Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Devolvam-me a minha Primeira Classe!
Era um sonho. Um sonho difícil, mas realizável.
Não era para qualquer um não, a gente tinha de ralar. Sem a Segunda Classe que
já era uma pedreira para receber e sem a jornada ela era impossível de
conquistar. Sem esquecer as especialidades, várias delas que eram obrigatórias.
Mas perguntem aos que conseguiram, vejam seus sorrisos, eles dentro de si sabem
que são vitoriosos. Não eram muitos, mas também não eram poucos. Um Primeira Classe
era um bamba. Você sabia que podia confiar. Sabia que era um campeiro, o
explorador, um conhecedor nato da natureza e da floresta. Era um expert em tudo
que você pode imaginar. Fazia o que todos julgavam impossíveis. Tinha noites de
acampamento para esbanjar. Montava de olhos fechados um campo de patrulha, podia
ser um monitor, mas resolvia tudo sem pestanejar. Sabia cozinhar, sabia nós
incríveis, fazia amarras de dar inveja. E a técnica de uma costura de arremate?
Para ser um
tinha de ser um grande mateiro. Era um mestre lenhador, um mestre explorador,
um mestre em navegação pelas estrelas na floresta imensa que ele sem medo se embrenhava.
Brincava com papel fazendo mil Percursos de Gilwell, tirava de letra uma Silva
ou uma Prismática, lia com perfeição um mapa seja ele qual for. Um Primeira Classe
explorava com destreza um ninho de águia, Uma passagem do Macaco, fazia com
perfeição uma ponte pênsil, mesas para ele era brinquedo de lobinhos. Seguia
pistas, sabia diferenciar as pegadas de pássaros, bichos seja o que for. Os
melhores tiravam sonecas em cima de altos galhos esperando um grande jogo
terminar. Afinal ele era um super Escoteiro? Podia até dizer que sim. Pergunte
a um deles. Conhece alguém que foi?
Hoje me lembrei
de alguns. Na minha vida conheci centenas, ou melhor, dizer milhares. Todos
eles tinham um respeito enorme pela nossa pátria, amavam a Deus pela sua
promessa, sabiam do valor de uma lei que sempre foi levada a sério. Notava-se
em cada um o crescimento do caráter, da palavra, da honra do orgulho em ser Escoteiro.
Um Primeira Classe sabia de seu valor para dar exemplo. Era um orgulho para a
patrulha e a Tropa, via seu amor pelo seu uniforme. Educado, prestativo um
verdadeiro gentleman Escoteiro. Achas muito? Pode ser que tenha alguns que não
se enquadrem nestes comentários, mas a maioria a gente se orgulhava e muito.
Dizem que os melhores não se pode ver nem tocar. Muitas vezes a gente sente
isto no coração. O orgulho do Chefe em saber que fez parte no crescimento do
rapaz é muito grande.
No escotismo
sabemos que para ensinarmos a um Escoteiro a se desenvolver e a se inventar
novamente, precisamos mostrar-lhe que ele já possui a capacidade de descobrir e
isto é fácil, aprender a fazer fazendo. Como já dizia BP um bom Chefe tem
sempre esta preocupação: Ensinar o Escoteiro a desenvencilhar-se sozinho. Se
puderem um dia conversarem com os pais dos Primeiras Classe iriam ver uma
pontada de orgulho em saber que o filho aprendeu a andar com suas próprias
pernas. Sabia onde pisava e eles os pais sabiam que quando crescessem iriam dar
significativos exemplos por serem responsável por si e pelos seus atos. Nas
patrulhas o Primeira Classe era respeitado. Quando havia mais de um então a
patrulha sorria de orgulho.
Você conhecia
o valor de um primeira classe na sede com jogos, com o tratamento aos demais e
nos acampamentos. Bom demais vê-los nos acampamentos. Os campos de Patrulha
eram perfeitos. As fossas, o fogão, os toldos, a mesa, as fossas, as
construções rústicas, o pórtico as engenhocas eram orgulho de qualquer Chefe Escoteiro.
Este não se aproximava. O campo de patrulha era deles. Os chefes ficavam a
observar de longe e esperando o convite para uma visita. Eles sabiam o que estava
acontecendo, afinal junto aos monitores e subs eles fizeram tudo isto,
ensinaram e aprenderam. E as especialidades? Não era fácil conseguir alguma. Entre
eles havia uma maneira de dizer que ali ninguém pregou na camisa alguma com “cuspe”.
As mais procuradas eram as de acampador, construtor de pioneirías, cozinheiro,
sinaleiro, bombeiro, observador, Técnico em orientação, socorrista e as mais
comuns sempre vinham por último.
Não era fácil mesmo conseguir uma. Mas quando
a gente duvidava perguntava: Esta especialidade Escoteiro, você está pronto a
nos ensinar? Ele sorria e dizia: - Só for agora, depois não posso. Cada Tropa tinha
seus instrutores de especialidades. Seu Joaquim pai do Jovi era bombeiro e era
convidado. Seu Nelson era telegrafista e era convidado e assim por diante.
Todos se compraziam em ajudar. Eles mesmo marcavam horas seja na sede ou em
suas casas para adestrarem os escoteiros. A Primeira Classe era tudo, até me
pergunto se não era mais que o Lis de Ouro. Sei que esta era o ápice de um Escoteiro,
mas foi mais fácil conquistar. Claro que nenhum Lis de Ouro receberia sem ser
um Primeira Classe. Mas entre todos os adestramentos escoteiros, não se podia
esconder a jornada. Era demais. Já pensou? Você e um amigo seu fazer uma
jornada de 24 horas sozinhos?
Época boa,
não se via um pai ali com medo, duvidando do próprio filho, da sua força, do
seu conhecimento. Não se via um pai ou uma mãe na sede na hora da saída dando
instruções ao filho. Eles sabiam que ali estava um Escoteiro preparado e eles
confiavam. Na chegada, o sorriso, o abraço e a pergunta rotineira: Como foi meu
filho? Mas tudo isto acabou. Acabaram com os distintivos de Classe. Não pesquisaram,
não perguntaram as tropas aos escoteiros, pelo menos ouvir a opinião de uma
Corte de Honra. Disseram que era para melhor. Vieram novos programas, mudaram
tudo. Sei que naquela época a maioria dos escoteiros ficavam na patrulha por
longo e longo tempo. Hoje nem tanto. Naquela época havia orgulho da Lei da
Promessa havia orgulho da Bandeira do Brasil da Pátria, havia uma motivação
enorme para um acampamento de Gilwell perfeito.
Se hoje é
assim também eu parabenizo. Mas desculpe qualquer prova de hoje, sem ser
saudosista, sem ser um que foi e hoje relembra com saudades, minha Primeira
Classe eu nunca vou esquecer. Pergunte a qualquer um daquela época, mesmo a Segunda
Classe sonho para usar a faca escoteira, até mesmo o noviço, que ficava meses
sem uniforme até estar devidamente preparado para fazer sua promessa escoteira.
– À noite no acampamento, a fogueira acesa, as chamas altas e o Chefe pede
atenção: - Escoteiros! Sentido! Hoje é dia de orgulho, dia que o Antônio Pedro
vai receber sua Primeira Classe! Ele saltava a fogueira três vezes e sempre
dizendo alto o seu novo nome escolhido índios brasileiros. Sua vida agora se
transformava, ele sabia que seria para sempre um verdadeiro Escoteiro Primeira
Classe por toda sua vida.
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