Conversa ao pé do fogo.
Um Chefe feito na medida.
Um dia em visita a um Grupo Escoteiro vi esta carta
em um quadro de avisos:
Queridos pais.
Nosso Chefe Pietro
Lando nos disse para nós escrevermos, pois se caso vocês assistirem a inundação
na televisão onde estávamos acampados não devem ficar preocupados. Estamos
todos bem. Só uma das barracas e dois sacos de dormir é que foram na enxurrada.
Felizmente nenhum de nós se afogou. Isto porque estávamos na montanha à procura
do Zé, quando aquilo aconteceu. Ah! Por favor, liguem para a mãe do Zé e
comentem que ele está bem! Ele não pode escrever por que está engessado nas
pernas e nos braços. Andei num dos jipes da Policia Rural a procura dele. Foi
Massa! Nunca conseguiríamos encontrar se não fosse a trovoada. O Chefe estava
fulo com o Zé por ele ter ido fazer uma excursão sozinho, sem dizer nada a
ninguém. O Zé disse que tinha dito ao Chefe, mas como foi durante o incêndio e
o Chefe nem prestou atenção.
Sabiam que se puserem uma botija de gás no
fogo à botija explode? Com o chefe fizemos a experiência. A madeira molhada
perto queimou e uma das barracas também. Claro perdemos boa parte das nossas
roupas. O pior vai ser o João. Ficará esquisito do jeito que está. Só vai
melhorar quando o cabelo dele crescer novamente. Só conseguimos chegar ao acampamento no
sábado, pois só neste dia o chefe conseguiu consertar o carro. A culpa não foi
dele. Os freios não funcionavam quando saímos daí. O Chefe diz que em um carro "Velho"
é natural essas coisas acontecerem. Acho que é por isso que ele não fez seguro.
Mas nós curtimos muito o carro. Não importava que ficassem todos sujos e
suados. Quando ficava muito quente, o Chefe nos deixava ir em cima do
para-lamas, e vocês sabem dez pessoas lá dentro fica muito quente. Ele nos
deixou ir também em cima do capô. A Policia Rodoviária não gostou e multou o
Chefe de novo. Só porque estávamos em cinco no capô. O nosso Chefe é muito
valente. Discutiu com os policiais e quase saiu no braço com eles.
Mas fiquem tranquilos, nem fiquem
preocupados. Ele dirige bem. Está até ensinando o Miguel como se conduz o carro
naquelas estradas de montanha, cheias de buracos, ribanceiras enormes, onde só
passa um carro e com aqueles caminhões cheios de madeira indo para a fábrica de
papel era uma diversão. Hoje de manhã, fomos mergulhar lá de cima das rochas
para o lago. Mais de trinta metros de altura. O Chefe não me deixou porque eu
não sabia nadar, e não deixou o Zé porque ele está com gesso nas pernas e no
braço. O Chefe achou que nós poderíamos nos afogar. Assim fomos de canoa. Foi
um espetáculo. Ainda se conseguiu ver muitas árvores apesar da inundação.
O Chefe é durão. Não é rabugento
como os outros chefes. Nem se queixou por não estarmos usando coletes salva
vidas. Ele tem passado muito tempo tentando consertar o carro, por isso estamos
sempre procurando lugares novos, mas quando estamos próximos dele obedecendo
ele em tudo. Conseguimos as especialidades de Socorrista! Com o corte no braço
que o David fez ao mergulhar no lago, aprendemos a usar o torniquete para
estancar uma grande quantidade de sangue que saia. Também a torção no joelho
que o Jairo fez ao cair em cima de uma pedra. Eu e o Luís vomitamos muito, mas
o Chefe disse que era uma pequena intoxicação alimentar dos restos do frango de
ontem que comemos. Ele disse que isso acontecia muito com a comida que eles
comiam na cadeia. Acho muito bom que ele tenha saído de lá e vindo ser nosso
chefe. Porreta!
Bem tenho que terminar. Vamos a cidade
mandar as cartas e comprar facas de mato, facão e balas. Ainda não usamos os
fuzis e as metralhadoras que o Chefe levou.
Muitos beijos
Nelinho
P.S – Quando foi á ultima vez que tomei vacina
contra o tétano?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
obrigado pelos seus comentários