Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Dolce Amore
Mio ou I love you scout.
Ah! O amor! Ele aparece sem saber
qual a flor do jardim vai escolher para desabrochar. É lindo! Quem ama fica
diferente, esquece tudo do futuro do seu passado e passa a viver o presente.
Quem diria que um dia iria ver tudo isto no meu amado escotismo? A juventude
não tem fronteiras, não escolhe a hora nem o lugar para amar. Pensar que eu
poderia amar uma Escoteira na trilha dos Morcegos? Na vertente do Rio Pardo? Na
barraca suspensa presa em galhos altos na floresta do Roncador? Never! A gente
amava sim, de longe, vendo pela janela, ela sorrindo jogando seus cabelos para
um lado e outro e de olhos arregalados dizia: Amo você para sempre. Mas sempre
tomando cuidado com o pai ou a mãe dela. Hoje? Hoje é tudo moderno. Tudo
palatável, tudo vale na escala do tempo, que não deixa o vento levar os sonhos
de um grande amor. É como o belo poema de Drumond: - O Escoteiro amava a
Escoteira, que amava o sênior, que amava a guia, que sonhava com o pioneiro;
que não amava ninguém.
Vejo o mundo como vejo os
ventos soprando nas histórias que passam sem a gente ver que passou. Tudo
mudou. No campo não havia lugar para o amor. Havia lugar para o fogo amigo;
para festejar com um amigo querido, para sorrir com ele quando chegava sua
primeira classe, sua correia de mateiro, bater de frente para ver o sol
nascente, era bom demais. Amor? Sim pelo escotismo. Coração servia para
guardá-lo na mente, no abraço apertado, sorrir e fechar a chave o coração com o
amor preso nas entranhas do seu ser. Mas quem disse que isto não acontece hoje?
A meninada, a moçada ama sim o escotismo como a sí mesmo. Mas tem um lugarzinho
para ele ou para ela. Afinal amar não é a maior das distâncias percorridas,
capazes de manter o amor que originou uma nova alegria, uma sensação de bem
estar de viver, de sonhar? Não é logico como dizia o celebre viajante das
estrelas. Mas para eles tudo é logico, tem sentido, não tem como fugir, ir para
o campo? Armar sua barraca? Sem ele ou ela não tem razão de ser.
Não sei onde me situar, não
vivi esta experiência e nem sei até onde os resultados são compensatórios. Quem
sabe isto já é real? Sem a gente perceber, lá estão eles de mãos dadas, quando
podem um pequeno beijo, um abraço, um suspiro apaixonado. Mas e o escotismo?
Calma chefinho, dizem eles, aqui fazemos tudo de mansinho, não precisamos
correr. Sobejamente eu sei que nem todos estão assim a amar e ser amado, viver
sonhando enamorado, pensando em um futuro feliz. Até antevejo eles no proximo
milênio (muito?) vividos na trilha do tempo, amantes para sempre, filhos
correndo atrás. Pai, mãe! Quando vou poder entrar? O pequerrucho nem quatro
anos tem, mas sua foto com o lenço da Insígnia, com seu chapéu Escoteiro já
correu as páginas das redes sociais, já estão no Facebook, em um tal de Instagram
e tantos mais. Modernismo é assim. Já pensou ele apaixonado, correndo para todo
lado com sua patrulha, no alto da montanha com sua bandeirola vermelha e branca
triscando o infinito; manda mensagens através das nuvens distante para ela: -
Pensei em te mandar um beijo... Mas achei pouco e resolvi mandar milhões deles!
Te amo!
São coisas da nova
época. Época que não é mais minha. Está na hora de encerrar minhas horas extras
aqui na terra. Vem aí à homofobia, a aceitação de direitos. Afinal direitos são
para todos. Eles merecem, eles tem que ter seu lugar ao sol e eu aplaudo. Bem
vindos os novos irmãos Escoteiros. A UEB custou, mas reconheceu. Nota dez! Mas
fico aqui pensando, no acampamento na caverna do urso, dois seniores de mãos
dadas, um olhando para o outro, olhar lânguido dizendo: Te amo! E elas? Acharam
um cantinho lá na trilha do destino, abraçadas vendo a vermelhidão amarelada do
por sol a dizer: - Eu espero que a vida seja o suficiente para te mostrar o
quanto te amo. A vida é assim renhida difícil, temos que vivenciar o novo
mundo, a nova era. Afinal se você ama não faz a
menor ideia de como eu sou feliz ao seu lado. E eu não tenho a menor ideia de
como explicar. Eu te amo! Se sofro é por que amo você! Sofrer? Que isto? Não
podemos sofrer por amor. Se o amor é lindo, temos a obrigação de ser feliz. Mas
lembremos sempre, os sêniores de mãos dadas, as pioneiras abraçadas que BP já
dizia: A verdadeira felicidade é fazer o seu amor feliz! Não foi assim? que
seja.
Preciso bater o cartão do
tempo. Minhas horas extras vão se exaurindo. Preciso ir para as estrelas. Estou
a pensar BP escondido lá no céu, em uma estrela brilhante, sentado em um
foguito amigo, em volta centenas de modernistas, valorosos politicamente
corretos, dirigentes abstratos sem mostrar o seu recato, contando pataquadas do
que fizeram. E ele BP de olhos fechados, tentando sorrir sem entender os novos
chefes chegados, eles sorrindo por todo lado. Ele enruga a testa olha para uma
estrela mais distante e fica a pensar: - Deus meu, saudades de Mafeking, dos
meus amigos Ashantís, de Olave, da vida em Paxtu minha linda casa no Quênia, de
Brownsea, saudades de Gilwell Park, agora isto? É difícil aguentar. Pois é, afinal
sofrer faz parte até no além. Melhor não ficar ali, pois humildemente ele
poderia dizer: - Santo Gral, onde amarrei minha égua?
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