Lendas escoteiras.
Nick Mordekay foi a Assembleia Nacional.
Foi sim. Mas antes é preciso voltar um pouco ao passado. Nick Mordekay não era
novo e nem antigo Escoteiro. Tinha somente sete anos como escotista. Não tinha
filhos no grupo. Passou viu a escoteirada, gostou e porque não ajudar? Foi bem
recebido. Viu que eles precisavam de voluntários. Nunca pensou que uma
organização pudesse atraí-lo tanto. Depois soube que foi picado pelo mosquito
Badeniando. Risos. A tropa de escoteiros não tinha Chefe. Chefe Fantini o
Diretor Técnico era quem tomava conta. Nick Mordekay entregou-se de corpo e
alma a sua nova tarefa. Fez tudo direitinho. Os cursos que podia fazer ouviu
conselhos e orientações do seu Assessor pessoal e aos poucos desenvolvia com
amor a programação feita por ele e os Monitores. Assim aprendeu nos cursos.
Nick Mordekay era um Chefe Escoteiro simples. Não falava muito e só o
necessário. No grupo tinha amigos, mas poucos na cidade que morava. Seus
contatos de e-mail eram poucos. Conhecia muitos escotistas dos outros grupos,
pois sempre participava das reuniões onde ele era convidado. No seu grupo eram
poucos chefes. Ele, Chefe Beth sua Assistente, Noêmia a Akelá e o Chefe
Fantini. De vez em quando alguns pais ajudavam, mas eram poucos. Chefe Beth
estava com ele por causa das meninas. Ele mesmo fez o convite. Achava que os
jovens poderiam procurar os chefes para um aconselhamento e dependendo o
assunto ele não era o mais indicado. Chefe Beth era devagar. Quase não ia às
excursões e acampamentos. Pudera. Já entrava nos sessenta anos.
De uns tempos para cá, Nick Mordekay passou a observar que em um ano mais de
vinte e cinco por cento dos jovens da tropa saíram. Notou também que a procura
era pouca e sempre um número maior de meninas. Elas pelo menos ficavam mais
tempo em atividade. No principio nem notou. Nick Mordekay era o protótipo do
bom Chefe escoteiro. Só se preocupar com os jovens do seu grupo e mais nada.
Não discutia com outros Chefes alterações mudanças, nada. Ficou cismado quando
na sua tropa o número de escoteiras era maior do que de escoteiros. – Porque os
meninos saem mais que elas? Pensou. Procurou o Diretor Técnico. Ele nada tinha
a acrescentar. Só disse a ele que aplicasse corretamente o programa de
progressão Escoteiro. Mas ele fazia isto. Pelo menos acreditava que praticava o
que aprendeu nos cursos e nos livros Escoteiros que tinha.
Nick
Mordekay pediu autorização ao Diretor de seu grupo e procurou o Comissário
Distrital. O que ele disse não ajudou em nada. Mesmo assim perguntou – Chefe!
Porque não existe um seminário ou mesmo um curso para podermos discutir com
quem faz e dá certo, com quem não tem este problema em seu grupo e assim poderíamos
aprender? Nos cursos os formadores falam e falam, eu pergunto se ele tem
experiência em seu grupo ou resultados e ele sai pela tangente. O comissário
coçou o queixo e não soube responder – Porque não vai a Assembleia Nacional?
Disse. Lá é o lugar certo. Nick Mordekay não havia pensado nisto. Nunca tinha
ido. Era hora de ir. Todos falavam que lá era o lugar onde poderiam sugerir
mudar alguma coisa e tirar suas dúvidas. Disseram para ele que lá sim
encontraria os Grandes Chefes, os Velhos Lobos e tantos outros da alta
hierarquia Escoteira. No dia programado levou sua carteirinha da UEB, pois como
Chefe de Tropa ele iria se inscrever para todos os dias do evento. Caro, pagou
o que não podia. – Minha nossa! Quanta gente! Ele não conhecia quase ninguém.
Cumprimentou um ou outro. Os mais graduados só sorriam e iam em frente. Na
secretaria perguntou quando iam discutir temas de interesse aos chefes de
tropa. A mocinha lá não sabia dizer. – Olhe aquele ali é o atual Presidente.
Fale com ele.
Decepção. Até que foi educado. – Meu caro Chefe este ano vamos discutir a
mudança de estatutos e você poderá sugerir mudanças não votar por que não é conselheiro.
