Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Mensalidades
+ Taxas = Patrimônio perfeito.
Verdade? Bem sabemos que hoje
em dia sem pagar taxas ou mensalidades não podemos nos associar a nenhuma
organização. As cobranças são perfeitas. Você pode pagar por depósito em banco,
cartão, boletos ou mesmo pelo celular que oferece mil maneiras de tirar seu
rico dinheiro do bolso. E no escotismo? Bem cada Grupo cada Região e a Nacional
têm suas fórmulas mágicas. Mas não pense que vai ter alguma coisa de graça. Não
vai. Ou você paga ou então vá ser Escoteiro em outra freguesia. Até que
concordo, pois sem dinheiro não podemos fazer nada, no entanto isto está
virando um pandemônio para muitos jovens que querem ser como os mais bem
aquinhoados e não são. Se eu disser como foi no passado os novos ricos
escoteiros vão cair matando. Vão dizer que passado era passado, presente é
presente e devemos nos precaver para o futuro.
Eu não sirvo de exemplo. Sou péssimo
nisto. Afinal meus pais eram paupérrimos, a cozinha era junto com a sala e sentávamos
em caixotes para as refeições. A tal mistura que dizem aqui em Sampa era uma
vez por mês. Então entro para os lobos, minha mãe deu um duro danado lavando e
passando roupa para fora para comprar o brim azul e ela mesmo fez meu uniforme.
O grupo me deu o lenço, o meião e o boné. – O Grupo deu? Deu sim. Os chefes e simpatizantes
faziam tudo para facilitar nossa vida. Cresci, virei Escoteiro, eu mesmo fiz
minha caixa de engraxate. Com ela comprei meu uniforme caqui, meu chapelão, meu
cinto, minha faca, minha machadinha, a mochila ganhei do grupo, o cantil um chinês
amigo do meu pai me deu. Hoje? Necas! Isto não existe mais. Mensalidades naquela
época? Dinheiro de hoje por volta de dois reais. Mixaria? Pode ser, mas a
maioria não podia pagar. Acampar? Cada um pedia a mamãe um pouco de cada coisa.
Nunca passamos fome e fizemos belos e lindos acampamentos. Eu que o diga com minhas
mais de setecentas noites de acampamento.
Quando um grupo resolvia
convidar outros para uma atividade em conjunto todos traziam seus mantimentos.
Nunca se pensou em taxas. Claro que muitas cidades os prefeitos doavam a
intendência. A coisa começou a se complicar com os novos dirigentes com
pensamentos modernos e viram onde tirar nosso rico dinheirinho nos eventos regionais
e nacionais. Apareceram as tais taxas. No início pequena, mas depois foram
crescendo. Nossa liderança regional e nacional sabiam que ali tinha uma mina de
ouro. Quem pagaria? Os associados claro. E ela daria o que em troca? Boa
pergunta. Falam bem dela, do tal de SIGUE que ensina a você tudo, da sede
nacional que está em pleno vapor e dizem que é linda. Da cantina que vende no
cartão, e deve ter mil formulas seguras para receber seu rico dinheirinho.
Dizem que lá tem dezenas de funcionários e até profissionais bem treinados. Verdade?
Não sei assim me disseram. Ela é supimpa. Tem várias formas de cobrança. Não
conheço todas, mas não vende fiado, se não pagar o registro não participa de
nada e olhe se quiser registrar tem numero mínimo e não tem choro e nem vela. E
olhe tudo é barato, vestimenta até de duzentos reais. Você escolhe o número e
ela fabrica para você. Não reclame se desbotar. Ela não troca depois de um mês.
Não vamos só reclamar, ela
ajuda os mais humildes com isenção de mensalidades não das taxas. Exige uma
documentação que muitos ficam pensando se vale a pena comprovar que é pobre. Ah!
Como é duro ser pobre! Apresentou tudo que pediram então recebem a carteirinha.
Gente fina é outra coisa. Mas as taxas não tem meu pé me dói. Se não pagar não participa.
