Conversa
ao pé do fogo.
Pais precisamos deles?
Em uma noite calma, até
quente para aquele mês, eu e mais doze chefes estávamos sentados em volta de um
foguito quando o Chefe Popeye soltou esta: Seria muito bom se não tivéssemos pais
para encher a paciência! Olhamos espantados para ele. – Não se fez de rogado –
Veja só continuou quando chegam ao grupo temos que perder um enorme tempo para
explicar as vantagens do escotismo, se dissermos a ele que tem uma burocracia
para preencher e participar olham para a gente como se fossemos ET. Perdemos um
enorme tempo tentando incutir em suas cabecinhas o método Escoteiro e o
principio de aprender fazendo. Quando comentamos sobre os acampamentos é um Deus
no acuda! – Tem cobra? Tem carrapato? Tem Leão e onça? Mas Chefe ele vai comer
a comida lá do mato? Quem é o cozinheiro? E os remédios dele? E se ele tiver
fome? Coitadinho do meu filhinho!
Queira ou não nenhum Chefe
deixou de pensar e concordar em parte com o que o Chefe Popeye dizia. Seria
muita pretensão pensar que eles um dia pudessem ter sido escoteiros e já
chegassem sabendo de tudo. – Afinal continuou o Chefe Popeye – Já contaram o
tempo que perdemos com eles? Fazemos visitas em suas casas e eles dificilmente
retribuem. Motivamos suas presenças nas reuniões de pais que de pais só tem
nome, pois a maioria que aparecem são mães. Todo sábado a maioria leva seus
filhos na reunião e muitos impacientes ficam no pátio a olhar para o relógio
como se estivéssemos atrasados! Sorri para mim mesmo. Nesta parte eles tinham
razão. E nos acampamentos? A mãe a abraçar o filho ou a filha, o pai nos
olhando como se fossemos fazer uma sopa do filho dele. E os avisos? – Meu filho
tem isto e aquilo! Qualquer coisa corra com ele para o hospital e nos avise!
Ninguem cortou o Chefe Popeye.
Ele de cabeça baixa, olhando a grama molhada da noite enluarada sorria
baixinho. – Sabem, tem uma mãe que teve a pachorra de me dar uma enorme sacola
com tudo que ele gostava de comer, pois era enjoado e não comia qualquer coisa!
– E a lista dos remédios? Enorme. As tantas dê isto a ele, as tantas mais estas
e assim vai à lista sendo programada para os três dias de acampamento! E se você
precisar deles? Tem alguns que aceitam logo seu convite. Querem ficar perto dos
filhos e se resolvem participar como chefes tome cuidado. A proteção que dão
aos seus filhos nos faz ficar vermelhos de raiva. Afinal ele não foi ali para
aprender a viver a vida como ela é? Aprender a se virar sozinho? Aprender a
fazer fazendo?
Pois é, não tiro a razão do Chefe
Popeye. Claro que tem muito do que ele disse que não é assim, mas tem outras
que ele está inteiramente certo em suas ponderações. Como somos um movimento
quase desconhecido, não existe propaganda das vantagens do movimento Escoteiro.
Na imprensa falada escrita e televisada nada se comenta e quando aparece alguma
notícia é para desmerecer nossos valores. Quando o menino ou a menina se
entusiasma recebe uma chusma de contras e quando se convencem a atender seus
filhos os pais resolvem matriculá-lo é um Deus no acuda! Os pais não a mãe. O
pai sempre está ocupado. Não dizem que mãe é mãe? Olhei para o Chefe Popeye e
na minha mente completei um pouco de suas ponderações. Realmente na maioria dos
grupos é uma dificuldade arregimentar os pais. Quando fazemos uma Assembleia
não perguntamos qual seria o melhor horário e dia. Nunca chegaríamos a um consenso
comum, pois a presença será mínima seja que dia for.
Hoje com a entrada de
milhares de pais tudo tem mudado um pouco. Mas ainda vejo comentários deles
dizendo o que fizeram com seus filhos, que eles são prejudicados, que o Chefe tal
não os ensina que o monitor é mal educado e assim vai. Será que estes pais que
chegaram agora estão mesmo ajudando ou prejudicando a formação do seu filho
conforme preceitua o método Escoteiro? Não vamos levar ao pé da letra, pois tem
milhares de bons escotistas que iniciaram. Eu posso até concordar em tese, mas
não sei se na prática seria assim mesmo. Posso afiançar que nenhum Grupo
Escoteiro pode viver sem eles. Os pais são o baluarte e a segurança de uma
unidade escoteira. Mas lembremos de que pai é pai, Chefe é Chefe. O respeito de
ambos deve ser fato primordial e até não vejo dificuldade de uma conversa
franca para amenizar discórdias. Nada melhor que um boa reunião de Conselho de
Chefes.
Queira ou não é
a comunidade local que devia se sentir responsável pela formação e manutenção do
Grupo Escoteiro local. Parodiando o Chefe Popeye se os chefes não andarem com
suas próprias pernas todo o trabalho é perdido. O convencimento, o trabalho
individual com cada um deles, o apoio para arregimentação de fundos, os planos
da sede própria tudo deveria ser de responsabilidade dos pais ou da comunidade próxima
onde vivem sempre são realizados pelos chefes. Tive a oportunidade em conviver
em diversas comunidades das mais pobres as mais bem aquinhoadas. Em qualquer
uma é possível fazer um bom escotismo, mas insisto, o trabalho não pode de maneira
nenhuma ser somente do Chefe Escoteiro. Em primeiro lugar a UEB deveria ter um
plano de ação para todas as comunidades brasileiras. O que existe hoje não
supre as necessidades. Um profissional competente para fazer o marketing necessário
onde todos pudessem ver as vantagens educacionais do escotismo.
As regiões que
estão mais próximas das comunidades locais também deveriam ter um profissional
pago, conhecedor do escotismo, bom conferencista para atender a demanda dos
grupos em suas cidades. Os distritos não vou a tanto. Eles salvo raríssimas exceções
não tem meios financeiros de sobrevivência. Se não é o altruísmo e a força de
vontade em ajudar não teríamos distritais em nenhuma área. Tudo uma questão de
estrutura. Sabendo agir o sucesso será alcançado. Sabemos que o tempo é
precioso e um Chefe Escoteiro tem responsabilidades tais que os pais deveriam
em principio agradecer seu trabalho, ficar ombro a ombro ao seu lado, fornecendo
tudo aquilo que estivesse ao seu alcance para o sucesso do Grupo Escoteiro.
Afinal quem iria ganhar com isto não é o Chefe e sim ele próprio e seu filho.
Sei que existem diversas formas
para arregimentar e motivar os pais. Mas sei também por experiência própria que
sem o trabalho do Chefe nada irá dar certo. Chefe Popeye tem razão em muitas
coisas. Se os chefes tivessem alguém para se preocupar com tantas obrigações
que hoje são realizadas pelos chefes, seria muito mais fácil adestrar e formar
uma sessão escoteira conforme se preceitua o nosso método Escoteiro. Como não
tivemos a oportunidade de formar milhares que hoje estão na comunidade e são
pais, o escotismo infelizmente é desconhecido para todos. Precisamos lembrar
que grande parte desta responsabilidade cabe aos nossos dirigentes. Eles sim
deveriam fazer de tudo para facilitar a vida escoteira dos chefes, dando a eles
as facilidades necessárias para desempenharem suas funções. Afinal valorizar os
nossos voluntários escoteiros deveria ser uma norma a ser seguida por todos.
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