Conversa a pé
do fogo.
Nossa! Você
vai acampar?
Vou sim, desta vez vamos
longe, mais de oito quilômetros a pé. – A pé? Mas como? Você não mora mais no
interior, afinal nossa cidade é grande. Dei risadas. E daí? Está tudo preparado
– Afinal fizemos duas excursões e um acampamento só de monitores no mês passado
em um fim de semana para nos adestrar. Eles mesmos prepararam tudo que
precisamos levar. E olhe tudo vai nas costas, desta vez sem ônibus alugado e
sem pais para ajudar no transporte. Pensei comigo – Seria isto possivel? Ele
adivinhando o que eu pensada disse – Os monitores fizeram agora uma tal de
ração A, B e C. A ração A é para uma atividade de um dia, a ração B para dois
dias e a C para um acampamento de três dias ou mais. Assim fica mais fácil.
Eles mesmos fizeram o cardápio, calcularam por pessoa e cada um dos
participantes leva parte da ração. Tem aquelas que três levam arroz, tem aquela
que um só leva. Eles acharam melhor um cardápio simples onde com uma panela, um
caldeirão e uma frigideira eles fazem tudo. Achei interessante.
Conta-me mais. E como é levada a
intendência e o material de patrulha? - Fácil ele disse. Também dividida por
cada um da patrulha. Agora usamos um lampião a querosene. Ele vai vazio e
dentro de um vidro bem fechado leva-se o líquido. As barracas são pequenas e
simples de carregar com a mão ou prender na mochila. Assim gastamos o mínimo
possivel. Hoje a taxa foi de dez reais. Isto paga o ônibus ida e volta. Ele vai
nos levar até o entroncamento da estrada de São Mateus. Lá vamos andar uns
cinco quilômetros e chegaremos ao sítio do Leopardo. Fomos lá antes eu e os
monitores. O proprietário é gente boa. Disse que o local estava às ordens para
quando quiséssemos acampar. – Mas será que a tropa aguenta? Claro que sim,
fizemos duas excursões. Uma delas andamos sete quilômetros e a outra foi
noturna. Mais nove quilômetros à noite. Claro lá pelas duas da madrugada em uma
clareira jogamos as lonas e dormimos sob as estrelas. Cada um levou seu lanche.
E sabe o melhor? Neste acampamento só eu levarei o celular para uma emergência.
Será mesmo um acampamento mateiro.
Achei interessante. E o programa do
acampamento já fez? – Este vai ser um programa especial. Foram os monitores
ouvindo suas patrulhas quem prepararam tudo. Vamos ter sim o normal de um
acampamento de três dias. Levantar as seis, um pouco de física, café as oito e
inspeção as nove. Lembre-se vamos acampar nos moldes de Giwell. Cada patrulha é
autônoma. Terá seu campo de patrulha longe mais de 40 metros umas das outras. Desta
vez até eu e o Chefe Leão vamos levar nossa matutagem e nosso material. Nada de
comer nas patrulhas. Elas só irão ter nossa presença se formos convidados. –
Pensei comigo, será que vai dar certo? Era uma tropa acostumada a acampar com
pais levando tudo, e inclusive alguns lanches eles faziam. Pensei comigo que isto
não estava certo e agora vi uma mudança enorme. – Ele continuou, olhe teremos
um programa sem muitos horários. Muitos reclamaram da falta de tempo livre para
eles fazerem suas construções no campo de patrulha. As patrulhas irão aprender
a seguir pistas de animais, Irão tentar tirar uma foto de um animal ou pássaro
e vence aquela que chegar mais perto. Eles terão tempo para pescar, pois no
cardápio está incluída uma fritada de peixes frescos. Risos.
- E se chover? Se chover estaremos
prontos. Nada de serviço de meteorologia pelo rádio. Eles irão aprender
previsão de tempo dentro da mata e bosques. Pelas formigas, pelos pássaros, e
claro os vagalumes noturnos irão ensinar se vai fazer frio, se o orvalho vai
ser forte, irão descobrir ninhos para ver de onde vem à chuva, Prestarão
atenção ao vento, quantos nós ele anda, e já decoraram as quadrinhas de
previsão de tempo – Se tens vento e depois água deixe andar que não faz mágoa,
mas se tem água e depois vento põe-te em guarda e toma tento. Vermelho ao sol
por, delicia do pastor, orvalho de madrugada faz cantar a passarada, são
tantas! Mas se chover mesmo vamos aprender a fazer um pequeno celeiro só nosso
para abrigar a todos durante o dia. – Já treinamos isto com bambus e folhas
verdes. E lá tem muito pés de banana, sabendo cortar a folha sem prejudicar o
telhado ficará nos trinques. Vocês tem coragem eim? – Não é coragem, isto para
nós agora é escotismo mateiro. Afinal aprender um nó na sede sem usar no campo
não tem valor.
E olhe vamos conversar só com
transmissões à distância. Semáforos de dia e a noite Morse. Teremos um grande
jogo cujas instruções serão ditadas por sinais de fumaça! - Caramba! Estou
gostando do seu acampamento. Não deixe de me contar tudo. Quero fazer o mesmo
na minha tropa. - Claro que sim. Contarei tim tim por tim tim. Risos. E quer
saber mais? Desta vez teremos uma conversa ao pé do fogo, próximo a minha barraca,
comendo batatas doce, um bule de café na brasa, contar causos e histórias,
cantar e espreguiçar gostosamente, deitar na relva para ver as estrelas e ver os
cometas passarem. Aprendi a me orientar pelas estrelas. Ensinei aos monitores e
eles irão aprender mais com suas patrulhas. E o fogo do conselho? Olhe vai ser
típico dos velhos mateiros. Não teremos animador de fogo, cada um senta onde
quiser. A patrulha de serviço irá acender e manter o fogo em todo seu tempo.
Cada um apresenta o que quiser. As palmas serão criadas na hora. As canções
surgirão espontaneamente. Ah! Esqueci-me de dizer, quatro Escoteiros estão
treinando há meses como gaitistas. Vai ser um festival de gaitas. Risos.
- E sabe? Eles agora querem ser
chamados com nomes indígenas nos fogos de conselho. Disseram que todos devem
ter um nome de guerra. Aqueles que quiserem ou que já tiverem oito
especialidades e o cordão verde amarelo será batizado com nome indígena a sua
escolha. Irão saltar um pequeno fogo três vezes e a cada salto toda a tropa
grita seu novo nome de guerra. Bem isto foi eles que escolheram afinal todo o
acampamento foi programado por eles! Programa? Nada escrito, você já viu como
vai ser. Cada Monitor se encarregará de uma parte. Esqueci-me de dizer, vamos
fazer uma ponte pênsil em um córrego próximo. Estamos programando um jogo nela
de rachar! Risos. As bolas de pano já estão prontas para a lança. Mas não vou
contar – Pensei comigo acho que vai ser um acampamento inesquecível. Eu sabia
que nem tudo daria certo, mas quem não aprende a fazer fazendo não é Escoteiro
não é verdade?
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