Nos eventos nacionais elas são exigidas e soube que até em Jamborees
Internacionais ou outros eventos fora do Brasil, ela cobra sua taxa fora a do
país anfitrião. E em dólar, por favor! Vamos ficar só no Brasil. Vejamos as
taxas dos jamborees no Brasil. Claro que eles tiveram inúmeros patrocínios, mas
a taxa individual é sagrada. Ou melhor, salgada. Você paga uma taxa de quase um
salário mínimo ou mais, tem o transporte ida e volta, alimentação extra e se
quiser passear na cidade vai gastar mais umas moedinhas. Este ano a Assembleia
Nacional será realizado no norte do pais. Um Chefe lá faz o que pode para dar
tudo que pediram. Tentou hotéis mais baratos, tudo, mas a taxa tem que pagar a
nacional não perdoa.
Quando da realização da
Assembleia Nacional em São Paulo um passarinho me contou que a Região conseguiu
patrocínio para tudo. Poderia ter sido tudo gratuito. A Nacional bateu o pé.
Precisamos manter nosso caixa disseram. Muitas regiões fazem das tripas e
corações para cobrar menos, mas agora a mensalidade do registro regional foi
incorporada e se paga a parte. E os Grupos Escoteiros? Estes vivem na luta atrás
de bens de capital, sem posses, sem recursos batendo prego em bancos de areia
na beira dos rios. Sei que tem alguns com uma estrutura bem montada para
receber o que lhe é devido. A maioria, entretanto nem receber suas mensalidades
conseguem. E quando vão acampar? É um Deus nos acuda! Pede aqui, pede ali pede
acolá. Participar de eventos regionais e nacionais agora é individual. Se algum
jovem pode pagar vai e os demais ficam. Não exigem mais patrulhas completas.
Agora é individual e lá as turminhas se formam enquanto os chefes na sua
maioria passeiam de lá para cá a discutir o escotismo mundial de Baden-Powell.
Soube que para cada jovem participante nestas atividades tem mais de trintas
chefes presentes.
Não podemos reclamar.
Tem cursos de dar em doido. Pode pagar a taxa? Então vai. Não pode? Faça economia
bicho! Afinal não quer aprender? O Movimento Escoteiro é único onde o
voluntário tem de pagar para ajudar. Ele paga suas taxas, mensalidades, dos
seus filhos e olhe que tem muitos que pagam até dos filhos dos outros, pois ele
chega com aquela carinha e diz: - Chefe! Eu não posso pagar! Quem dera eles tivessem
uma estrutura profissional para cobrar dos pais às mensalidades. Tem grupos que
são bem estruturados e tem soluções para tudo. Jantar dançante, bingo, festa do
sorvete e não vai faltar a feijoada. Bendita feijoada que os chefes se matam
para vender os ingressos e nem sempre dão os resultados esperados. Eu digo
sempre falar é fácil, mas alguém da direção arregaçar as mangas e dizer: - Chefe
conte comigo, sou da Região e da UEB, vim ombrear com você para montar um caixa
em seu grupo de dar inveja. Sonho? Deve ser sim, pois me belisquei e acordei na
hora.
Não adianta assessor
pessoal, distrital, cursos e o escambal. Sempre teremos Grupos Escoteiros neste
grande Brasil cuja estrutura é simples e nunca possuem nada no caixa. Fechar?
Será que a UEB pensa assim ou vê neles uma maneira de arrecadar para ela? Cá
prá nós, aqueles que labutam em grupos humildes sabem que nem sempre podem
contar com os pais. Dizer para eles que quem precisa do escotismo são eles e
não você é utopia. Ele na sua maioria não pagam as mensalidades. Afinal quem
ganha um dois ou três salário mínimo, de onde vai tirar uma sobra? E o leite
das crianças? Quem tem coragem de dizer: - Se não pode pagar, não traga seu filho
aqui!
Enfim como diz aquele Chefe bem
formado, lenço bonito no pescoço, vestimenta nova, camisa para fora da calça
(está nos trinques) bom emprego que olha para seus alunos no curso e diz: - Não
existe almoço grátis. – Você pergunta: - E um pãozinho com manteiga tem? Acho
que sim, quando for visitar a sede regional ou nacional eles vão lhe convidar
para um almoço grátis no melhor restaurante ou vão mandar o cantineiro buscar
um pãozinho seco e duro para você. Pois é e pensar que Baden-Powell pensou que
quem precisava do escotismo eram os mais humildes e hoje vemos isto aí chega a
doer não?
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