Historias e estorias que não foram contadas

Historias e estorias que não foram contadas
uma foto, de um passado distante

terça-feira, 9 de junho de 2015

Se for para gastar não me convide.


Conversa ao pé do fogo.
Se for para gastar não me convide.

                 Não me levem a mal. Sei que como diz muitos dos nossos amigos Escoteiros não existem almoço grátis. Não deve existir mesmo, alguém tem de pagar. Mas eu faço tudo para que não seja eu. Calma, sou um Velho chato de galocha, mas não sou pão duro. Nada disto. Se quiserem saber já gastei do meu simples ordenado com o escotismo mais do que podem imaginar. Gastei com viagens nacionais e internacionais. Fui a um Jamboree, fui a seminários fora do Brasil fui até que me lembre no escambal. Risos. Gastei o que não devia e me arrependi até hoje. Valeu sim pela fraternidade, pelos conhecimentos, mas o gasto poderia ter sido mais bem aproveitado por toda minha família. Sei que tem muitos que ainda não viram que o escotismo não pode ser feito do toma lá da cá. Tem dinheiro? Vai, não tem não vai! Com o tempo fui lembrando-me do meu tempo que meu pai era um simples seleiro e mal colocava a boia na mesa.

                Sou de um tempo que se fazia escotismo gastando o mínimo. Meu uniforme eu comprei engraxando sapatos limpando quintais e outras oferendas em troca de um trocado. Morando no interior comprei meu chapéu Prada, meu cantil francês e meu sapato Vulcabrás. Comprei meu cinto na cantina da UEB, minha bússola, meu canivete suíço e minha faca alemã. Se eu fiz assim acredito que qualquer um também pode fazer. Sei que hoje muita coisa mudou e não nego que as facilidades de outrora não são as mesmas de hoje. Mas no meu grupo onde nasci nunca paguei mensalidade. Fazíamos sim “vaquinhas” para quando houvesse necessidade. E olhe acampávamos ou excursionávamos pelo menos uma vez por mês. Nada como uma boa ração A, ou B, ou a C. Mamãe nunca negava. Convidávamos grupos para acampamentos em conjunto, dois três muitas vezes cinco grupos (não havia distritos). A prefeitura doava a alimentação (éramos amigos do prefeito e o filho dele Escoteiro), o Batalhão Militar e a Viação Santa Clotilde sempre colocavam a nossa disposição  caminhões e ônibus. A Estrada de Ferro Vitória Minas era uma mãe dos Escoteiros. Sempre que se precisava um vagão a disposição.

                  Afinal naquela época existia ex-Escoteiros bem postos na hierarquia de muitas empresas e na prefeitura. Sei que hoje isto pouco acontece, mas afinal, será que não estamos fazendo escotismo que vai morar no coração do escoteiro para sempre? Melhor não falar sobre isto, quando falo nos resultados da formação Escoteira de hoje centenas de “çabios” dirigentes e politicamente corretos logo dão sinal de vida discordando. Podem não acreditar, mas como Comissário Regional em Minas Gerais (Hoje pomposamente chamado Presidente) fui a mais de quarenta cidades para desenvolver grupos, fazendo indabas distritais, seminários, e organizando grupos mal formados dando toda a estrutura que tínhamos. Nossas colaborações de materiais burocráticos eram mimeografados. Não existia Xerox, mas enviávamos um milhar de correspondência por mês aos grupos no estado. E se tivéssemos e-mail? Bom demais. Era uma mão de obra manter um arquivo de chefes e enviar a cada um no seu aniversário uma palavra amiga. Hoje me dizem que isto é impossível. Dizer o que? Quem quer faz quem não quer da desculpa. Durante meus sete anos a frente do escotismo mineiro fizemos realizar três acampamentos regionais, vários acampamentos distritais e em quase todos recebíamos Escoteiros de vários estados. Eles sabiam que não haveria taxa. A alimentação e transporte da capital ao local do campo eram de graça. Ainda bem que tivemos uma equipe jovem que pensava como eu.