Deu um sorriso azedo e se foi. Nick Mordekay viu que se faziam rodinhas aqui e
ali. Todos discutindo os planos, os programas tudo que eles os candidatos a
conselheiros se propunham a realizar. Nick Mordekay foi de roda em roda. Ouviu
tudo. Pensou consigo – Será que irão fazer tudo isto? Cada região tinha seu
candidato. Sempre cercado de correligionários. Nick Mordekay achou aquilo
parecido com as eleições em sua cidade. Só faltavam os santinhos. Pelo menos o
chão ainda estava limpo. Risos. Soube que em uma sala discutiam um tema. Correu
lá – nada! Era uma região discutindo o que apresentar para os Estatutos. O
olharam com cara fechada. Ele não sabia das reuniões secretas. Descobriu
naquele “montão” de gente outros chefes como ele. Queriam aprender, queriam
sugerir, mas não sabiam como. Porque o comissário disse para ele que lá era o
lugar certo para mostrar suas ideias?
Nick Mordekay ficou decepcionado. Até mesmo com os tais candidatos e tais
chapas de diretoria. Pensou que pelo menos uma estaria conclamando a todos caso
fossem eleitos, de fazerem um grande mutirão para discutir os temas que os
chefes achassem válidos discutir. Que eles seriam transparentes. Que os
programas deveriam vir de baixo e não de cima. Não era nada disto. Nick
Mordekay pensou que seu problema de saída e abandono dos jovens pelo escotismo
era só dele. Ninguém interessou a discutir com ele o tema. Ele achou que os
demais tinham grande sucesso nas suas tropas. Quando um retrucou dizendo que se
ele fizesse a progressão bem feita isto não aconteceria, Nick Mordekay se
sentiu perdido. Ele não era um bom Chefe? Não receberia a Insígnia de Madeira
em breve? Nick Mordekay ficou até o ultimo dia na Assembleia Nacional. Conheceu
muita gente. Viu muitos se mostrando com suas medalhas. Viu outros tantos sendo
agraciados nas sessões solenes com medalhas que ele nem conhecia.
Nick Mordekay ficou sabendo que lá na Direção Nacional as assembleias sempre
eram assim. Ir lá e apresentar um tema era perda de tempo. Um Chefe que foi uma
vez disse ter ficado decepcionado. Não pela confraternização ela foi ótima. Mas
não só de confraternizações o escotismo sobrevive. Uma coisa Nick Mordekay
aprendeu. Iria estudar muito. Iria fazer cursos e cursos. Iria conquistar sua
Insígnia de Madeira. Lutaria depois para ser um formador. Iria ser um dirigente
regional. Iria aprender os meandres do poder. Só assim ele acreditava que
poderia um dia dizer a todos que todos, mas todos do escotismo deviam ser
ouvidos. Deviam votar, deviam decidir o que eles queriam. Deviam discutir os
seus problemas e não os que os outros pensavam.
O que Nick Mordekay não sabia era que o poder não corrompe os homens; mas os
tolos, se eles adquirem uma posição de poder eles sim a corrompem. Leu isto uma
vez. Era de George Bernard Shaw. Assim como também disse Benjamim Disraeli que todos
amam o poder, mesmo que não saibam o que fazer com ele. Ele sabia das promessas
de campanha. Será que ele também seria corrompido pelo poder? Será que quando
se sentisse seguro no alto do seu pedestal seria o mesmo Nick Mordekay de hoje?
É. Nick Mordekay pensava tudo isto quando em uma tarde livre, sentado na praça
perto de sua casa ele sonhava. Sonhos utópicos. Sonhos de poder. Acordou
assustado com o nariz coçando. Fora picado por uma abelha. Mau sinal. Risos.
Nick Mordekay chegou à conclusão que era melhor voltar para sua
tropa. Ele sim iria descobrir o porquê um bom número dos seus jovens estavam
indo embora. Chega de poder, quem foi quem disse que o poder no escotismo era o
poder do nada? Que o poder corrompe? O poder absoluto corrompe absolutamente?
Deixe com os outros esta liderança Nick Mordekay. Você é somente um simples
mortal. Siga os passos de Charles Chaplin que disse: lute com determinação,
abrace a vida com paixão, perca com classe vença com ousadia, porque o mundo pertence
a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante!
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