferente de tudo que vi? Chamam-me de velhote,
embaçado, cria caso, o único que conhece a verdade. Mas que verdade? Não é que
outro dia li por aí que um Chefe recebeu uma medalha e a conta? A conta?
Medalha tem preço? Tem sim, se você quiser uma faça um processo e olhe veja se
sua mensalidade anual da UEB está paga, se o SIGUE tem seus dados. Se for assim
quem sabe pode ser agraciado, mas tem que pagar.
Pagar? “Tem
sim” Era quarenta “pilas” dependendo da medalha. Barato não? Será que vem com o
barrete? Deus do céu. Para que servem nossas lideranças? Que caixa é esse que
não se pode presentear? Já não basta as mensalidades, as taxas de campo, de
Assembleias, de Jamborees e tantas outras? Isto é premiação ou venda? Desculpe
meu amigo, você que sempre me diz que não “existem almoço grátis”. Mas olhe digo com conhecimento de
causa, final da década de sessenta e início de setenta. Fui Comissário Regional
em Minas Gerais. Nunca cobramos nada e nem a UEB. Como fazer? Nada como ter um
bom profissional escoteiro para resolver.
Tem lista
de preços? Bons serviços 40 mangos, gratidão idem? E a cruz São Jorge setenta
ou oitenta piulas? Nossa! Fico a pensar na medalha Tiradentes e no Tapir de
Prata, quanto custarão? Nem quero pensar nas de prata e ouro. Haja tutu para
pagar. Estou aqui na minha varanda meditando: - Ouro Preto, Sete de Setembro de
um ano qualquer. Governo mineiro reunido entregando medalhas aos convivas: - Autoridades
de todo país. Cada uma delas sorrindo ao receber sua condecoração
brilhantemente entregue pelo Governador. Recebe sorri e lhe passam um recibo. –
Excelência, pode pagar com cartão! Ou então no caixa do Palácio Tiradentes que
o Aécio construiu. E vai cobrança para o Presidente Temer, O Lulinha do Sítio
de Atibaia (ele tem amigos que pagam), o Juiz Moro, deputados e senadores da
turma da lava jato. Eles sim têm muita grana e podem pagar. O Governador
Pimentel grita! Se não pagarem meto todos vocês na Comissão de Ética! Será
assim na Escoteiros do Brasil? Como o papagaio dizia? Ou paga ou desce? Risos.
Pois é,
não existe elogio grátis, nem certificados nem um diplomazinho feito na gráfica
da esquina. Nas fotos que raramente aparecem no Facebook, lá está o Chefe sorrindo.
Deve ser porque não foi ele que pagou. E no último dia de Assembleias Regionais
e Nacionais? Triscam no ar as medalhas. Quem recebe? Aqueles participantes do
poder ou da corte, ou que tem a casta dos aquinhoados com a amizade dos
grandões. Se o Grupo tem uma bela estrutura e a direção gosta do individuo Chefe,
então é possível uma medalhinha. Uma simples, uma gratidão bronze porque ouro
não dá, nem prata. Quem sabe se está ali há tempos pode sair uma de Bons Serviços.
Esqueça uma Cruz São Jorge uma Tiradentes. Tapir de Prata? “Meu” tire o cavalo
da chuva. Esta é para quem conseguiu ser um Quatro Tacos, e de bem com os donos
do poder. Há de “Velho Lobo” só quem tá com um pé na cova!
Dizem que os
processos hoje para se candidatar a uma medalhinha e pagar por uma condecoração
é mais fácil que no passado. Basta estar em dia com o SIGUE. Eita SIGUE danado!
Aperta um botão e logo recebe uma de bronze. Esqueça-se da prata e de ouro.
Esta nem pensar. Não é assim? Pode ser, mas se você meu amigo é daqueles que
não se importa se é premiado ou não, se você é daqueles que vai todos os sábados
conviver e ajudar aos escoteirinhos, os lobinhos os seniores e passar uma
vassoura na sede do grupo, cuidado. Se não tiver “tutu” e souber manejar a
máquina do SIGUE esqueça. E olhe se no Grupo o Chefão não for com sua cara,
melhor é pular nas cataratas do Iguaçu.
Agora não
faça como eu que não tenho registro. Seja registrado na EB. Pague seu rico
dinheirinho anualmente para eles. Vá às Assembleias, tire o chapéu para os
diretores, presidentes, faça uma mesura para seu Diretor de Curso, sorria para
os quatro tacos, cuidado se encontrar um Seis Tacos. Existe ainda? Não, mas tem
muitos formadores de olho se elas vierem a aparecer. Tem tempo que não vejo o
balancete da UEB. Na ultima vez sobrava mais de um milhão de cruzeiros novos.
Novos? Então agora é Real? Deus do céu, quanto vale o Chefe Escoteiro ou um de
lobinho? Ele vale o que pode pagar ou o que vai realizar com a meninada?
Dizem que
hoje nada é de graça. Se paga para tudo. Para distintivos, para Lis de Ouro,
Escoteiro da Pátria ou da Insígnia de BP. Você meu jovem ou minha jovem que
recebeu agradeça ao caixa do seu grupo, ou ao bolso do seu Chefe, foi ele quem
pagou. E o Lenço da IM? Cobrado também. Quando no passado recebi o meu ninguém me
cobrou e nem o anel de Gilwell. É mesmo. Se você não é simpático com seus
superiores escoteiros, se tem ideias avançadas, se não concorda com muitas
coisas que acontece no seu grupo, distrito ou região, tire o cavalinho da
chuva. Nunca vai receber nada! Pagando, fiado ou no cartão. “Necas de catibiriba”!
Sinceramente
eu não sei como é nos outros países. A UEB copia tanto que lá nas “estranjas”
disseram que vender tudo é “bão” demais! Que sonho seria ver uma Liderança se
preocupando, ajudando os mais humildes, valorizando seus chefes, perguntando,
pedindo opinião, procurando aqueles que estão saindo para saber o porquê,
trabalhando com bons profissionais para suprir as necessidades de manter a
meninada e os chefes por anos e anos escoteirando.
Não existe
orgulho maior, satisfação maior, alegria inusitada quando um Chefe recebe um
elogio, um diploma ou uma condecoração. Ele merece, e é ele quem faz mover a
roda do moinho do escotismo e não os donos do poder. Será que no alto de seu
cargo eles também pagam e fazem seus processos para receber? Chego ao fim da
minha vida assistindo a este espetáculo deprimente. Eles só pensam “naquilo”.
Lucro e lucro! Sei que muitos já se acostumaram. Um grande pensador dizia que
tudo faz parte do aprendizado. A gente vai vivendo e aceitando o que nunca
deveria aceitar. Daqui a alguns anos tudo se tornará um hábito de
comportamento. Pois é!
“Sem palavras sem
nada para dizer depois de saber que você vai pagar a conta”
Nota -
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