Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Contar histórias é uma arte?


Conversa ao pé do fogo.
Contar histórias é uma arte?

Era uma vez... Em um país muito distante...

                          É bom demais contar histórias. Escoteiras é claro. Quantas eu contei? Milhares talvez! Hoje não mais. A velhice rabugenta e meu pulmão revoltado me tirou a voz. Eu me divertia quando contava, quando via a escoteirada ou a lobada me olhando com cara de incrédulo ou outros que se transportavam para dentro do conteúdo da história. Seus olhares me faziam feliz. Inesquecíveis. Uma história de fantasma, em uma floresta escura, um Fogo de Conselho se apagando e você fazendo gestos marca há todos para sempre. Bom demais. E o susto do grito de horror no final? Masoquista Chefe? Não, depende da história. Se ela tem um fundo de exemplos pode contar. Tem seu valor. 

                    “Não há quem resista a boas histórias” escoteiras ou não. Nas páginas dos livros, dos jornais e das revistas, na tela do computador e na televisão, narradas presencialmente ou transmitidas pelo rádio... Seja lá onde for elas encantam, amedrontam, fazem rir ou chorar, assustam e são capazes de levar, ainda que em pensamento há lugares muitos e muitos distantes. Não importa a idade. De um que se esqueceu de ir para o céu aos jovens que ainda sonham em histórias das mil e uma noites. Eu adorava contar historias para escoteirada e a lobada. Mas olhe tem chefes que adoram. Em cursos contei muitas. E quem resiste a uma história bem contada ao pé do fogo? Vendo o crepitar da fogueira, olhando como hipnotizado para as fagulhas que se espalham no céu, e como um lobinho feliz abre os olhos e ouvidos para ouvir e viajar na história que o Chefe ou um lobo está contando. A mente está ali fixa no conto, que vai desenrolar uma aventura e ele parte célere junto à história com as personagens. Pode agora ser um herói, um explorador, um grande acampador e naquela história tudo se confunde com sua vida e seus sonhos.

                   Dizem os historiadores que “Contar histórias é uma das mais belas ocupações humanas: E a Grécia assim o compreendeu, divinizando Homero que não era mais que um sublime contador de contos da carochinha” Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem; só essa de contar histórias se dedica amoravelmente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo. Infelizmente, quase sempre, os contistas estragam os seus contos por os encherem de literatura, de tanta literatura que nos sufoca a vida! Dizia Eça de Queiróz. Mas eu gosto de começar e terminar um conto. Um dia descobri as histórias das mil e uma noites. Conta à lenda que na antiga Pérsia o Rei Shariar descobre que foi traído pela esposa, que tinha um servo por amante. O Rei despeitado e enfurecido matou os dois. Depois, toma uma terrível decisão: todas as noites, casar-se-ia com uma nova mulher e, na manhã seguinte, ordenaria a sua execução, para nunca mais ser traído.

 Assim procedeu ao longo de três anos, causando medo e lamentações em todo o Reino. Um dia, a filha mais velha do primeiro-ministro, a bela e astuta Sherazade, diz ao pai que tem um plano para acabar com a barbaridade do Rei. Todavia, para aplicá-lo, necessita casar-se com ele. Horrorizado, o pai tenta convencer a filha a desistir da ideia, mas Sherazade estava decidida a acabar de vez com a maldição que aterrorizava a cidade. E assim acontece, Sherazade casa-se com o Rei. O final? Risos. Só posso contar se um dia você ler o livro.

               Eu já contei histórias em muitos lugares que nunca imaginaria contar. Centenas de acampamentos, em montanhas altaneiras e picos incríveis. Em jangadas a descer um rio caudaloso, olhando o horizonte em um anoitecer charmoso. Em jornadas de sol ou de chuva, em belos encontros de chefes, em volta de uma fogueira esquentando na liturgia da Conversa ao Pé do Fogo. Sei que Influencias diversa me colocaram em fábulas reais ou imaginárias. Garatujo muitas baseadas em fatos autênticos, outras com uma pequena dose de ficção deixando no ar o gostinho da dúvida – Será que foi ou não verdade? – Nem sempre elas trazem um final feliz. Chorar também é bom dizem os poetas. É o meu estilo de escrever. Minha biografia escoteira e pessoal foi cheias de episódios, momento alegres, alguns com desfechos nem sempre felizes, mas que valeram cada minuto vivido. Todos eles ficaram marcados na memória. Alguns legítimos, outros apócrifos, e outros... Ah! Nestes casos ficam anotados na mente, com espaços ilimitados gravados em micro chips humanos, como recordação para a posteridade. Desses não esqueço nunca. Outros nem tanto. Um amigo já me disse que preciso fazer um backup da mente para nada se perder no tempo quando me for.

              Alguns contos ou narrativas são flashbacks que surgem do nada e com final feliz ou desfechos um tanto tristonhos, mas que fazem parte da vida e da história da humanidade. Importante saber que todos nós temos sempre uma história para contar. E se pudéssemos montar nossas biografias com fatos e feitos ocorridos, teríamos um volume imenso em paginas impressas no imaginário livro da vida. E você? Ainda não tentou contar uma história? Um fato acontecido que você nunca esqueceu? É tão fácil,  comece a escrever, coloque uma pitada de sal, se possivel duas pimentas, uma cebolinha e uma dose de chimarrão ou café ou mesmo mate. Leve ao fogo lentamente. A conversa ao pé do fogo vai sair, quem sabe vai fazer você vibrar. Comece não se preocupe ainda com o recheio. O início amedronta, mas o final e fantástico. Escotismo é assim, cada acampamento, cada jornada, cada excursão são como se fossem centenas de páginas de um livro ainda não escrito da sua vida, só falta você para fazer à personagem viver! E lembre-se: “Boi não é vaca feijão não é arroz”... “quem quiser que conte dois”.


              Eu sei que um dia não estarei mais aqui para contar histórias. Ninguém é insubstituível. Outros irão me substituir e quando eles se forem outros e outros irão aparecer. Espero que os contadores de histórias façam reviver o escotismo puro nos seus pensamentos, nas suas palavras e nas suas ações. O melhor da história é saber que gostaram. Fico feliz quando sei que colaborei para um sorriso, para uma lágrima perdida nas histórias da vida. Meu muito obrigado a todos os leitores que eu levarei no meu coração para onde for! 

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