Conversa ao
pé do fogo.
Negócio de
ocasião. Vendo lembranças.
Vendo a quem se interessar
um canivete Suíço, antigo de mil e uma utilidades nos acampamentos que fiz. A
venda também uma mochila verde musgo, presente de um Capitão do Exercito lá
pelos idos de 1951 em ótimo estado de conservação. Viajou em meus costados por
longas jornadas me levou a lugares incríveis, serras e montanhas encantadas.
Vendo um colchão feito de dois sacos de estopa, vazios, ótimo quando colocar o
capim ou folha seca para aprumar.
Vendo uma marmita de alumínio
impecavelmente brilhante sem carvão, que ganhei de um soldado Próximo a Mantena
Minas Gerais. Junto segue um garfo e uma colher de pau que fiz quando tirei
minha segunda classe lá pelos anos de 1952. A caneca cinza esmaltada não há
encontrei no meu baú do tempo. Não posso vender as folhas de bananeira ou de
taioba que me serviram de caneca nas minhas jornadas da vida. Vendo um lenço
verde amarelo, quadrado da minha promessa como lobo em 1947, ainda em perfeito
estado de conservação.
Vendo uma faca mundial, com
bainha em perfeito estado e preservada com talco para não enferrujar. Vai junto
uma machadinha de Escoteiro, cabo de aroeira, envernizada, limpa, bem afiada e segue
junto uma pedra de amolar que usei por muitos e muitos e muitos anos. A venda
também um sapato Vulcabrás, usado, engraxado e pronto para percorrer léguas e
léguas nas estradas de terra do meu Brasil. A venda uma bússola Silva, usada
quando fiz minha jornada de Primeira Classe em perfeito estado, sem quebras ou
riscos. A bússola Prismática desculpe, não vendo. Tenho grandes recordações.
Vendo um bastão Escoteiro,
duas e meia polegada de diâmetro, um metro e sessenta com ponteira de aço, com
marcas a fogo dos acampamentos, dos meus cordões de eficiência e a Correia de
Mateiro. Tem várias especialidades não tanto como hoje, mas tem aquelas que não
eram fáceis para um escoteiro conquistar. - A de Sinaleiro, Construtor de
Pioneirías, Cozinheiro, acampador e Socorrista. No bastão está uma bandeirola
Branca que ganhei de uma atividade no Pico da Bandeira presente de um Policial Rural
radicado na Serra do Caparaó.
Vendo com dor no coração meu
cantil francês, que um Escoteiro do Rio ganhou em um Jamboree no Canada e me
presenteou. Limpo, capa sem manchas e ainda adornada com o símbolo do exército
francês. Vendo cinco meiões já gastos, puídos, mas ainda em perfeito estado de
conservação. Guardam belas recordações. Vendo um chapelão Escoteiro, de três
bicos, com abas retas sem tortura. Os outros dois não vendo. Valem uma vida que
não tem preço que pague.
Com tristeza vendo também
minhas estrelas de atividade. Algumas com cinco dez ou quinze anos e várias de um
ano. Estão em perfeito estado, pois meu Chefe fazia questão delas brilharem.
Vendo três penachos, um de escoteiro outro de sênior e um de Chefe. O de
pioneiro eu perdi quando acampei nas margens do Rio das Velhas. Vendo um diário
escoteiro com paginas e paginas preenchidas, onde anotei minhas noites de
acampamentos, fogos de conselhos, jogos noturnos, travessias em rios e balsas
incríveis que hoje não existem mais. Não posso vender um sonho escoteiro de
menino que dele não esqueceu jamais.
Também
não vendo minha honra escoteira. Dela não abro mão. Meu caráter seguirá comigo
para a estrela que for me receber. Também não vendo minha palavra, minha ética
escoteira minha lealdade e meu cavalheirismo aliado à cortesia que nunca
abandonei. Não está à venda as recordações nos meus quase setenta anos
escoteirando e minha fé em Deus.
Vender as estrelas no céu que
levei comigo por este mundão sem fim é impossível. Elas não me pertencem. Os
fogos de conselho que participei as canções que cantei e os aplausos que recebi
e dei não posso vender. Inegociável o sol e a lua espetada no céu. Desculpe não
oferecer as tempestades, as noites no campo, o vento passante e a brisa da
madrugada. Ah! Ia esquecendo, A coruja buraqueira minha amiga não me autorizou
vender. O pardal o bem ti vi e a rolinha que me beijou um dia também não posso dispor.
Conversei com o Lobo Guará, sempre desconfiado sorriu e me disse: - Nem pensar
Vado Escoteiro, nem pensar...
Quem quiser comprar vai ter de esperar o
dia que eu for partir. Vai demorar, pois não sei quando vai ser. Ainda estou
amarrado no baú do tempo. Ele é difícil de abrir, está amarrado com um cabo
trançado de cipó que aprendi a fazer com um índio amigo nas margens do Rio Doce.
Não vendo minhas histórias, meus contos minhas lendas. Elas não tem preço, pois
elas eu dou com prazer a todos que quiserem ler. Gostaria de fazer um convite
para um dia em volta de um fogo contar histórias para meus amigos. Prometo um
gostoso café no bule na brasa, papos legais, histórias incríveis acompanhadas
de lindas canções escoteiras.
Quanto dão? Quanto oferecem? Dou-lhe uma
dou-lhe duas vendido tudo para quem der o melhor sorriso, fizer a melhor boa
ação e tem preferência quem gosta das minhas histórias. Será que foi um bom
negócio? Desculpe não ouvi sua proposta, fica para outra vez, em outra vida que
tenho certeza voltarei novamente como escoteiro e terei outras lembranças para
dar e não vender.
nota: - Hoje resolvi vender
tudo que tenho. Não sei o valor e nem sei quanto dinheiro irei receber. Quem
sabe um abraço ou um sorriso podem pagar uma vida escoteira? Venha participar
na minha conversa ao pé do fogo. Faça uma oferta, vamos discutir quanto é. Prá
nós velhos escoteiros o dinheiro não tem valor. Assim procure algum que pode me
chamar à atenção e levar tudo que tenho e sou!
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