Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 21 de julho de 2015

Um Chefe feito na medida.


Conversa ao pé do fogo.
 Um Chefe feito na medida.

Um dia em visita a um Grupo Escoteiro vi esta carta em um quadro de avisos:

Queridos pais.
                           Nosso Chefe Pietro Lando nos disse para nós escrevermos, pois se caso vocês assistirem a inundação na televisão onde estávamos acampados não devem ficar preocupados. Estamos todos bem. Só uma das barracas e dois sacos de dormir é que foram na enxurrada. Felizmente nenhum de nós se afogou. Isto porque estávamos na montanha à procura do Zé, quando aquilo aconteceu. Ah! Por favor, liguem para a mãe do Zé e comentem que ele está bem! Ele não pode escrever por que está engessado nas pernas e nos braços. Andei num dos jipes da Policia Rural a procura dele. Foi Massa! Nunca conseguiríamos encontrar se não fosse a trovoada. O Chefe estava fulo com o Zé por ele ter ido fazer uma excursão sozinho, sem dizer nada a ninguém. O Zé disse que tinha dito ao Chefe, mas como foi durante o incêndio e o Chefe nem prestou atenção.

                       Sabiam que se puserem uma botija de gás no fogo à botija explode? Com o chefe fizemos a experiência. A madeira molhada perto queimou e uma das barracas também. Claro perdemos boa parte das nossas roupas. O pior vai ser o João. Ficará esquisito do jeito que está. Só vai melhorar quando o cabelo dele crescer novamente.  Só conseguimos chegar ao acampamento no sábado, pois só neste dia o chefe conseguiu consertar o carro. A culpa não foi dele. Os freios não funcionavam quando saímos daí. O Chefe diz que em um carro "Velho" é natural essas coisas acontecerem. Acho que é por isso que ele não fez seguro. Mas nós curtimos muito o carro. Não importava que ficassem todos sujos e suados. Quando ficava muito quente, o Chefe nos deixava ir em cima do para-lamas, e vocês sabem dez pessoas lá dentro fica muito quente. Ele nos deixou ir também em cima do capô. A Policia Rodoviária não gostou e multou o Chefe de novo. Só porque estávamos em cinco no capô. O nosso Chefe é muito valente. Discutiu com os policiais e quase saiu no braço com eles.

    Mas fiquem tranquilos, nem fiquem preocupados. Ele dirige bem. Está até ensinando o Miguel como se conduz o carro naquelas estradas de montanha, cheias de buracos, ribanceiras enormes, onde só passa um carro e com aqueles caminhões cheios de madeira indo para a fábrica de papel era uma diversão. Hoje de manhã, fomos mergulhar lá de cima das rochas para o lago. Mais de trinta metros de altura. O Chefe não me deixou porque eu não sabia nadar, e não deixou o Zé porque ele está com gesso nas pernas e no braço. O Chefe achou que nós poderíamos nos afogar. Assim fomos de canoa. Foi um espetáculo. Ainda se conseguiu ver muitas árvores apesar da inundação.

    O Chefe é durão. Não é rabugento como os outros chefes. Nem se queixou por não estarmos usando coletes salva vidas. Ele tem passado muito tempo tentando consertar o carro, por isso estamos sempre procurando lugares novos, mas quando estamos próximos dele obedecendo ele em tudo. Conseguimos as especialidades de Socorrista! Com o corte no braço que o David fez ao mergulhar no lago, aprendemos a usar o torniquete para estancar uma grande quantidade de sangue que saia. Também a torção no joelho que o Jairo fez ao cair em cima de uma pedra. Eu e o Luís vomitamos muito, mas o Chefe disse que era uma pequena intoxicação alimentar dos restos do frango de ontem que comemos. Ele disse que isso acontecia muito com a comida que eles comiam na cadeia. Acho muito bom que ele tenha saído de lá e vindo ser nosso chefe. Porreta!

   Bem tenho que terminar. Vamos a cidade mandar as cartas e comprar facas de mato, facão e balas. Ainda não usamos os fuzis e as metralhadoras que o Chefe levou.
Muitos beijos
Nelinho

P.S – Quando foi á ultima vez que tomei vacina contra o tétano?

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