Conversa ao pé do fogo.
Se não existirem as tradições a mística e o
simbolismo, então o escotismo acabou.
Os meus artigos sobre mística, simbolismo, nossas origens e tradições
tem sido os mais lidos atualmente. Chamou-me a atenção. Peguei todos eles e fiz
um condensado, um livro em PDF. Após comunicar que estava disponível me
assustei com tantos pedidos. Afinal o tema não foi esquecido e isto era
formidável. Choveram pedidos de todo Brasil. De formadores muitos poucos, uma
pena, pois eles sim poderiam ser a paliçada a defender o que de mais importante
temos no escotismo. Os pedidos partiam de todos os estados e até de outros países.
Confirmava-se assim que existe ainda uma preocupação para preservar nossas
origens. Os chefes se ressentem por não mais existirem aquelas gostosas
místicas, nossos símbolos que nunca foram esquecidos e claro nossas tradições. Sempre
um ou outro a indagar que isto não pode nunca acabar.
O escotismo sempre esteve assentado em bases sólidas, com um programa
definido e metodologia posta em prática com resultados em várias partes do
mundo. Isto é discutível? Acredito que não. Somos um movimento de ação, de
trabalho voluntário, mas diferente de tantos outros que existem por aí. Infelizmente
em nome da modernidade estamos perdendo nossas raízes. Uns poucos se esqueceram
do passado e vivem um sonho do escotismo moderno. Não há mais consultas, não há
mais pesquisas e nem mesmo se dão ao luxo de saber se todos estão de acordo com
as novas metodologias que estão hoje em pauta, copiadas de pedagogos e
pensadores do primeiro mundo Escoteiro. Será que nossos resultados foram ou
estão sendo bons? Onde estão os antigos escoteiros no seio da sociedade
brasileira a valorizar nossa organização?
Qualquer membro do movimento vê que nossa evasão é uma das maiores do
mundo. Se levarmos em conta o que B.P pensava na formação escoteira, precisaríamos
de pelo menos dez anos na permanência do jovem nas suas fileiras. Mas hoje isto
é uma utopia. Os nossos valores estão sendo substituídos. São poucos que ainda
acreditam no “Fazer fazendo”. São poucos que conversam e dão liberdade aos
jovens para dar seu testemunho e o que acham do escotismo atual. Ouvir o jovem
dificilmente nossos chefes e dirigentes fazem. Eles se acostumaram tanto com
deixa o vento me levar que nem mesmo se perguntam se era isto mesmo que os
jovens querem. Chefes comentam, fazem, atuam sempre a dizer que eles adoram o
que eles trouxeram de novo no programa. Esquecem-se que temos jovens de várias
camadas sociais espalhadas em todo território nacional. A característica principal
que nos definia não existe mais. Dois artigos foram sucesso quando os
publiquei. O bastão Escoteiro e penacho tiveram centenas de chefes curtindo e
compartilhando. A jarreteira já não existia mais. Muitos me perguntaram o porquê
isto foi esquecido ou extinto.
Dizem que por segurança acabaram com as estrelas de metal. O sistema de
provas de classe foi substituído. A bela tradição de abrir o olho do lobo na
primeira estrela, de dizer que ele agora é um lobo dos bons na segunda estrela
também se foi. Hoje ainda temos os cordões de eficiência e as especialidades.
Muitas. Soube de um que conseguiu mais de cem delas. Acho que vi este filme nos
escoteiros Americanos. Ainda temos o Cruzeiro do Sul, o Lis de Ouro e o Escoteiro
da Pátria. As exigências mudaram. Os velhos sonhos aventureiros foram delegados
ao esquecimento. Dizem que hoje isto não é mais possível. Os acampamentos de
Gilwell ficaram na história. Ordem Unida é coisa de militares. Marchar nem
pensar. Até mesmo um Cerimonial de Bandeira já tem formador dizendo que devemos
ser sucinto e breve sem muitas pompas e misticismo. O Sistema de Patrulhas está
sendo abandonado por muitos cursos que se tornaram um amontoado de técnicas
modernas que nada tem a ver com o escotismo de B.P.
Quando nos aproximamos
do escotismo o fazemos por acreditar que ele é diferente, tem métodos
interessantes e sua simbologia agrega místicas que nos fazem pensar como são e
qual sua importância no contexto. Poderíamos dizer que B.P era um místico? Acho
que sim. Afinal ele fundou um movimento diferente de tudo que se conhecia até
então. Um cerimonial de bandeira é místico? Formaturas por sinais é místico?
Sistema de Patrulhas também seria místico? Uma Insígnia de Madeira também? E o
aperto de mão, a saudação, a promessa quanto de misticismo temos aí? Pensemos
que o Uniforme ou a vestimenta e seus apetrechos tais como o estilo militar, o
chapéu e o lenço; os distintivos e provas de classe; as especialidades e a
alegria de receber um certificado não seria um misticismo gostoso de participar
e viver assim diferente em uma organização? Seria isto misticismo?
Peguem um fogo de conselho,
existe mística maior? E as historias contadas ao pé do fogo que falam dos
Cavaleiros da Távola Redonda, da luta de B.P no Transvaal, o primeiro
acampamento em Brownsea, A força espiritual de Gilwell Park, o cumprimento da
mão esquerda, as saudações Escoteiras, o lenço, o extinto tope com seu penacho,
as jarreteiras, as estrelas de metal e tantos outros. Pessoas têm uma sensibilidade maior diante da natureza; outras, diante de
situações humanas; outras, diante de intuições filosóficas; outras, diante de
suas reações interiores ou quando se encontram em meio ao borbulho da vida
agitada na cidade. O escotismo oferecia isto, uma vida de aventuras, uma
mística que transcende o tempo, uma simbologia única, uma tradição quase
imutável.
Quando isto deixar de existir então aquele escotismo de B-P também não
será o mesmo. Não afirmo, mas estão tirando o sabor da aventura, da mística,
dos nossos símbolos substituindo por outros fatores que julgam mais
importantes. Sem perceber já estamos nos transformando em um movimento sem
passado, uma historia que vai devagar se extinguindo. Hoje a alegria do jovem ao
receber um distintivo, sem simbolismo, sem saber que seus ancestrais escoteiros
se orgulharam em receber é um esquecimento do qual ele não mais vai se lembrar.
Tudo isto vai aos poucos perdendo a graça. Ele nem sabia que seria assim. Agora
o que vê nada difere do seu colégio, do seu computador ou celular. Estamos a
perder nossos rumo, nossas origens nossos rastros que nos fizeram o maior
movimento de jovens do mundo. A natureza se foi, o sentido da descoberta e
andar com suas próprias pernas está acabando. Vai chegar a hora que já chegou
para muitos: - Perguntar a si próprio se vale a pena continuar. A mística, o
simbolismo e nossas tradições são nossas origens. Ela nos envolve por todos os
lados. Ainda bem que tem muitos que não se esqueceram do seu passado e se
dermos as mãos quem sabe poderemos ainda resgatar nossa memória. E isto meu
amigo Chefe só depende de você!
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