Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

domingo, 19 de julho de 2015

Devolvam-me a minha Primeira Classe!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Devolvam-me a minha Primeira Classe!

                     Era um sonho. Um sonho difícil, mas realizável. Não era para qualquer um não, a gente tinha de ralar. Sem a Segunda Classe que já era uma pedreira para receber e sem a jornada ela era impossível de conquistar. Sem esquecer as especialidades, várias delas que eram obrigatórias. Mas perguntem aos que conseguiram, vejam seus sorrisos, eles dentro de si sabem que são vitoriosos. Não eram muitos, mas também não eram poucos. Um Primeira Classe era um bamba. Você sabia que podia confiar. Sabia que era um campeiro, o explorador, um conhecedor nato da natureza e da floresta. Era um expert em tudo que você pode imaginar. Fazia o que todos julgavam impossíveis. Tinha noites de acampamento para esbanjar. Montava de olhos fechados um campo de patrulha, podia ser um monitor, mas resolvia tudo sem pestanejar. Sabia cozinhar, sabia nós incríveis, fazia amarras de dar inveja. E a técnica de uma costura de arremate?

                  Para ser um tinha de ser um grande mateiro. Era um mestre lenhador, um mestre explorador, um mestre em navegação pelas estrelas na floresta imensa que ele sem medo se embrenhava. Brincava com papel fazendo mil Percursos de Gilwell, tirava de letra uma Silva ou uma Prismática, lia com perfeição um mapa seja ele qual for. Um Primeira Classe explorava com destreza um ninho de águia, Uma passagem do Macaco, fazia com perfeição uma ponte pênsil, mesas para ele era brinquedo de lobinhos. Seguia pistas, sabia diferenciar as pegadas de pássaros, bichos seja o que for. Os melhores tiravam sonecas em cima de altos galhos esperando um grande jogo terminar. Afinal ele era um super Escoteiro? Podia até dizer que sim. Pergunte a um deles. Conhece alguém que foi?

                 Hoje me lembrei de alguns. Na minha vida conheci centenas, ou melhor, dizer milhares. Todos eles tinham um respeito enorme pela nossa pátria, amavam a Deus pela sua promessa, sabiam do valor de uma lei que sempre foi levada a sério. Notava-se em cada um o crescimento do caráter, da palavra, da honra do orgulho em ser Escoteiro. Um Primeira Classe sabia de seu valor para dar exemplo. Era um orgulho para a patrulha e a Tropa, via seu amor pelo seu uniforme. Educado, prestativo um verdadeiro gentleman Escoteiro. Achas muito? Pode ser que tenha alguns que não se enquadrem nestes comentários, mas a maioria a gente se orgulhava e muito. Dizem que os melhores não se pode ver nem tocar. Muitas vezes a gente sente isto no coração. O orgulho do Chefe em saber que fez parte no crescimento do rapaz é muito grande.

               No escotismo sabemos que para ensinarmos a um Escoteiro a se desenvolver e a se inventar novamente, precisamos mostrar-lhe que ele já possui a capacidade de descobrir e isto é fácil, aprender a fazer fazendo. Como já dizia BP um bom Chefe tem sempre esta preocupação: Ensinar o Escoteiro a desenvencilhar-se sozinho. Se puderem um dia conversarem com os pais dos Primeiras Classe iriam ver uma pontada de orgulho em saber que o filho aprendeu a andar com suas próprias pernas. Sabia onde pisava e eles os pais sabiam que quando crescessem iriam dar significativos exemplos por serem responsável por si e pelos seus atos. Nas patrulhas o Primeira Classe era respeitado. Quando havia mais de um então a patrulha sorria de orgulho.

                   Você conhecia o valor de um primeira classe na sede com jogos, com o tratamento aos demais e nos acampamentos. Bom demais vê-los nos acampamentos. Os campos de Patrulha eram perfeitos. As fossas, o fogão, os toldos, a mesa, as fossas, as construções rústicas, o pórtico as engenhocas eram orgulho de qualquer Chefe Escoteiro. Este não se aproximava. O campo de patrulha era deles. Os chefes ficavam a observar de longe e esperando o convite para uma visita. Eles sabiam o que estava acontecendo, afinal junto aos monitores e subs eles fizeram tudo isto, ensinaram e aprenderam. E as especialidades? Não era fácil conseguir alguma. Entre eles havia uma maneira de dizer que ali ninguém pregou na camisa alguma com “cuspe”. As mais procuradas eram as de acampador, construtor de pioneirías, cozinheiro, sinaleiro, bombeiro, observador, Técnico em orientação, socorrista e as mais comuns sempre vinham por último.

                    Não era fácil mesmo conseguir uma. Mas quando a gente duvidava perguntava: Esta especialidade Escoteiro, você está pronto a nos ensinar? Ele sorria e dizia: - Só for agora, depois não posso. Cada Tropa tinha seus instrutores de especialidades. Seu Joaquim pai do Jovi era bombeiro e era convidado. Seu Nelson era telegrafista e era convidado e assim por diante. Todos se compraziam em ajudar. Eles mesmo marcavam horas seja na sede ou em suas casas para adestrarem os escoteiros. A Primeira Classe era tudo, até me pergunto se não era mais que o Lis de Ouro. Sei que esta era o ápice de um Escoteiro, mas foi mais fácil conquistar. Claro que nenhum Lis de Ouro receberia sem ser um Primeira Classe. Mas entre todos os adestramentos escoteiros, não se podia esconder a jornada. Era demais. Já pensou? Você e um amigo seu fazer uma jornada de 24 horas sozinhos?

                    Época boa, não se via um pai ali com medo, duvidando do próprio filho, da sua força, do seu conhecimento. Não se via um pai ou uma mãe na sede na hora da saída dando instruções ao filho. Eles sabiam que ali estava um Escoteiro preparado e eles confiavam. Na chegada, o sorriso, o abraço e a pergunta rotineira: Como foi meu filho? Mas tudo isto acabou. Acabaram com os distintivos de Classe. Não pesquisaram, não perguntaram as tropas aos escoteiros, pelo menos ouvir a opinião de uma Corte de Honra. Disseram que era para melhor. Vieram novos programas, mudaram tudo. Sei que naquela época a maioria dos escoteiros ficavam na patrulha por longo e longo tempo. Hoje nem tanto. Naquela época havia orgulho da Lei da Promessa havia orgulho da Bandeira do Brasil da Pátria, havia uma motivação enorme para um acampamento de Gilwell perfeito.


                     Se hoje é assim também eu parabenizo. Mas desculpe qualquer prova de hoje, sem ser saudosista, sem ser um que foi e hoje relembra com saudades, minha Primeira Classe eu nunca vou esquecer. Pergunte a qualquer um daquela época, mesmo a Segunda Classe sonho para usar a faca escoteira, até mesmo o noviço, que ficava meses sem uniforme até estar devidamente preparado para fazer sua promessa escoteira. – À noite no acampamento, a fogueira acesa, as chamas altas e o Chefe pede atenção: - Escoteiros! Sentido! Hoje é dia de orgulho, dia que o Antônio Pedro vai receber sua Primeira Classe! Ele saltava a fogueira três vezes e sempre dizendo alto o seu novo nome escolhido índios brasileiros. Sua vida agora se transformava, ele sabia que seria para sempre um verdadeiro Escoteiro Primeira Classe por toda sua vida.

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