Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
O valor de Um curso Escoteiro.
“Volta a Gilwell, terra boa”
“Um curso assim que eu possa eu vou tomar”!
Se existe uma formação sadia para chefes
escoteiros, os cursos escoteiros não faltam. São centenas deles aplicados por mês
em todo território nacional. Eles hoje atingem as áreas mais carentes e seus currículos
não deixam a desejar. Não tenho dados concretos mas acredito que mais de 2.000
(por baixo) alunos participam destes cursos por ano nos diversos estados da
federação. Hoje temos uma preocupação constante na formação dos chefes e toda
Região Escoteira e até mesmo os distritos já possuem a sua equipe de cursos.
Material humano para elas não faltam. Aí eu me pergunto, se nos últimos trinta
anos nós tivemos cursos e mais cursos aplicados, se por eles passaram por baixo
aproximadamente mais de 50.000 chefes (numero considerável não?) onde eles
estão? Você que está lendo esta crônica deve ter feito pelo menos um ou mais
cursos e sabe perfeitamente como é a euforia de fim de cursos. Uma alegria
geral, promessas de mudar tudo, fazer uma descoberta de novo mundo Escoteiro e
quem sabe imitar Cabral quando descobriu o Brasil.
Se
testemunho valer eu mesmo tive a honra de dar mais de duas centenas de cursos
na minha vida escoteira. Tranquilamente passaram por eles mais de dois mil
chefes. Aí eu me pergunto onde estão estes chefes? Porque saíram? Afinal nenhum
bom formador ou dirigente, deixa de comentar que nosso baixo crescimento é por
não ter chefes bem formados, conhecedores do escotismo para que os jovens
motivados permaneçam por muitos anos. Ora fico pensando com tantos cursos, com
tanta evolução de técnicas de aplicação, currículos modificados, qualificação
dos formadores sempre realizados continuo me perguntando: - Porque estes chefes
saíram? Sei que a maioria dos dirigentes tem a resposta valendo sua experiência
pessoal. Entretanto suas respostas para mim não explicam. Outro dia alguém me
falou que a UEB estava com um questionário no SIGUE, querendo saber qual o
motivo da falta de registro ou o abandono das fileiras Escoteiras.
O
questionário foi feito amadoristicamente. Nada de um técnico que entende do
assunto. E o pior no SIGUE. Por quê? Porque se o Chefe não se registrou ou saiu
do movimento ele vai entrar no SIGUE para saber da pesquisa? Este questionário
por mais amador que tenha sido se tivesse sido enviado via e-mail para todos
que saíram pelo menos os resultados poderiam ser melhores. Insisto sempre que
não temos uma politica correta para obter estatísticas e com elas podermos
estudar melhor não só a evasão como a preparação e formação do Chefe Escoteiro.
É um número altíssimo que abandonou o escotismo nos últimos quarenta anos. O
que é simples para mim talvez não seja para os responsáveis do escotismo
nacional. Ainda funcionamos amadoristicamente em todas as áreas que demandam um
crescimento satisfatório. O Plano de Metas da UEB sempre feito por um ou dois,
com dados inconclusivos para se atingir o objetivo proposto. Estes planos vêm a
cada ano sendo comentados mas nunca debatidos com a maioria dos chefes na
ativa. E seus resultados?
Se a UEB tem o endereço de pelo menos oitenta
por cento dos chefes que abandonaram as fileiras Escoteiras é meio caminho
andado. Mas quem se habilita? Será que é receio de ouvir o que não desejam
ouvir? Dizer que os motivos são conhecidos é ilógico (viva o Dr. Spock).
Entregar a meia dúzia para discutir dá no que deu. Sempre aqueles que tem uma fleuma
escoteira e se julga possuído com os dons para planejar e melhorar. Veja bem, temos
uma canção muito bonita que todos aqueles que atingem o nível avançado da
Insígnia de Madeira cantam principalmente nos encontros de Gilwell. – “Volta a
Gilwell”! Um curso assim que possa vou tomar! Onde existem tais cursos? Pense
em você, seja sincero, mesmo com uma reunião por semana, alguns acampamentos,
alguns encontros distritais não tem dia que você está cansado, aborrecido, sem
ideias, vontade de correr para os montes e se esconder em uma caverna? Chega o
sábado, milhares de problemas para resolver e cadê o programa de reunião? Quantas
vezes deu vontade de desistir? Bem sabemos que você não desistiu mas tivemos
milhares que preferiram sair.
Sem
querer desmerecer os tais Encontros de Gilwell, que só acontecem em ocasiões especiais
do jeito que são eu os considero um saco! Risos. Para mim é claro. Um Velho lobo
qualquer conta uma historia de Gilwell ou de BP, o dirigente máximo vai lá usar
da palavra e todos vão cantar a canção de Gilwell lembrando que ou era um bom
lobo, ou um bom vermelho. Bem isto até que é gostoso, lembrar sempre é bom. Mas
pensando bem se aproveitassem para fazer ali pequenos seminários em grupo,
discutindo os seus problemas, do que poderia ser feito para motivar quem sabe
os resultados seriam melhores. Afinal todos ali em princípio tem experiência. Mas
não, voltar a Gilwell é uma utopia. Se quiser aprimorar seus conhecimentos
passe a visitar Grupos Escoteiros com chefes bem formados, conhecedores (nem
tanto, nem tanto!) para melhorar seu cabedal Escoteiro. E leia! Tenha uma boa
biblioteca mas lembre-se não há como voltar a Gilwell para fazer um curso de
motivação.
Tem
alguma errada no reino da UEB. Os chefes estão partindo, nem querem saber de
voltar a não ser um ou outro que sentiu saudades. Nosso rumo não é dos melhores.
Não estarei por aqui nos próximos vinte anos para mostrar que o caminho
percorrido não foi válido. A empolgação de alguns dirigentes sempre com novos
planos deveriam ser feitos em grande escala de consultas e sugestões. Os cursos
são ótimos, valem a pena mas os resultados não foram alcançados. Justificar que
a culpa é do Chefe é demais. A culpa são dos dirigentes que ainda não abriram
um leque para saber quais as causas e os efeitos do abandono do escotismo por
tantos chefes e jovens. Se você comenta que o programa Escoteiro deixa a
desejar, não está motivando, se você comenta que falta mais apoio aos chefes,
se você comenta que os Grupos Escoteiros salvo exceções não tem um acompanhamento
adequado, vais receber muitas respostas. Mas e os resultados?
Ainda
temos aquela fleuma de dirigentes que esqueceram que devemos ouvir o jovem e
não falar por ele, que sem apoiar e confiar no Chefe Escoteiro sem ficar a
exigir folhas corridas; dados com firma reconhecida e facilitar sua vida para
que ele possa trabalhar seu escotismo com alegria e motivação; então ele vai
continuar. Ninguém tira a validade dos cursos. Mas a objetividade deve ser
melhor vista. Não é possível trabalhar onde não existem reconhecimento pela
sociedade, onde poucos conhecem o valor do escotismo. Somente um trabalho serio
com a participação ode todos e simultaneamente um marketing agressivo poderia significar
sucesso. Repetir que a transparência, pesquisas, consultas discussões honestas nunca
iremos alcançar o Caminho para o sucesso. Ainda bem que temos muitos que
acreditam que somos um movimento que mora no coração e temos um amor enorme por
ele.
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