                Naquela época organizamos quatro Indabas regionais. Nos dois últimos presentes mais de 400 chefes. De graça! Sei que é pouco comparado a hoje, mas naquela época meu amigo era formidável. Lembro-me dos lords da UEB dormindo sob barraca e com seu pratinho e canequinha na fila da boia. Eles pagavam do seu próprio bolso suas viagens e lá estavam meus amigos Darcy Malta, o Chefe Floriano de Paula, o Escoteiro Chefe Arthur Basbaun e dono da cadeia das Lojas Brasileiras. E o Helio? Profissional nota dez! Tivemos muitos outros de estados amigos. Desculpem por esquecer os nomes. Quantas vezes ficamos em volta de um fogo papeando e jogando conversa fora noite adentro? Ali não tinha cargos ali só tinha irmãos Escoteiros. E tudo sem taxa. Cursos? Todos eles de graça. Quando era necessário cobrar uma despesa extra, corríamos atrás de empresas para conseguir cobrir o valor necessário. Tínhamos um bom material de campo e todo curso era feito em bosques ou matas próximos a capital. Mordomia de Quartos, restaurantes e garçons só hoje. Paciência repito quem quer faz quem não quer manda.

               Quando cheguei a São Paulo não foi fácil fazer o mesmo. Muitos dirigentes que não simpatizavam com a minha pessoa. Tentei aqui fazer o mesmo para que as taxas fossem as mínimas possíveis. Muitos aqui no Facebook fizeram cursos comigo e sabiam que lá eram cursos Escoteiros de raiz, barato, no campo, barracas e cada patrulha cozinhando para si. Fui a várias cidades no interior paulista dar cursos. Sempre com a mentalidade de baratear ao máximo as taxas. O Chefe José Renato na época Comissário Regional pensava como eu. Quantas Assembléias fizemos na capital e no interior do estado com gasto mínimo? Sem essa de presentear pastas incríveis com distintivos, lenços, chapéus e o escambal. Era uma época que jovens  e chefes mais humildes tinham oportunidade de estarem nestas atividades Escoteiras que hoje infelizmente não podem. Hoje só se fala em taxa daqui, taxa dali e nenhum dirigente arregaça as mangas para conseguir facilidades melhores de participação. A UEB que o diga.

                Não sou muito de comprar ou promover vendas, negócios e outros que sempre tentam postar nos meus grupos. Desculpem quem posta, mas não posso aceitar o que é contra meus princípios. Acho que é por isto que sou um pobretão até hoje. Até para fazer uma prestação de contas pedia ajuda. Não sou bom nisto. Mas nunca deixei de mostrar uma nota fiscal autêntica se ela fosse paga pelo escotismo. Tudo bem para os que querem vender lenços, distintivos, uniformes, livros Escoteiros, barracas material de intendência e o  que me surpreende: - Locais para atividades e acampamentos. Afinal muitos precisam sobreviver e quem sabe isto é seu ganha pão. Mas não contem comigo. Até aceito os grupos que para sua sobrevivência fazem suas festividades de arrecadação financeira. Eu ainda sou daqueles chefes que dizem aos seus monitores: - Ou vamos todos ou não vai ninguém. Ou todos estão uniformizados por igual ou então não vestiremos uniforme. Afinal somos um só, somos e seremos sempre um por todos e todos por um.


                Acredito que nos dias de hoje ainda se pode fazer escotismo para pobre. Tenho certeza que se eu tivesse forças faria tudo novamente. Não bato palmas para dirigentes. Ele foi quem se ofereceu para atuar no cargo que está. Tem de fazer acontecer e não ficar se vangloriando para receber cumprimentos e as condecorações que muitas vezes deveria ter os mesmos direitos que o simples Chefe Escoteiro de uma unidade qualquer. Não é difícil fazer escotismo com meninos e meninas sem boas condições financeiras. Sabendo trabalhar tudo se consegue. Enfim, este é o escotismo que acredito. Mas aceito que os ricos paguem e participem só não aceito a tristeza do escoteirinho pobre que chorou por não poder participar.             

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