Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Chefes,
porque não acampar?
Hoje sábado, no horário que escrevo
esta crônica, sei que a maioria dos chefes está em atividade escoteira, pois
afinal ninguém é de ferro para ficar longe de seus meninos com seus sorrisos,
cantigas, gritos e saudações afetuosas. Tivemos nos últimos anos uma mudança
enorme na arregimentação de adultos voluntários para ombrearem conosco no
escotismo. Muitos chegando pela primeira vez, aprendendo, vendo e amando.
Nossas caraterísticas são as mesmas, mas a nossa verbalização mudou do
escoteiro de campo para o escoteiro da cidade. Parece que a civilização venceu
o desejo da vida ao ar livre das técnicas de campo e o de dormir sob as
estrelas.
Vez ou outra um ou outro comenta a
vontade de voltar às origens. Origens? Bem campismo é sinônimo de escotismo Badeniano.
Se isto não acontece é porque as diretrizes apontam em direção contrária.
Porque não acampar? São perguntas constantes. A falta da técnica, a falta de
normas campeiras nos moldes de Gilwell, a falta de fazer fazendo, está empurrando
muitos voluntários escoteiros para um escotismo diversamente contrário ao que
apregoamos. O desejo sobe a tona quando o Chefe toma ciência destas técnicas e
da vivencia na natureza. – Porque não acampar?
Sei que a civilização moderna nos empurra para
a tecnologia e muito do que os escoteiros faziam se tornaram obsoletos.
Verdade? Eu não troco um GPS por uma bússola, uma conversa feita em um celular
pela realizada no Morse ou Semáforas. Isto é bom demais!. Medir distancias,
previsão do tempo, leitura de mapas, percurso de Gilwell e tantos que não troco
por nada moderno. Sei que muitos não tem conhecimento de campo, de barracas, de
tempestades imprevistas, sei que muitos desconhecem o cheiro da terra molhada
em uma floresta, o aroma das flores das árvores frondosas, da nascente de águas
cristalinas. Não sabem distinguir o canto de um Sabiá de um Inhambu, e se forem
dar uma quadrada ou diagonal precisam ligar o celular para ver como fazer.
Porque acampar? Para levar uma quentinha, uma
caminha, uma empregada para arrumar a tralha? Melhor não ir. Fique em casa.
Agora se quer aprender como fazer um fogão de barro, um estrela, um lavrador,
um caçador ou um Fogo Refletor e o mais banal o fogão Tropeiro tá na hora. Já
pensou você receber um palito de fósforo e acender um fogo de conselho? São
muitas técnicas mas você sabe, ninguém nasce sabendo. Está é a hora de sair por
aí, uma floresta, um cerrado, uma serra altaneira, e pé na tabua. Não sabe?
Melhor ainda é fazer fazendo. Quantos fogões suspenso eu vi cair? E alguém
desistiu? Nunca. Quantas mesas com nós e amarras frouxas eu vi desmanchar?
Agora uma coisa deve ser dita. Ir
e ficar reclamando não dá. Se fores para o campo se prepare para a intempérie,
do frio, da chuva dos insetos que conspiram contra você, das pedras no caminho
e dos calos que vão aparecer quando começar suas construções de pioneiras. Quer
acampar? Então abrace a vida aventureira. Esta de acampar perto da civilização,
em um campinho de futebol em um sítio ou próximo a uma fazenda cheia de coisas gostosas
a venda nas lojinhas não dá. Não dá mesmo.
Olhe, eu já passei mais de mil
noites no campo. Aprendi a dormir o sono dos justos em barracas, em baixo de
árvores, em cima de árvores, em trilhas barrentas, e vi um relâmpago derrubar
uma barraca suspensa que dormíamos a sono solto. Para mim quem não acampa não
deve participar do escotismo. Se você não se adapta, melhor ficar como um
membro da diretoria. Agora se quer acampar faça acontecer. Seu grupo não tem
outros chefes? Porque não duas ou mais vezes ao ano saírem por aí em uma
atividade aventureira? Sem essa de ter um dirigente mandão ou um chefão que
sabe tudo com um programa na mão. Como dizem os velhos lobos, deixe o vento te
levar...
Programa? Tem sim, está cheio de
tempo livre para você fazer e aprender técnicas aprendendo com um outro Chefe amigo
seu. Vá pescar, vá aprender a subir e descer uma árvore em um nó de evasão.
Aprenda a fazer um Ninho de Águia, faça uma escada de cordas, tente montar um
elevador de campo. Porque não uma ponte Levadiça? Que tal atravessar um córrego
em uma ponte pênsil? Ou então fazendo um comando Crow? Mas não esqueça sua
Poltrona do Astronauta. Sem ela não dá. Isto mesmo. Meu amigo quer acampar não
fique reclamando. Mochila nos costados, comida no bornal, barraca de uma lona
ou vá aproveitar a barraca de Deus pois o céu é seu!
Ninguém quer ir? Então não
reclame, vá sozinho. O que? Meu amigo eu acampei sozinho tantas vezes que foram
os meus melhores acampamentos. Sem vozes humanas, sem chamadas, sem reclamações
e ter a oportunidade de olhar o viajar das estrelas no céu. Elas parecem andar
e seus brilhos mudam de cor. E um cometa com um enorme rabo colorido? E os
objetos voadores que vão por um lado a outro? Bom demais. Dormir e acordar não
tem hora marcada. Deu fome? Asse um pão do caçador, ou quem sabe frite um ovo
no espeto e se vire meu amigo.
Lembre-se, há dois tipos de
acampamentos para nós os chefes. Com os jovens sendo você o responsável e com
seus outros amigos chefes onde a responsabilidade são de todos. Se acampar com
os meninos, faça seu campo. Monte sua barraca, sua cozinha, faça seus bancos
para uma noitada de conversa ao pé do fogo. Acampar? Claro, isto sim é
escotismo feito na sua raiz. Bom campo, boa atividade e pelas barbas do
profeta, que mil morcegos e mil pernilongos cantem para você todas as noites! E
olhe fique amigo deles e vai sorrir para sempre nos acampamentos.
Nota: - Você é Chefe? Gosta de acampar? Se já fez
mais de cem noites de campo parabéns se não meu amigo engrene a primeira marcha
e faça acontecer. Tu és ainda um Pata Tenra. Não dá? É difícil? Nem sei o que
dizer. Mas olhe se ama a vida escoteira não existe nada neste mundo que fará você
deixar de viver a natureza, acampando e vivendo o que o escotismo nos deu. Boa
atividade e bom campo!
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